20 de julho de 2014

AMOR O AVESSO DA VIDA

Algum tempo venho pensado muito sobre o que é viver e se o amor tem alguma relação com a vida. Depois de viver muito e experimentar no corpo e na alma esse sentimento, cheguei a seguinte conclusão: A vida explora e o amor é explorado. São antagônicos, incompatíveis, mortais inimigos. No dia e na hora em que isto compreender, melancolia profunda te envolverá a alma e angústia imensa te invadirá o coração. Procurarás fugir deste mundo imperfeito e paradoxal, porque não podes amar sem viver, nem queres viver sem amar.

Entretanto, viver é lutar e amar é ser imolado. Para conquistar o espaço vital, é necessário matar o vizinho e para amar é necessário deixar-se matar. Nós temos uma lei e segundo a lei ele deve morrer! Crucifica o Cristo e solta o ladrão Barrabás! Crucifica o amor e põe em liberdade o explorador.

A vida é violenta, cruel, sem coração; afirma-se à custa da força, da violência física e moral o crepitarem da metralhadora ao furor mortífero das palavras afiadas e cortante, que detona o espírito mais generoso e benevolente. A luta pela existência elimina impiedosamente o que é fraco e conserva o que é forte, sendo que o mundo material possa envolver-se conservando os mais fortes.

O amor ampara o que é frágil, abraça o que é imperfeito, acolhe o serzinho enjeitado, agasalha o órfão anônimo, enxuga as lágrimas da viúva, pensa as chagas do leproso, oscula os farrapos do mendigo, volta às costas ao que é forte e feliz e busca sempre o que é fraco e infeliz. O amor é o avesso da vida. É a face noturna dessa vida que folga aos fulgores da zona diurna. É a fuga do zênite e a demanda do nadir da existência humana.

A vida mata para não morrer. O amor se deixa matar para que o outro possa viver. O amor cede ao outro o seu lugar ao sol e submerge nas sombras dele mesmo. Só pode ter amor o homem que se libertou da escravidão da matéria. Independência ou morte! Ou proclamar a soberania do espírito sobre a brutalidade da matéria ou então o amor assassinado pelo egoísmo da vida. O amor é a mais poderosa afirmação do espírito. É uma antecipação da suposta vida eterna, onde será absoluto o domínio do espírito.

Portanto, quando terminar esta vida mortal, sucederá à atual desarmonia para reinar a mais perfeita harmonia entre o amor e a vida que já não existe mais. Mas, ficará na lembrança a memória do amor que desafiou a vida. Não haverá mais explorador e nem explorado. Celebrarão o amor e a vida um tratado de paz e cantarão a sinfonia da grande e imperturbável felicidade. Se a vida for eterna. O amor será imortal.

Um comentário:

  1. Celebrarão o amor e a vida um tratado de paz e cantarão a sinfonia da grande e imperturbável felicidade. Se a vida for eterna. O amor será imortal....Maravilhoso, parabéns, só você para falar tão lindo assim sobre o que nos move e impulsiona nossa a vida.... o amor....bjus

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