29 de junho de 2014

AMAR É CAMINHAR SOBRE ESPINHOS

O que sentimos no fundo da alma por uma pessoa, está no desejo ou no amor? Será que desejo e amor se confundem? Para Platão (427-347), não importa, pois, esse deve ser o ponto de partida para um caminho ascendente de contemplação intelectual ou espiritual por essa pessoa. Argumenta ele que é como ir subindo vários degraus: A função do desejo e do amor na alma humana é impulsionar em direção ao alto, em direção à contemplação da beleza em si mesma, eterna e incorruptível.

No entanto, o que Platão nos mostra é que o amor é um caminhar sobre espinhos, uma loucura e um arrebatamento, mas não deve servir apenas à satisfação dos desejos inferiores da alma. Ele pode e deve envolver jogos eróticos, como carícias, beijos, toques, mas tudo isso no campo das ideias. Como muito bem ensina o Tantra Hindu. Os rituais desses encontros envolve a aproximação muito lenta do homem com a mulher, aproveitando cada passo, sentindo cada pequeno gesto, olhar, sorriso e contato físico. Uma forma sábia de prolongar estes momentos prazenteiros é viver em eterna delícia. Esta é a essência da mensagem Tântrica, que Platão afirma no mundo das ideias.

Procurar por esse amor estará sujeito quase sempre a encontrar prazer e dor como diz nos diálogos de Platão sobre o amor. É nas relações afetivas que essa combinação paradoxal surpreende e fere, acima de qualquer sensação física. Nesse envolvimento passional as impressões subjetivas sutilmente superam a racionalidade, igualando paixão e amor. Sentimentos que se confundem no coração, mas distinguem-se no cérebro. Pode-se dizer que no porque e no apesar estão as diferenças semânticas que a emotividade não explica. Só as almas conhecem e conversam telepaticamente, ultrapassando a temporalidade.

Apaixonamo-nos porque o ser amado parece ter virtudes só visíveis aos nossos olhos. Amamos quando descobrimos que, apesar de aparentes as virtudes e ostensivos os defeitos, predominam a confiança e a compreensão. Tendo em vista que na paixão, está o princípio da dor e no amor está o princípio do prazer. Confundir a natureza desses sentimentos é misturar prazer e dor. Com a paixão vem à posse, o ciúme e a cobrança. Com o amor ficam a admiração, o respeito e a lealdade, formas de amar que poucos reconhecem. Nenhum relacionamento sobrevive sem esses ingredientes que decorrem não do arrebatamento – atributo da passionalidade insensata – mas da razão, atributo da maturidade racional.

Entretanto, nos desdobramentos da paixão, o amor e o ódio encontram-se e repelem-se, para negar e consentir no trânsito entre o amor e o não amor à simpatia; entre o ódio e o não ódio, a antipatia; entre o não amor e o não ódio, a insegurança. Regidos por essas forças, os relacionamentos pessoais, familiares ou sociais, aproximam-se ou distanciam-se num oscilar contínuo, mediados pela sinceridade, pelo carinho, pela solidariedade, tanto quanto pela mentira, pelo desprezo ou pelo egoísmo.

Portanto, enquanto houver uma alma apaixonada, o cérebro e o coração dividirão a soberania das emoções, confundindo paixão e amor. Não existe outra forma de descobrir o amor e, sem ele a vida não tem significado. Contudo, desejo aos jovens que não amadureça depressa demais e sendo maduro, não insista em rejuvenescer, e que sendo velho não se dedique ao desespero. Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e é preciso deixar que eles escorram por entre nós. Continuamente vemos novidades, diferentes em tudo da esperança; do mal ficam as mágoas na lembrança e do bem, se algum houve, as saudades.  

Um comentário:

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Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...