9 de dezembro de 2012

O OUTRO LADO DA MOEDA

Reduzir o pensamento do economista e filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) ao materialismo dialético é um grande equívoco, na visão de estudiosos contemporâneos. Todavia, antes mesmo da concepção de sustentabilidade e das preocupações ambientais modernas, Marx já escrevia sobre a necessidade de cuidados com a natureza. Para ele, o homem é parte integrante dela. Entretanto, esses conceitos dividem opiniões até hoje. Só não é mais difundida e discutida por causa de interpretações enviesadas de muitos de seus discípulos e críticos, até mesmo pela falta de contextualização dos seus estudos. Contudo, quando o mundo ainda não tratava da sustentabilidade, Marx já falava em outras palavras sobre a importância do consumo consciente e de uma economia equilibrada, da justiça social e da manutenção da qualidade do meio ambiente.

Os conceitos expressos pelo filósofo Marx nos remetem aos temas hoje muito discutidos, de desenvolvimento sustentável, mudanças climáticas e aquecimento global, que surgiram principalmente a partir dos anos 1970. O modelo de desenvolvimento proposto, desde os primórdios da Revolução Industrial, no século XVIII, é considerado como um elemento importante a ser revisto no mundo contemporâneo, desde aquela época (O Capital – 1867). As reflexões de Marx se sobressaltam, aproximando-o de questões ambientais e de qualidade de vida, diante das quais podemos concluir que as discussões que assolam nossos dias e que abordam consumo excessivo e poluição, já eram uma preocupação para o filósofo, no século XIX.

Fazemos parte de um mesmo planeta, do mesmo ecossistema e nada mais justo do que nivelarmos por cima e equilibrar a economia e melhorar em termos de qualidade de vida e de justiça social. Devolvendo a dignidade de um povo, onde uma parcela significativa vive abaixo da linha de pobreza, na mais extrema miséria. Por que estou puxando para esse contraponto dos estudos de Marx?  Exatamente, para dizer que o capitalismo não é tão nefasto com muita gente diz ou imagina. Hoje já existem estudos, que mostram como é possível combater a desigualdade social e equilibrar a distribuição de renda.

Ao contrário do que muita gente diz o capitalismo não é algo horrível. Na verdade, um dos melhores sistemas que a humanidade tem até hoje é exatamente o capitalismo, isso não significa que talvez não surja um novo sistema que seja melhor do que o capitalismo. No feudalismo, que foi um sistema que precedeu o capitalismo, os vassalos (servos) nasciam pobres, viviam na pobreza, morriam pobres e seus descendentes teriam como herança unicamente a pobreza de seus ancestrais, isso porque no feudalismo não existia ascensão social, as pessoas que fossem pobres seriam pobres para sempre, tantos aqueles quanto seus descendentes, enquanto vivessem.

Wallace D. Wattles (1860-1911) escreveu um livro interessante “A Ciência de Ficar Rico”. Esse livro foi inspirador na obra O Segredo, de Rhonda Byrne (1951), do chamado Movimento do Novo Pensamento. Wattes foi um homem que passou grande parte da sua vida por dificuldades financeiras. Depois de estudar muito Filosofia e Religião, começou a pôr em prática a técnica da visualização criativa e a escrever acerca do Novo Pensamento, atividades estas que lhe trouxeram bastante sucesso e segurança financeira.

Wattles argumentava: “o que quer que se diga em louvor da pobreza, o fato é que não é possível viver uma vida realmente próspera e de sucesso quando não se é rico. Ninguém consegue chegar ao mais alto patamar do talento ou do desenvolvimento espiritual sem ter dinheiro suficiente. Para despertar espiritualmente e desenvolver o talento, deve-se ter muitas coisas e não se pode tê-las sem dinheiro para comprá-las. Contudo, uma pessoa desenvolve-se mental, espiritual e fisicamente usando coisas materiais, e a sociedade é organizada nesse sentido, para que tenhamos dinheiro e posses. Portanto, a base de toda evolução deve ser a riqueza. O objetivo de toda vida é a evolução, e tudo que vive tem um direito inalienável a toda evolução que é capaz de ter. O direito pessoal à vida é o direito de ter livre e irrestritamente o uso de todas as coisas materiais necessárias o seu total desenvolvimento mental, espiritual e físico; ou seja, o direito de ser rico".

Entretanto, além do feudalismo tivemos na história também a ideia de comunismo em que as pessoas tinham a mesma quantia em dinheiro, vestiam o mesmo tipo de roupa, com exceção do líder que podia ter tudo o que quisesse. Isso é ruim, porque as pessoas não são iguais, imagine você vivendo num mundo onde não pode se desenvolver, onde por mais que se esforce nunca vai ganhar um dinheiro a mais? Isso tem pouca diferença com o feudalismo. No caso de um regime político chamado Monarquia, você vale o quanto agrada o Rei, dessa forma o Rei pode decidir a qualquer momento que você fique pobre ou rico dependendo da vontade dele, pois em uma monarquia não existe cidadão, existem súditos, todos os habitantes do país são súditos e a ideia de súdito é a de propriedade do Rei, ele faz contigo o que ele bem entender.

O lado bom do capitalismo, segundo o administrador e empresário Diego Gualhardi, é que se você nasce pobre, certamente poderá tornar-se rico, evidentemente, com o seu esforço e trabalho, só assim terá o suficiente em dinheiro para continuar a sua vida. O lado ruim é que se você nasce rico, pode tornar-se pobre do dia para a noite, caso não faça uma boa administração do seu dinheiro. Esse é o lado cruel do capitalismo, porque a queda é rápida demais e fatal para o rico.

Por outro lado, com o advento do capitalismo veio a necessidade de podermos evoluir intelectualmente e economicamente sem ter que dar contas a nenhum soberano, o lado ruim é que o capitalismo estimula a competição já que todos podem se tornar pobres e todos podem se tornar ricos. O mal do capitalismo é que valemos pelo que ganhamos e temos, mas o lado bom é que sempre vamos nos alimentar exatamente daquilo que produzirmos e não menos que isso. Não estou defendendo o capitalismo e nem negando a sua importância, estou mostrando o outro lado da moeda que poucos conseguiram ver até hoje. Na verdade, quais eram as preocupações de Marx?

Para o sociólogo e doutor em história Marcos Lobato Martins, na sua obra “História e Meio Ambiente”, diz que seria um equivoco colocar Marx entre os adeptos do paradigma de que os seres humanos estão imunes aos fatores ambientais e econômicos. Outro que também enfatiza essa questão ambiental e o equilíbrio social é o cientista e sociólogo John Bellamy Foster, ao afirmar que o capitalismo sujeitou os países e os governos das cidades. O capitalismo criou cidades enormes, aumentou muito a população urbana em comparação com a rural e, assim, resgatou uma parte considerável da população urbana em comparação da idiotia da vida rural – idiotia que deriva do grego idiotes, que significa o cidadão que foi excluído da vida pública. Na visão marxista, a palavra idiotia tinha exatamente essa conotação de exclusão. Havia sim, por parte de Marx, uma preocupação com os cuidados em relação ao meio ambiente, como a sustentabilidade através de uma economia equilibrada e com justiça social. Todavia, quando comparamos tudo isso ao capitalismo com outros regimes políticos e econômicos, como no caso do feudalismo, da monarquia, do imperialismo, do comunismo, isso nos traz uma certa alegria, de hoje vivermos no regime capitalista.
 
Portanto, o potencial do homem, para Marx é um potencial dado. O homem é por assim dizer a matéria prima humana e como tal não pode ser modificada. Todavia, o homem de fato muda no decurso da história, ele se desenvolve e se transforma, ele é o produto da história. Como seu próprio produto, ele faz a história. A História é a história da autor-realização do homem, ele nada mais é que a autocriação por intermédio de seu próprio trabalho e produção. Como diz Erich Fromm: “o conjunto daquilo a que se denomina história do mundo não passa de criação do homem pelo trabalho humano e o aparecimento da natureza para o homem; por conseguinte, ele tem a prova evidente e irrefutável de sua autocriação, de suas próprias origens”. Contudo, o homem é autor e ator da sua própria história. Assim como todas as Igrejas de denominação Cristãs são ricas, nós, como filhos de Deus também temos direito à riqueza. Esse é o Novo Pensamento.

Um comentário:

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...