15 de dezembro de 2012

A VOLTA AO PRIMEIRO AMOR

Aprendi com a oração Pai Nosso e com a própria experiência, que o primeiro amor da minha vida sou eu. Só assim vou poder amar verdadeiramente o meu próximo. O que significa isso no contexto da nossa vida? Amar o próximo como a mim mesmo? Então, eu devo amar a mim mesmo? Não me devo odiar? Mas, se eu amo a mim mesmo, isto não é egoísmo? Não é amor próprio?

Sim, amar a si mesmo é amor próprio, mas, não é egoísmo. Amor próprio é autoamor incluindo amor ao próximo. Todos os grandes mestres e iluminados mandam que o homem ame os outros como ama a si mesmo. Todos recomendam o autoamor como ponto de referência para amar o seu próximo.

Quem não tem autoamor não existe enquanto pessoa. Ausência de autoamor é inexistência e negação à vida. Se o meu Eu central não fosse Deus, não poderia eu amar sem ser egoísta. Se o meu Eu não fosse idêntico ao Deus no Outro, não poderia eu amar o Outro. Se Eu e o Pai não fôssemos um, como poderia eu amar a Deus com toda a minha alma, com todas as minhas forças?

Todo o amor verdadeiro é autoamor, porque Téo é amor, palavra grega, que significa Deus Amor. E esse Deus Amor também é o Tu amor, segundo o filósofo e escritor Martin Buber (1878-1965), Eu e Tu. Por isso posso amar o Deus no Eu como amo o Deus no Tu, assim como também amo o Deus em Tudo.

Quem vê Deus em tudo pode amar tudo em Deus. O Deus do mundo no mundo de Deus. Mas, como poderia eu amar o Deus em si, se não conheço o Deus em mim? Conhecer a verdade em mim é conhecer o Deus da verdade. Todo verdade é verdade de Deus, quero dizer: “a verdade de Deus é toda a verdade”. Haverá quem se surpreenda ao saber que mesmo João Calvino (1509-1564), teólogo cristão escreveu: “Se considerarmos que o Espírito de Deus é a fonte da verdade, jamais recusaremos ou desprezaremos a própria verdade, onde quer que ela venha a aparecer”. Verdade é liberdade e no contraponto, liberdade é felicidade. Por isto, orava Santo Agostinho (354-430): “Deus, conheça eu a ti, para que me conheça a mim”.

Entretanto, quem conhece o seu Eu central e não apenas o seu ego periférico como argumenta o filósofo, educador e teólogo Humberto Rohden (1893-1981), esse conhece Deus. Por isto, dizia o Mestre: “Amarás o Senhor teu Deus”. Curiosamente, a palavra Eu está contida na palavra D-EU-S. Como poderia eu amar a Deus que não estivesse em mim? E como poderia amar o Outro sem amar o Eu? Deus no Eu e Deus no Outro.

Portanto, se queremos pensar em Deus. Ora, Deus é um pensamento, é um nome, é uma ideia, mas que se refere a algo que transcende qualquer pensamento. O mistério supremo do Ser está além de toda a categoria de pensamento. O filósofo e historiador de artes, Heinrich Zimmer (1890-1943) argumenta: “As melhores coisas não podem ser ditas. Porque elas transcendem o pensamento. A segunda das melhores coisas, são mal compreendidas, pois são pensamentos que se referem ao que não pode ser pensado. E ficamos presos com os pensamentos. E finalmente, a terceira das melhores coisas, são simplesmente as que nós falamos”. São essas metáforas que nos dão pistas de coisas absolutamente transcendentais. O que não pode ser conhecido. Ou que não pode receber um nome. Exceto na nossa frágil tentativa de revesti-los com a linguagem. Contudo, na nossa linguagem, a palavra para designar o que há de mais transcendental é Deus. 

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