5 de outubro de 2012

A VIDA É UMA CRÔNICA

A palavra grega chronos, que significa tempo. Todo acontecimento que ocorre dentro de um tempo e espaço, que podemos observar e registrar vira história. Assim como fotografar quando saímos para um passeio, não deixa de ser um registro histórico, ocorreu numa determinada época da nossa vida. Fato esse, que consideramos como um relato cronônimo, que é um designativo de divisão do tempo. Que também pode implicar numa experiência de amor vivida por alguém e que, eternizou uma época da sua vida, daquelas que marcam profundamente a sua existência, assim, como a história de amor vivida por Romeu e Julieta.

Na crônica da vida, são tantos os relatos que muitas vezes sentimos medo de viver e de se entregar. Sentimos medo até do amor que podemos experimentar. Quem não quer viver um grande amor? É difícil achar alguém que não queira, mas às vezes falta coragem para tanto. As pessoas estão sempre à espera deste amor fantasia, com gosto de Walt Disney, de maçã verde e cereja no canto da boca. Ou gosto de lágrimas que serão secadas com os lábios ou com os olhos aflanelados de quem está apaixonado. Sempre esperamos do outro, embora o medo seja só nosso.

Viver com medo é viver pela metade, mas não enxergamos dessa maneira. Todos nós queremos esse amor estrela, que vai povoar nossos sonhos e encher nossas cabeças com partículas da atmosfera. Mas que também vai descer a terra para descascar cebola, lavar pratos, fazer compras no supermercado e dar xarope na hora da tosse. Vamos fingir que viver não da trabalho.

Todo mundo quer e pouca gente tem. Todo mundo procura, pouca gente acha, e às vezes quando acha, joga no lixo da primeira esquina. Tudo isso é medo de viver. Só porque receia ter um elevador na barriga quando descobre a possibilidade de estar apaixonado. Medo de sentir aquela bateria de escola de samba no coração no momento do encontro. Qual música escolher para selar esse pacto de que seja infinito enquanto dure, entre os amantes? Simplesmente, porque a música nos faz lembrar e nos remete no tempo e na história dos acontecimentos. Comumente, o outro se torna o meu espelho, sobretudo, quando olho para seus olhos e vejo os meus refletidos como se fosse uma pérola de brilhante.

Como diz o autor da música sem companhia, Paulo César Pinheiro, na voz da saudosa Clara Nunes: “Tudo que esperei de um grande amor era só juramento que o primeiro vento carregou. Outra vez tentei, mas pouco durou. Era um golpe de sorte que um vento mais forte derrubou. E assim de quando em quando eu fui amando mais. Passai por ventos brandos. Passei por temporais. Agora estou no cais onde há uma eterna calmaria. Eu não aguento mais viver em paz sem companhia”.

Talvez porque não quis comprar champanhe no momento em que o corpo do outro desejava ser taça, assim como não quis subir a montanha russa e sacolejar no espaço vazio. Por que não se aventurou a experimentar um prazer maior do que já teve? Será que foi por medo de perdê-lo e não se acostumar com pouco? Por que não quis tentar ser feliz? Só por que dizem que a felicidade dura pouco? Além do medo, passamos muito rápido pela vida, mas registramos tudo pelo pouco que vivemos.

A gente se acostuma com o que aparece no lugar do amor maior, mesmo porque este aí não da em árvore. Engolimos sapos que nunca vão virar gente, muito menos príncipes e princesas, só que da trabalho revirar o brejo ou procurar o pé da Cinderela, para calçar o sapato velho que temos guardado há tanto tempo. Compreender que o mundo é uma grande lagoa cheia de sapos coaxando fora do tom e há que se ter ouvidos bons para escutar uma nota certa.

Encontrar alguém para caminhar juntos, é necessário perder o pavor de parecer ridículo aos olhos daquele que subestima. Pelo fato de falar sozinho, de rir por nada, de escrever versos doidos e textos sem pé e nem cabeça, de fazer papel de criança e até de louco às vezes. Ser capaz de emocionar com o passarinho bem-te-vi que canta feliz, de ser sonhador e acreditar que é possível virar essa pagina, de correr riscos, sair da rotina, dar cambalhotas e apanhar beijos no pé da fruta mais cobiçada do pomar. A nossa maior imperfeição é criticar o outro por fazer diferente. Porque é nele que projetamos as nossas fraquezas.

Portanto, a vida é uma crônica, escrita a todo o momento na história de cada um. Temos que ter a consciência de ser solidários, infantis, amadurecidos, saber andar na corda bamba, dar flores, falar bobagens, entender de coisas sérias e sobretudo, não ter medo de errar. Conta a sabedoria oriental, que certa vez um monge tibetano, criou coragem e resolveu tirar uma dúvida com o seu mestre. Então perguntou: “mestre como faço para me tornar um sábio?” Respondeu o mestre: “Boas escolhas”. O discípulo fica pensativo por alguns instantes e depois torna a perguntar: “mas como fazer boas escolhas?” “Experiência”, diz o mestre. Por alguns segundo o monge pensa e torna a perguntar: “e como se adquire experiência, mestre?” “Más escolhas”. 

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