13 de outubro de 2012

A DOR NOSSA DE CADA DIA

Nós seres humanos vivemos em um mundo de bem e mal, e isto torna nossas vidas dolorosas e complicadas na maioria das vezes. Não somos respeitados como gostaríamos de ser. Nossos direitos de cidadãos são negligenciados, mas temos deveres a cumprir, se quisermos continuar na honestidade. Muitas vezes perdemos até a nossa dignidade e, tudo isso nos causa dor e angústia. Não é o que acontece com os animais. Suas vidas são muito mais simples, sem os problemas morais e as decisões morais que nós humanos temos que enfrentar. As categorias bem e mal na verdade não existem entre os animais. Eles podem ser limpos ou sujos, obedientes ou desobedientes, porém, não podem ser bons ou maus. O termo como cachorro bom ou mau não se referem ao valor moral daquilo que os cães escolheram fazer, mas apenas ao fato de serem convenientes ou inconvenientes para nós, assim como temos tempo bom ou tempo ruim.

Para usarmos um termo que ninguém antes da nossa geração poderia entender, os animais são geneticamente programados. Instintos inatos dizem-lhes quando comer, quando dormir, quando a fêmea está no cio e exala o seu odor. Seguem seus instintos e têm muito poucas decisões difíceis a tomar. Nós seres humanos, contudo, não temos similares no mundo das criaturas vivas. Segundo os ensinamentos bíblicos a nossa imagem e semelhança de Deus permitem-nos com base na moral, dizer não aos instintos. Podemos deixar de comer mesmo que estejamos com fome. Assim como podemos abster-nos do sexo mesmo quando nossos instintos estão excitados, não por temor de sermos punidos, mas porque entendemos os termos bem e mal de maneira diferente dos animais.

A história da vida dos humanos é de elevação acima da natureza animal e da aprendizagem do controle dos instintos através da moral. É assim porque pensamos, ou seja, porque temos a faculdade da razão, do entendimento. Enquanto o sexo e a reprodução são naturais e não problemático para todos os animais, para os humanos é marcada de dor e angústia. Basta às fêmeas entrarem no cio, os machos são atraídos por elas e a espécie é preservada. Nada podia ser mais simples. Agora compare isto às tensões sexuais existentes entre nós seres humanos.

Vamos pensar na adolescente que espera a atenção do garoto, sentindo-se ignorada e pouco atraente, o garoto que não consegue concentrar-se nos estudos, acariciando a ideia de suicídio porque a namorada rompeu com ele. A moça solteira que engravidou e não aceita o aborto, porém, não está certa sobre que outra decisão tomar, tendo em vista que os pais não a apóiam. A esposa profundamente deprimida porque o marido a deixou por outra mulher. As vitimas de estupros, os produtores de filmes pornográficos, a banalização e promiscuidade sexual. Tudo isso tão simples e direto para os animais, é tão doloroso para nós (a menos que nos comportemos como os animais), porque conhecemos o mundo do bem e do mal.

Por outro lado da dor, também existe a delicia de sermos humanos. Uma relação sexual pode significar infinitamente mais para nós do que para os animais ou para alguém que veja no sexo apenas um instinto a ser satisfeito ou somente para reprodução. Pode significar ternura, afeto mútuo, entrega responsável, um sentimento que transcende e revela a divindade. Os animais acasalam e se reproduzem. Só aos seres humanos é dado o saber o que é o amor, com toda a dor que o amor às vezes nos envolve. Como dizia o poeta e compositor Vinicius de Moraes: “são demais os perigos desta vida para quem tem paixão”.

Finalmente, todas as criaturas viventes estão destinadas e programadas geneticamente para morrer, porém, só os seres humanos vivem no vale da sombra da morte. Os animais protegem-se instintivamente contra as ameaças a suas vidas e ao seu bem estar, mas não sabem que vão morrer. O conhecimento desse fenômeno de que um dia morreremos muda completamente nossas vidas de muitas maneiras. Leva-nos a tentar fraudar a morte pela realização de algumas coisas que nos faça sobreviver. Por exemplo: “tendo filhos, escrevendo livros, exercendo um impacto sobre nossos amigos e vizinhos para que se lembre de nós, se possível com admiração”. Contudo, nos faz valorizar as coisas boas que fazemos. Como visitar uma amiga ou um amigo na casa de repouso aos finais de semana. Ler um livro, levar palavras de conforto a uma pessoa doente, apreciar o nosso contato com a natureza. Isto significa fazer parte da humanidade, a imagem e semelhança de Deus. Significa saber que algumas opções são boas e outras não, cabendo a nós compreender as diferenças.

Portanto, finalizo essa reflexão com uma citação bíblica que certamente nos aproxima da dor nossa de cada dia: “os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra ti que te propus a vida e a morte, o bem e o mal escolhe, pois, a vida é para que vivas” (Deuteronômio 30, 19). Pense que isto não poderia ser sido dito a nenhuma outra criatura vivente, a não ser a nós humanos, que temos a liberdade de escolha. Buda disse nos seus ensinamentos que o homem só pode salvar-se do sofrimento se despertar de suas ilusões e dar-se conta de sua realidade. Despertar com o mundo e livra-se dos preconceitos. Contudo, a filosofia nos ensina que o ser na medida em que é considerado pela inteligência é uma verdade e, na medida em que é desejada pela vontade é, um bem.             

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