3 de outubro de 2012

A PRIMEIRA SEPARAÇÃO DO AMOR

O amor nasce com o surgimento da própria vida. Antes mesmo de nascer, experimentamos no útero materno sensações de extremo conforto e acolhimento, que coincidem com o prazer proporcionado pela paixão e que procuramos repetir pela vida afora, sempre buscando no outro.

Com o amor é igual tanto quanto se está dentro do útero, quando se está apaixonado por alguém passamos a nos sentir protegidos, envolvido por uma sensação de prazer, de ausência de qualquer necessidade é, como se o outro fosse a minha pele, sinto-me protegido. Para sentirmos isso, não precisa de muita coisa, basta estar ao lado da outra pessoa, para nos acharmos completos e protegidos. Essa sensação de completude vivida na paixão é muito parecida com aquela experimentada durante a gravidez.

Quando a criança nasce ocorre à primeira separação do amor. Ela sai de uma situação de conforto e proteção, para enfrentar o mundo que, num primeiro contato, se apresenta para ela de forma gelada, gerando uma sensação de desproteção e abandono que coincide com aquela que ocorre quando acaba um relacionamento amoroso, fica um vazio, abre um buraco no chão onde pisamos, parece um abismo. A vontade que se tem é de voltar ao útero materno. Temos a impressão de que nunca mais voltaremos a sentir tudo aquilo de novo. E isso provoca um sentimento de perda e de desespero, a chamada “dor do amor”.

Todavia, esse sentimento não implica só numa perda, mas numa dor, que é a maior de todas as dores. Não há dor que se compare a esta, causada pela separação do amor. Não é só algo dos poetas, não é só quem fala de amor como os filósofos, de uma maneira geral, que consegue perceber isso. Todos que estão apaixonados, que se entregam de verdade, correm o risco de sofrer a dor do amor.      

Entretanto, parece que todos nós nascemos com uma espécie de “tatuagem invisível” da primeira dor de amor. O momento da separação de uma situação ideal que, ao longo da vida, sempre tentamos repetir. Só que precisa ter muita coragem para tal ousadia, depois de sofrer a dor do amor, conseguir amar novamente não é uma tarefa fácil. Por conseguinte, todos nós nascemos, em tese, com dificuldade de amar. Ficamos sempre na expectativa de que o outro se mostre apaixonado e interessado primeiro por nós, para certificar de que não vamos sofrer a dor do amor. Isto é péssimo para os amantes e, impossível de constituir-se numa relação estável, onde a dor do amor não seja inevitável. Não temos essa certeza. Quem pode garantir que vai dar certo ou não?

Portanto, quando a gente encontra alguém que nos olha com encantamento, admiração, interesse e gosto, desperta em nós espontaneidade e solicita aproximação. O estado mais gostoso da vida é quando esse amor aparece. Porque quem eu amo torna-se o meu Guru. É com esta pessoa que tenho que aprender coisas da vida, trocar abraços e caricias. São essas necessidades vitais, importante e fundamental para a nossa sobrevivência. Concluo essa reflexão com uma frase do poeta Vinícius de Moraes, que traduz bem esse sentimento: “Que não seja imortal posto o que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”.     

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