20 de outubro de 2012

A CRISE EXISTENCIAL QUE NOS ABATE

Diz Spinoza (1632-1677) em sua Ética: “a emoção que é sofrimento deixa de ser sofrimento no momento em que dela formarmos um ideia clara e nítida”. Vale para aqueles não conseguem se encontrar no apoio espiritual, contudo, a probabilidade de sucumbir interiormente e decair física e psicologicamente aumenta cada vez mais. Geralmente essa crise se configura muito entre os jovens e em algumas pessoas idosas, cuja vida para eles já perdeu o sentido. Aquele jovem que está sempre de mau humor, que se mete no quarto e não quer saber da vida. Tem lá o seu som. O quarto é um chiqueiro. Ele não quer que entre ninguém, não faz nada e não quer nada. Não se sabe exatamente o que está fazendo ou pensando. Mergulhado numa crise de angústia, ele se nega a tomar qualquer medida em prol de si mesmo. Ele entrega os pontos. Conheci uma pessoa que entrou numa depressão tão profunda, que ficava deitada nas próprias fezes e urina. Ela se negava a viver, pois não havia mais nada na vida que lhe interessava.

O neurologista e psiquiatra Victor Frankl (1905-1997), médico austríaco fundador da escola da Logoterapia, que estuda o sentido existencial do individuo e a dimensão espiritual da existência. Frankl ocupou na Faculdade de Medicina da Universidade de Viena, a cadeira de psiquiatria que foi ocupada por Freud. Criou a Escola Existencial de Psicanálise, com varias publicações internacionais. Fugindo da perseguição nazista foi morar nos Estados Unidos, onde recebeu apoio para prosseguir em suas experiências e estudos.

Em seu trabalho na Universidade começou a observar os jovens que lá cursavam e espantou-se com o número elevado de jovens neuróticos. Desajustados completamente, mergulhados numa angústia da qual ele não sabia explicar a causa. Constatando isso, procurou usar o esquema freudiano de interpretação das neuroses, dessa ansiedade, imaturidade e obsessão. Mas essa interpretação não o satisfez. Freud afirmava que uma neurose surge a partir da repressão do instinto sexual, da libido. Frankl concluiu que não era esse o motivo da neurose existente naqueles jovens, pois a moçada se pegava numa boa sexualmente, não reprimia nada, todo mundo ali estava solto sexualmente e muito a vontade. Aparentemente não havia razão para neurose.

Não encontrando resposta nessa teoria Frankl buscou outra explicação. Procurou a interpretação de Alfred Adler (1870-1937), fundador da psicologia do desenvolvimento individual. A qual afirma que a neurose é causada por um bloqueio no impulso de auto-afirmação, portanto, um problema de personalidade. Ou seja, o jovem não é aceito, não se afirma, não se promove nem se destaca e ai se instala a neurose. Essa teoria adleriana também não satisfazia as hipóteses levantadas. Os estudantes das Universidades Norte Americanas eram jovens que se destacavam, com muita chance de projeção social. Eram numerosas as oportunidades de empregos e de destaques no mercado profissional. Por que, com tantas chances de realização aqueles jovens ainda eram neuróticos? Entretanto, não podia ser pela frustração do impulso de auto-afirmação. Esta teoria também estava descartada.

Acreditando que poderia existir outra causa para as neuroses espalhadas naquela juventude, Frankl começou a observar mais profundamente. Por que essa angústia, de onde ela vem? Por que essa insatisfação com a vida? Não se entende com os pais, não faz amizades duradouras. Refugia-se nas drogas, nas bebidas e na prostituição. Dificilmente consegue levar um relacionamento afetivo a sério. Estão sempre enturmados e arrumando encrenca o tempo todo. Através dessas indagações Frankl descobriu que essa juventude não tinha um sentido existencial. Os pais não haviam passado para aqueles jovens o sentido da existência.  

Explorando mais esse filão, chegou-se a conclusão de que o ser humano nasce com um impulso e uma vontade. Com um desejo que Frankl chamou de significação, um impulso de busca do sentido da existência. Se não damos para nossos filhos um sentido da existência, eles passam a ter uma angústia de uma fome não saciada. Quando esse impulso não é satisfeito, se instala uma neurose de angústia, de ansiedade, que faz o nosso jovem não gostar de nada, invariavelmente está insatisfeito até consigo mesmo. Ele se sente perdido num vazio existencial desses impulsos não satisfeitos. Entretanto, este jovem está cheio de interrogações não respondidas. Esse quadro, Frenkl denominou de neurose noógena. Do grego noos que significa: mente. Na verdade, uma doença do espírito, isto é, da alma. Assim nasceu a Logoterapia, um método de tratamento psicológico. A terapia da alma, do espírito.

Portanto, o que falta para ser humano é mais verdade no seu sentimento. Acreditar mais no amor, saber compreender o outro através do diálogo aberto e franco, exercitar a compaixão por aqueles que estão desesperados e precisam de ajuda. Entretanto, o encontro com o outro somente se da, quando temos abertura para aceitá-lo da maneira como ele realmente é. Ninguém consegue ter plena abertura para conhecer outro ser humano se não amá-lo. Contudo, somente o amor o torna capaz de conscientizar o ser amado daquilo que ele pode e deveria vir a ser. Como dizia Nietzsche: “quem tem um porque para viver pode suportar qualquer coisa”. Eu diria; nada pode nos abater quando encontramos um sentido para o nosso existir. Quando experimentamos o amor, que na verdade é o símbolo da nossa própria existência. Só existo de verdade, quando amo verdadeiramente.    

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