29 de julho de 2020

O CONCEITO DE BANALIDADE DO MAL

Venho observando que a lição que este longo curso de maldade humana nos ensinou. A lição da temível banalidade do mal, que desafia as palavras e os pensamentos. Descrito pela filosofa política alemã de origem judaica Hannah Arendt (1906-1975), que foi uma das mais influentes do século XX. A privação de direitos e perseguição de pessoas de origem judaica ocorrido na Alemanha a partir de 1933, assim como o seu breve encarceramento nesse mesmo ano, fizeram-na decidir emigrar.

O regime nazista retirou-lhe a nacionalidade em 1937, o que a tornou apátrida até conseguir a nacionalidade norte-americana em 1951. Trabalhou, entre outras atividades, como jornalista e professora universitária e publicou obras importantes sobre filosofia política. Tinha sete anos quando o pai morreu, mesmo assim procurou consolar sua mãe: “Pense, isso acontece com muitas mulheres”, disse ela para o espanto da mãe. É na perspectiva de Hannah Arendt que abordo o tema da banalidade do mal.

A questão do mal é um ponto já discutido em diversas obras filosóficas. A história da humanidade está repleta de fatos que beiram o absurdo em questão de crueldade, nos fazendo questionar até que ponto a barbárie humana é capaz de chegar. Contudo, por mais terríveis que possam ser algumas ações, não devemos nos esquecer que elas podem ser cometidas pelo mais comum dos humanos: o mal não se esconde atrás de monstros e outras evocações naturais ou sobrenaturais que nossa imaginação possa criar, mas sim no mais banal dos indivíduos.

O problema do mal era tratado do ponto de vista teológico, sendo a maioria das tentativas de elucidá-lo relacionadas com a religiosidade. Porém, a partir da Segunda Guerra Mundial, com o Holocausto Nazista, a reflexão sobre o mal toma um rumo totalmente novo. Nunca antes na História se tinha visto tamanha atrocidade cometida por humanos contra a própria espécie. Definir o mal passou a ser uma problemática aparentemente sem solução.

De modo que, o mal se relaciona com a liberdade de escolha do indivíduo, e não lhe é uma característica intrínseca. Arendt nos dá claros exemplos de escolhas que foram contra a maldade vigente: a resistência por parte de alguns judeus em relação às ordens do lider, bem como de algumas cidades que descumpriram suas ordens sobre exilar os judeus, pois essa resistência deu resultados, deixando o exército nazista sem força de ação; ou no caso do militar nazista que arriscou a própria vida para salvar um judeu. Ou seja, o mal é uma escolha infeliz, a ocorrência do mal não é determinada radicalmente, mas está relacionada à contingência.

Portanto, a intenção de Hannah Arendt ao analisar o mal tirando o véu de perplexidade que o encobrira até então, e buscando compreender como ele é possível, se dá não para aceitar os acontecimentos, mas sim para ver que há sempre uma possibilidade além da maldade. Que resistir é uma das únicas formas de se manter humano, de se manter a espécie humana. Contudo, primeiro você tem que aprender a ser grande, para depois pensar em machucar as pessoas.

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