26 de julho de 2020

EDUCAÇÃO ÉTICA PARA A SENSIBILIDADE

Nenhuma pergunta ou questionamento, nenhuma análise sobre questões relativas à educação escapa a uma dúvida prévia imposta pelo tempo cultural e histórico em que vivemos: o que ainda se pode dizer sobre a educação sob as condições atuais? No que concerne à educação, teoria e prática há muito tempo entraram em curto-circuito. O campo caiu em descrédito. Quem se preocupa com a formação humana na época dos números, dos resultados, das aprovações, dos títulos e diplomas? Tudo em termos de educação obedece à lógica da medida que transforma a aprendizagem, o conhecimento e a própria passagem pela instituição escolar em mercadoria. Mais cara ou mais barata, cada um, cada classe social, pagará seu preço sempre multiplicado.

Enquanto a educação vira mercadoria, ao mesmo tempo percebemos a desvalorização da educação. Esta desvalorização é uma questão cultural. Rebaixada e humilhada no contexto antipolítico com o qual, infelizmente, nos acostumamos, a educação – como instituição, como prática, como desejo social – está abandonada. Não há nada de novo em afirmar que os problemas da educação resultam de uma falha política na qual a economia antipolítica do capitalismo instaura seu vírus letal. As complexas condições de possibilidade da educação nos fazem pensar em abismos. É bem vindo, no quadro negro em que se escreve a educação atual.

Segundo a filosofa e educadora Nadja Hermann, nos propõe uma reflexão sobre ética e educação e apresenta seus fundamentos histórico-filosóficos na intenção de fazer pensar em uma educação que inclua o outro e não seja violenta. Ela faz do outro um tema da educação e, para pensá-lo, vai à filosofia clássica. Apresentando as bases filosóficas da questão do mesmo e do outro, da subjetividade, da filosofia, da consciência, da fenomenologia e da hermenêutica, a autora traça, com seu modo agradável de escrever, uma reflexão perfeita sobre o lugar do outro na história da subjetividade, tendo em vista as questões da prática em educação, do “agir educacional”. Um aspecto a destacar são os pensadores contemporâneos com os quais ela dialoga, além dos clássicos, abrindo perspectivas para além de certos autores da moda com os quais também acostumamos a lidar e que ajudam a manter o quadro de perguntas e respostas repetitivas em educação.

Portanto, o que a filosofa e educadora Nadja Hermann tem em vista é o dia a dia do educador. Do educador escolar que trata o educando como o “desviado, o desadaptado, o desobediente, o hiperativo”, mas certamente serve ao educador que está além da escola, das pessoas que, em seu dia a dia ensinam algo umas às outras. O que a autora busca no seu ensaio é a chance de pensar a sensibilidade como abertura ao outro. O diálogo e a experiência estética tornam-se caminhos filosóficos práticos nessa busca. Ela nos mostra que um outro modo de pensar a educação é possível. E de agir em seu nome, certamente. Contudo, tive a alegria de partilhar com a filosofa e educadora Nadja Hermann uma troca de ideias na forma de e-mails que resultou em frutíferos diálogos.

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