18 de outubro de 2018

EDUCAR E HUMANIZAR SÃO SINÔNIMOS

Educar é criar constantemente a identidade humana. Trata-se de reconhecer que, em cada pessoa humana, reconstitui-se a trajetória de toda a espécie humana. A identidade humana não é algo ou uma condição pronta, acabada. Precisa ser constantemente reconstruída, refeita, ressignificado em cada novo ser, em cada criança, em toda nova pessoa ou geração. Uma criança configura toda a possibilidade humana. Quando vejo uma criança enxergo a grandeza de toda a humanidade. Como argumenta o filósofo e educador Cesar Nunes (Unicamp): “em cada novo ser refaz-se a experiência de toda a marcha cultural e civilizatória da humanidade”. Talvez por isso vim a ser professor, amo e admiro a educação. Compreendo o processo e a prática educativa como o mais genuíno processo de humanização, de constituição da identidade humana em cada pessoa. Educar e humanizar são sinônimos.

Não nascemos prontos, acabados, no sentido de nosso ser. Temos que aprender a sermos humanos. A condição humana é a primeira e a permanente prática de aprendizagem. Ser essencialmente humano, ser pessoa humana, é exatamente aprender a ser humano, aprender a ser pessoa. Aprender é, portanto, a primeira e mais radical organicidade de condição humana. O homem é um ser que aprende. Todas as pessoas aprendem a vida inteira. E toda a vida é aprender. “Aprendo” é o verbo mais importante conjugado pela história e pela marcha da humanidade e dos grupos humanos. Tudo o que fomos, tudo o que somos e tudo o que seremos, dependerá dessa radicalidade de nosso ser e de nosso existir: “eu existo, eu aprendo”! Mais ainda, se eu aprendo, eu existo! Parodiando o filósofo e matemático francês René Descartes (1596-1650): “Penso, logo existo”. Vou um pouco além: “Penso, logo incomodo”.

Portanto, o ser humano tem como pressuposto básico o corpo, porque é nele que está a vida. É o corpo que quer aprender para poder viver. É ele que dá as ordens e com ele aprendemos. Como argumenta o filósofo e educador Rubem Alves (1933-2014): “A inteligência é um instrumento do corpo cuja função é ajuda-lo a viver”. Porém, estar atento significa estar disponível ao espanto. Os gregos diziam que quando a gente se espanta, a inteligência faz a pergunta. Sem espanto não há ciência, não há criação artística. O espanto é um momento do processo de pesquisa, de busca. Essa postura de abertura ao espanto é uma exigência fundamental para o professor criar no aluno o hábito da leitura. Para o educador Paulo Freire (1921-1997): “O espanto revela a busca do saber”. Contudo, o ofício de ensinar não é para aventureiros. É para profissionais, homens e mulheres que, além dos conhecimentos na área dos conteúdos específicos e da educação, assumem a construção da liberdade e da cidadania. Educar e humanizar é, estabelecer relações para compreender a realidade e enxergar mais longe. Aproveitar esse dinamismo próprio da condição humana de aprender sempre. A criança é o pai do homem. É na infância que se projeta a dialética do adulto para a vida toda.   

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