27 de outubro de 2018

DESRESPEITO E DESVALORIZAÇÃO DO PROFESSOR

O professor pode ser uma janela para o mundo que se vê, ou além, para o mundo que se deseja construir. Ainda na infância, intermediados por esse profissional, experimentamos realidades que não conhecíamos e conhecimentos até então inéditos. Podemos até achar que eram apenas matemática, português, história, filosofia ou ciências, mas era vida em pequenos ou maiores fragmentos. E essa vida era tecida por cada saber que íamos conquistando.

Alguns desses saberes davam seu adeus depois da aprovação do vestibular. Outros ficavam em algum canto da memória, para serem utilizados em um quiz numa entrevista de emprego. Outros tantos magicamente se dissolviam no dia a dia e no repertório de vivências. Passageiros ou permanentes, tais saberes ajudavam a constituir a história singular de cada pessoa. O saber da nossa espécie, a humana, não se transmite pela genética, mas sim pela linguagem. Os professores são especialistas nesta transmissão de saberes. De modo que, nossos especialistas, infelizmente, andam matando leões diariamente.

A profissão é cada vez mais desvalorizada; a remuneração dos professores é muito abaixo do básico e impede a reciclagem de experiências, como comprar livros ou fazer um curso; a instabilidade no emprego é uma realidade, assim como a carga horária exaustiva; a infraestrutura é precária ou deixa a desejar. Na sala de aula, os desafios aumentam. A autoridade é questionada por pais e alunos; a indisciplina comparece com uma ofensa verbal ou mesmo uma agressão física; alunos desinteressados tentam ser avivados por professores desestimulados; a cobrança por desempenho dita os caminhos do que deve ser considerada educação.

O reflexo desses desafios são os afastamentos do trabalho por algum “transtorno mental” ou problema de comportamento, responsáveis por mais de vinte por cento dos casos. Só na rede estadual o ensino de São Paulo em 2017 foi dado 327 licenças médicas por dia a docente com problemas de estresse. Os professores estão entre os profissionais que mais se afastam do trabalho por transtornos mentais. O desgaste na relação com alunos e os desafios de manter a atenção em crianças cada vez mais dispersas, sobrecarregam os professores, colocando-os em sofrimento frequente e adoecendo.

Portanto, não é fácil para um professor admitir que sofre ou que não tem paz em sua prática. Parece que paira sobre ele a marca de uma abnegada coragem aliada a uma sabedoria terapêutica que não lhe permite fracassar. Todavia, o que mais tira o sossego do professor é o fato de que os alunos leem pouco e que realmente não se incomodam com isso. O que mais causa sofrimento ao mestre é o desrespeito, a mentira, o pouco caso diante do conhecimento humano. Contudo, o que nos deixa triste é que o professor se tornou objeto de críticas mesquinhas por parte dos alunos e também das famílias. Reitero com muita tristeza a angústia dos meus colegas professores e compactuo com eles da mesma dor.

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