14 de outubro de 2018

DIVERGÊNCIAS POLÍTICA SIM, MAS COM ÉTICA

O assunto política é perverso e difícil de ser tratada no momento atual, onde as divergências políticas desrespeitam a ética e a democracia, gerando violência e opressão. Como cidadão e professor de filosofia, sinto-me impulsionado a discorrer algumas considerações sobre os últimos acontecimentos políticos no país. Um assunto espinhoso e delicado, mas que o estado democrático permite-me trazer para a nossa reflexão. Devo dizer que aprecio o posicionamento de pessoas que pensam diferentes, pois, busco compreender as motivações delas. Igualmente, aprimoro ideias a partir dos diálogos na medida em que sou instado a ouvir ou a ler sobre algo distinto do que penso. No entanto, mais recentemente, tenho notado posições mais fervorosas, destituídas de racionalidade, de rigor, de lógica e ancoradas na paixão e fanatismo por um ou outro candidato e, neste caso, justamente por não haver diálogo. De modo que tenho adotado a postura de ser radical com pessoas assim, por meio do meu silêncio. 

Entretanto, citei inúmeras vezes em minhas reflexões o ensaio “Humano, Demasiado Humano” do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) que dizia: “convicções são inimigas da verdade e mais perigosas que as mentiras”. Sendo assim, aos convictos, recomendo a razão, a frieza e o distanciamento do que se diz, para a possibilidade de entendimento do que se fala. Não acredito na violência como forma de resolução de problemas, seja pela formação que recebi ou pelos distintos livros que li ao longo dos anos de vida acadêmica, que me propiciaram a compreensão do que está em risco quando se escolhe um inimigo a ser eliminado. A capacidade de discernimento aqui é importante, dado que muitos não conseguirão ver os méritos, sejam acadêmicos ou como pessoa o quão polido é o candidato professor e doutor em filosofia Fernando Haddad (1963), não se trata de esclarecimento para alguém valorizá-lo e muito menos para votar nele. Trata-se apenas e tão somente de ser ético e justo com alguém que tem uma trajetória na vida pública, que não se mistura com “organização criminosa”.

Como diz o filósofo e educador Samuel Mendonça (PUCCAMP): “demonizar o PT parece fazer sentido, porque foi o Ministério Público Federal, com apoio da grande mídia que têm repetido essa narrativa há anos”. Mas, Haddad nada tem a ver com isto, embora seja do mesmo partido. Vamos pegar o exemplo de uma família com cinco filhos e suponha que três deles estejam envolvidos com o mundo do crime, mas os outros dois não. Ao afirmar que a família é uma organização criminosa, há incorreção na formulação, porque generalização é asneira, isto é, não são todos os membros daquela família envolvidos com o mundo do crime. O erro do MPF em afirmar algo tão grave levou um número significativo de pessoas esclarecidas a acreditar na formulação de que o PT é uma organização criminosa. Não é possível generalizar quando há exceção e, no caso do PT, há inúmeras pessoas íntegras, não envolvidas em casos de corrupção.

No entanto, o mesmo raciocínio pode ser usado para demonizar o PSDB porque Aécio Neves foi denunciado pela PGR ou mesmo para o MDB porque Michel Temer foi denunciado duas vezes pela PGR. Há pessoas caindo nesta armadilha e é fundamental esclarecer que se trata de equívoco, porque não houve qualquer decisão judicial, principalmente, pelos inúmeros quadros éticos também nesses partidos. Sendo assim, nenhum partido político pode ser chamado de organização criminosa ou de partido corrupto. Isto é fake, é errado e, no fundo, o objetivo é demonizar não o partido, mas, a política. Que tenhamos clareza disto. É preciso ter capacidade em compreender a politização do judiciário quando generalizou que a classe política é corrupta. Como dizia o escritor, jornalista e dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues (1912-1980): “toda unanimidade é burra”. Logo, generalizar um partido político sem o devido encaminhamento legal, ampla defesa, contraditório, parece-me um equívoco e desserviço de setores do judiciário e da imprensa contra a política. Querer acabar com a corrupção é uma coisa e penso que todos querem, no entanto, confundir essa ação com o fim da política ou de um partido, daí é preciso ter cuidado com a consequência desse raciocínio tolo.

Portanto, penso que o principal problema que vivemos na sociedade de hoje tem a ver com a demonização da política, de modo que a extrema-direita aparece como “alternativa” em momentos de suposta “ausência de política”. A democracia está em risco porque setores do judiciário, logo o judiciário, que é constituído de quadros técnicos, entraram em guerra política. O judiciário tem o dever de manter a ordem social e, ao abdicar de suas prerrogativas, repressão é alternativa para uma sociedade jovem, machucada e, principalmente, incapaz de identificar o verdadeiro problema social brasileiro: “a demonização da política”. A política não é o problema social, mas, a solução dos problemas sociais. Eliminar a política é, por certo, o maior erro que uma sociedade pode cometer, contradizendo inclusive o filósofo grego Aristóteles em “Ética e Nicômaco” que afirmou: “o homem é um ser político e está em sua natureza o viver em sociedade”. Divergências políticas sempre vão existir, mas com ética e democracia. A vida é assim: “o amor devolve aquilo, que a ele damos”.

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