17 de julho de 2016

TANTO NO AMOR COMO NA VIDA

O amor é a nossa imagem e manifestação da vida. Tanto no amor como na vida, estamos sujeitos às mesmas revoluções e mudanças. A nossa existência é resplandecente, permeada de momentos alegres e cheia de esperanças, pelo simples fato de sermos felizes por amar. Este agradabilíssimo estado leva-nos a procurar outros bens muito mais sólidos para continuar a viver. Não nos contentamos por estar vivo, considerando a vida com o fato de subsistirmos, queremos progredir, ocupamo-nos com os meios para nos aperfeiçoarmos e para assegurar a nossa boa sorte. Se houver amor melhora ainda, aumenta a nossa esperança na vida. Amor e vida caminham juntos, nutrindo um ao outro, se por algum motivo não for assim, não há prazer nas conquistas. Tudo está insatisfeito e sem vida, deixando a desejar. Esta incompletude é que nos vai exterminando aos poucos. Como diz a música “Morro de Saudade” do poeta e compositor Gonzaguinha (1945-1991): “ó fantasia da minha vida, meu sonho gostoso, meu gozo. Ó minha estrela, essa saudade me deixa assim tão nervoso”.

Procuramos a proteção divina, mostrando-nos solícitos aos nossos semelhantes e não aguentamos que outros queiram o mesmo que temos em vista. Será porque somos egoístas? Este estímulo de continuar a existir acumula-nos de mil trabalhos e esforços que logo se apagam quando alcançamos o desejado. Todas as nossas paixões ficam então satisfeitas e nem por sombras podemos imaginar que a nossa felicidade tenha fim. No entanto, esta felicidade raramente dura muito e fadiga-se da graça da novidade. Para possuirmos o que desejamos não paramos de desejar mais e mais. Habituamo-nos ao que temos, mas os mesmos haveres não conservam o seu preço, como nem sempre nos tocam do mesmo modo. Mas, há uma energia que nos impulsiona e nos toca profundamente, impedindo de nos acomodar ou desistir. Amor e vida caminham juntos, nutrindo um ao outro. Nossa força poderosa que nos mantêm vivos e atuantes está no amor.

Entretanto, mudamos imperceptivelmente sem nos aperceber. O que por nós foi adquirido torna-se parte da nossa vida. Sofreríamos muito com a sua perda, mas, já não somos sensíveis ao prazer de conservar o adquirido. A alegria já não é viva, procuramos no outro lado que não naquele que tanto desejamos. Essa inconstância involuntária acontece com o tempo que, sem querermos, não perdoa. Mexe no nosso amor e na nossa vida. Apaga sub-repticiamente dia a dia algo da nossa alegria e esperança, destruindo os nossos maiores encantos. Na maturidade sentimo-nos viver, porque sentimos que estamos apaixonados pela vida e pelo o que dela conquistamos. Sentimos a delicia de ser o que somos e o prazer do êxtase que o amor nos oferece. De toda a sabedoria, a descoberta do amor é o mais complexo dos sentimentos que aos poucos vamos desvendando.    

O amor já não subsiste por si mesmo, quando o maltratamos, indo alimentar-se do veneno maléfico do orgulho. Esse estado de amor corresponde àquela idade em que começamos a ver por onde devemos acabar com ele, mas não temos a força para acabar diretamente. Somos fracos diante do amor e covardes perante a vida que nos da à oportunidade de amar. Se caminharmos juntos, no mesmo ritmo, as diferenças serão compensadas pela igualdade de nossos esforços em entender e vencer os obstáculos desse descompasso. Tudo porque a vida é um mistério daquilo que nós dela fazemos. Crucificamos Jesus e soltamos o ladrão Barrabás! Seria o mesmo que crucificar o amor e por em liberdade o explorador. É desistir do que a vida lhe oferece. Parece que viver é lutar contra alguém e amar é ser imolado. Não há como amar sem viver e nem viver sem amor. No declínio, tanto no amor como na vida, ninguém quer resolver-se a evitar a maneira de prevenir os desgostos que ainda estão por vir quando desistimos.       

Por conseguinte, à medida que a idade vai avançando, sentimo-nos viver e ao mesmo tempo sentimos o peso dos anos, mas somos tomados por uma sabedoria que nos faz perceber que estamos apaixonados pela vida, principalmente, quando sentimos essa energia manifestada de forma amorosa. Ainda se vive para aceitar os males futuros, mas não para os prazeres presentes. A desconfiança, o ciúme, o medo de nos tornarmos insistente e o medo que nos abandonem são males que carregamos, tal como as doenças da alma e do coração que se agarra ao longo da vida. Sentimos medo de não haver outra oportunidade. Neste momento nos vem à mente o que é a vida. O que é viver. A vida nos da à oportunidade de conhecer o amor, nos da à oportunidade de conhecer um amigo de verdade, de conhecer o prazer e a alegria do que é estar vivo. No entanto, por orgulho desistimos com certa facilidade de sentimentos tão nobres. Há uma tendência em nós, de desistir do prazer e da alegria com muita facilidade.

Portanto, negamos sentimentos tão evidentes, que a vida nos oferece como prêmio pela nossa existência. Em algum momento a vida vai desistir de nós, não por orgulho, mas por determinações biológicas. Ficará apenas o arrependimento e a saudade para os que continuarem nela. Saudade não é falta, porque a falta implicaria em jamais ter existido algo ou alguém que despertasse o sentimento de amor e prazer ou de sorrir ao recordar daquele momento ímpar. Cenas e sensações da alma que repaginam até mesmo a mais cinza das imagens. Contudo, morro ou vivo de saudade? Se morro é por reconhecer que ela me acompanhará adiante e além. Mas se vivo, talvez seja porque de alguma forma, ela instiga o meu ser a não estar nunca em espécie de adeus. Concluo com uma frase da música “Nada Apaga Essa Paixão” de Mauricio Mattar (1964): “nem sempre a gente tem palavras para falar de coração, e agora meu silêncio me deixou na solidão”. 

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