24 de julho de 2016

O RITUAL DE RENOVAÇÃO DA ÁGUIA

A natureza é sabia e tem muito a nos ensinar. Viver não é sinônimo de esperteza. Quem caminha mais longe na vida não são os espertos e sim os inteligentes e sábios. Esta sabedoria que emana da natureza é que produz a perfeição e vai enriquecer todos os seres vivos. Conhecemos com os sentidos ou com a inteligência, quando refletimos e experimentamos um prazer. Olhar para o amor que nutre a vida daqueles que admiramos. O amor que damos fica no outro e constituem a sua riqueza e para nós a satisfação em dar e receber. Ao contrario dos espertos que fingem amar seu próximo por interesse pejorativo. Estão sempre certos sobre o que fazem e falam, por isso são intolerantes. Por que vão ouvir as ideias diferentes se estão sempre certos? Nunca estão abertos ao diálogo e nem as novas ideias. São incapazes de escutar o próprio coração sobre o que sentem de verdade. Não olham para a vida com sabedoria e compaixão. Como dizia Rubem Alves (1933-2014): “na vida a gente tem que se lançar como se lança no abismo. Ter fé é nunca desistir do seu objetivo”. No entanto, o grande exemplo vem da natureza. 

A águia é uma ave que entre as espécies, é a que possui a maior longevidade, chegando a viver em média setenta anos. Mas para chegar a essa idade, mais ou menos aos quarenta anos ela tem que tomar uma série de cuidados, além de uma difícil decisão. É uma idade que ela está com as unhas compridas e flexíveis e não consegue mais agarrar as suas presas. O bico alongado e pontiagudo se curva, dificultando sua caçada. Apontando contra o peito estão as asas, envelhecidas e pesadas em função da grossura das pernas, e voar se torna difícil. Então a águia só tem duas alternativas: “morrer ou enfrentar um doloroso processo de renovação que irá durar mais ou menos uns cento e cinquenta dias”. Este processo consiste em voar para o alto de uma montanha e se recolher em um ninho próximo a um paredão onde ela não necessite voar. Ao encontrar esse lugar, a águia começa a bater com o bico contra a pedra até conseguir arrancá-lo. Após esse procedimento, espera nascer um novo bico, com o qual vai depois arrancar suas unhas. Quando as novas unhas começam a nascer, ela passa a arrancar as velhas penas. Só então, após cinco meses em média, ela sai para o famoso voo de renovação, para viver por mais uns trinta anos. 

Quando digo que a natureza é sábia, são por esses efeitos que ela produz. O ritual de renovação da águia além de uma linda história é um exemplo de motivação e perseverança. Vale lembrar, que a águia é estereotipada, ou seja, movida por instintos de sobrevivência e não por decisões próprias. Quando uma águia é vista bicando pedras estão fazendo isso instintivamente. Os estudos mostram que o bico e as garras da águia com o passar dos anos, torna-se cada vez mais fortes. Além disso, ela não suportaria ficar sem comer por vários dias até que um bico novo cresça, ficaria desnutrida e morreria. Por outro lado, sua longevidade também é questionada, não existe nenhum registro científico que comprove que águia possa chegar a essa idade. A sua duração existencial depende muito das condições ambientais e das espécies de águia, que não vou entrar aqui no mérito da questão. A renovação da águia é apenas uma alegoria, uma metáfora. Pois estou interessado no que podemos extrair com os exemplos da natureza. Tendo em vista, que o homem é um predador nato da natureza. Sua meta é lucro e não a preservação do meio ambiente.

Portanto, muitas vezes na vida temos que parar e refletir por algum tempo, e dar início a um processo de renovação. Devemos nos desprender dos preconceitos, dos maus costumes, de tudo aquilo que não é útil ou importante, para assim continuarmos a voar. Porém, quando livres das barreiras e pesos do passado, poderemos aproveitar o resultado valioso que uma renovação sempre traz. Contudo, se conseguirmos destruir o bico do ressentimento, arrancar as unhas do medo, retirar as velhas penas das asas, permitindo o fluir de novos pensamentos. A vida é como uma viagem de trem, cheia de embarques e desembarques, alguns acidentes, surpresas agradáveis em alguns embarques e grandes tristezas em outros. Que nossa viagem seja tranquila, que tenha valido a pena e que, quando chegar à hora de desembarcarmos o nosso lugar vazio traga saudades, assim como boas recordações, para aqueles que vão continuar a viagem. Tenhamos amigos de verdade, que mesmo maus e inconsequentes, sejamos corajosos e fiéis, confiando sem duvidar. O meu embarque no trem da vida, começou em Botucatu SP. Passei pela estação de Marília SP. Foi lá que conheci uma linda menina que brincava a beira da linha e acenava para mim, enquanto o trem passava. Depois que a conheci, minha vida passou por uma profunda renovação e nunca mais viajei sozinho. A lição que fica sobre o voo da águia é a seguinte: “alcance um lindo voo para uma vida de sonhos e realização”.

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