13 de julho de 2016

A VIDA É COMPLEXA, INTENSA E RÁPIDA

Viver é bom demais, nós é que somos complicados. Não cultivamos relações afetivas duradouras, tudo parece descartável. Somos muito mais caprichosos, irregulares e desonestos do que dizemos. A vida real das pessoas não é flor que se cheira. Todos vigiando a todos, em qualquer lugar que esteja sempre tem alguém nos olhando. O homem é um perfeito chipanzé, está sempre interessado no que está envolta e principalmente, no que o outro está fazendo. No entanto, existe uma multidão nos observando, a toda hora e todos os dias. De modo que, todos controlam a todos. Cada um de dedo em riste apontando para o outro. Todos que se aproximam são uma ameaça, pelo simples fato de todos vigiarem a todos. E qual será a arma mais usada para manter a estrutura social? Está arma chama-se fofoca. Entretanto, ninguém leva a sério a fofoca, por achar esse assunto banal. Pois devia! Deve ser levado a sério pela importância que esse assunto tem e pelo estrago que pode causar na vida familiar e social de muitas pessoas. Se não tivéssemos defeitos, não teríamos tanto prazer em apontar os defeitos nos outros.

No entanto, mais da metade de todas as fofocas no mundo ainda é sobre a vida alheia, a intimidade das pessoas. Em particular, das mulheres que sofrem todo o tipo de perversão e discriminação, em pleno século XXI. Ninguém até hoje levou a sério a fofoca que é o mais poderoso e o mais forte sistema de controle social. Quando a gente faz fofoca? É quando o outro faz diferente do que você acha que ele deveria fazer. Fazemos fofocas para condenar todos os transgressores dos costumes estabelecidos. Vivemos vigiando uns aos outros e ameaçando a todo o momento, com difamação e fofoca. E isto nos paralisa completamente. A grande razão que nós temos para não fazer aquilo que mais desejamos, bem no fundo é uma coisa só. O que vão pensar os outros? O que vou dizer aos meus filhos?

Dizendo de outro modo, tudo começou com essa educação capenga que recebemos dos nossos pais. Esta educação que foi feita para tudo, menos educar. Na tentativa de preservar o bom nome da família e a reputação, o indivíduo não faz nada do que gosta, do que precisa e nem do que devia fazer. Tem coisas que quero, mas não devo. Tem coisas que devo, mas não posso. Tem coisas que posso, mas não quero. De modo que, ficamos sufocados sem poder dizer ao outro o que estamos pensando ou sentindo. O outro nos sufoca sempre que temos vontade de gritar, de rir e de chorar, contudo, nos reprimimos. Também nos sufoca sempre que temos que dar explicações. Na verdade, quanto acho que estou falando comigo mesmo, estou dando satisfação a uma multidão que está internalizada dentro de mim. Estou explicando para os que me governam, sempre justificando o porque fiz ou deixei de fazer. Estou nutrindo um sentimento de culpa.

Entretanto, o outro nos sufoca sempre que temos que disfarçar e aí fico muito vigilante comigo mesmo e fatalmente paro de respirar. É como se colocasse o outro dentro de mim. Seria como usar um colete de ferro, não posso respirar livremente. Tenho que controlar a minha respiração para não chorar, para não gritar e nem extravasar as minhas emoções. Temos que representar o símbolo do todo poderoso, porque esse tem o mundo nas mãos, ele domina tudo e controla tudo. Para controlar os outros precisamos controlar-nos e para isso precisamos conter os nossos próprios sentimentos. É preciso criar uma jaula duríssima de ferro no peito, para manter o controle. Não podemos experimentar nossos sentimentos. Logo, não podemos ter prazer, para não depender dos outros. Contudo, colocamos um enorme cadeado trancando as relações prazenteiras num porão. Na tentativa de se livrar delas e, contudo, nos afundamos na angústia. É o momento em que o peito aperta e o coração dói.

De modo que, pior que os defeitos do corpo, são os defeitos da alma. É comum ver pessoas rindo à custa alheia, zombando dos outros, vejo nestas pessoas uma alma triste, um ego ferido, uma alma cheia de feridas. Numa sociedade enferma como a nossa, é comum ver gente fingindo-se feliz, fazendo-se engraçado, talvez assim consiga esconder o que realmente traz no coração. Tal atitude distrai a atenção dos outros para que não vejam o quanto és triste por dentro. Talvez o seu travesseiro saiba as lágrimas que choras, a solidão que amarga e a rejeição que carregas em seu peito. Penso que pior que ser feio, é ser infeliz. Dizendo de outro modo, todos os pais que olha para um filho, sempre o acha lindo, mas, não enxerga o quanto ele está infeliz. Não há perspectiva de vida nas suas atitudes. Falta um sentido existencial. No entanto, somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos.

O filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), nos apresenta em sua filosofia uma visão extremamente pessimista da vida. Segundo ele, viver é necessariamente sofrer, por mais que se tente conferir algum sentido à vida, na verdade, ela não possui sentido ou finalidade alguma. A própria vontade é um mal. Nós queremos vencer, desejamos vencer. Mas a vontade gera angústia e a dor e, os mais tenros momentos de prazer, por mais profícuos que possam vir a ser, são apenas intervalos frente à infelicidade. A angústia é a sensação psicológica que se caracteriza pelo sufocamento, pelo peito apertado, falta de humor, ansiedade, insegurança e com ressentimentos aliados a alguma dor. A palavra angústia vem do latim “angere” que significa apertar, afogar e estreitar. Daí “angustus” que significa estreito, apertado e de curta duração. Sentir-se afogado, sem ar, apertado, sem saída é muito ruim, contudo, a palavra aponta uma saída: “a angústia dura pouco”. A luz do filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard (1813-1855), traduz o mal estar: “o ser humano sente desamparo, incerteza, falta de controle diante da liberdade de decidir. Optar por um caminho significa correr riscos, abrir mão das alternativas. Isso é angustiante”. Quem nunca se sentiu agoniado diante de uma situação ruim ou de uma escolha difícil?

O espírito que nos anima não nos pertence, antes pertencemos a ele. Se ele falhar por um instante que seja, morreremos instantaneamente. A palavra espírito vem do latim “spiritus”, que sopra. Já a palavra alma vem do hebraico “sopro, hálito”. Isto quer dizer que respiração é sopro ou um espírito que nos anima. Dizendo de outro modo, o espírito quando não é respiração, é presença viva, ou seja, é vida. Os ocidentais não dão a devida importância para respiração como ela de fato merece. Ao contrário dos orientais que levam a respiração muito a sério. Dizia o mestre Buda que o caminho mais direto, não necessariamente o mais simples, para encontrar a paz interior ou a iluminação é estar presente a própria respiração. O conselho é tão simples que até se torna difícil de levar a sério.

Porém, a respiração é o nosso automatismo mais antigo. A primeira coisa que a gente faz ao chegar ao mundo é respirar. É sabido que a ansiedade é a doença do momento, para não dizer da humanidade. Sendo que a respiração é o único sistema vegetativo que está sujeito ao controle da vontade. Se nosso corpo está sempre se preparando para responder aos estresses, ameaças perigos e estamos continuamente agitados. Sobretudo, a respiração também fica agitada. Se neste momento de agito, harmonizar a respiração pode atenuar a ansiedade por uma razão muito simples. A respiração é urgentemente necessária o tempo inteiro, caso contrário ela piora a agitação mental, que perturba a respiração e comprime o peito gerando dor. Quando buscamos o equilíbrio através da respiração restituímos a paz mental. Ninguém morre de maus pensamentos, mas, a respiração pode comprometer a vida. Controlar a respiração é o primeiro degrau para a paz.

Portanto, ao estabelecer a consciência vamos descobrir o amor. Vamos aprender que o amor é a única resposta que devemos dar a vida. Aprender que o amor não é apenas um sentimento forte, é mais que isso, é uma decisão, um juízo de valor e ao mesmo tempo uma promessa. Se o amor fosse apenas um sentimento, não haveria base para a promessa de amar uns aos outros. Somos movimentos, criação contínua, instabilidade total e incerteza permanente. Estou vivo que maravilha! De onde vem esta grandeza sem par? Pois cada um é único, não existem exemplares. Somos um construir conjuntos cooperativos cada vez mais complexos, até chegar à espantosa complexidade que somos nós. Contudo, passamos muito rápido pela vida. Aprendi com a experiência, que a vida tem que ser vivida em função de alguma coisa, não contra alguma coisa. Aprendi também, que tudo que se constrói com amor, não se perde nunca. Qual o caminho para a felicidade? Concluo com uma frase do mestre hindu Mahatma Gandhi (1869-1948): “não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho”.

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