15 de setembro de 2015

ANALFABETISMO: UMA FORMA DE EXCLUSÃO

Por que o Brasil ainda é um país cuja grande maioria pode ser enquadrada em algum tipo de analfabetismo? A quantidade quase infindável de questões sobre isso demonstra a complexidade desse problema brasileiro. De uma maneira geral, podemos dizer que é um dos sustentáculos da “cultura da exclusão” que vem sendo forjada desde a nossa colônia escravista. Seus pilares estão fincados nas raízes do Brasil sobre as quais o célebre historiador e crítico literário Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) nos ensinou. Foi produzido pelos “donos do poder”, como aprendemos com o jurista, sociólogo e escritor Raimundo Faoro (1925-2003). É consequente do “pratriarcalismo” e do “mandonismo” ainda presentes nos ossos expostos da nossa fratura social, estudados pelo sociólogo Simon Schwartzman (1939). Estou citando esses três grandes pesquisadores para fundamentar tudo que vou dizer nesta reflexão.

Assim uma primeira aproximação ao problema nos remete à constatação de que este é um fracasso provocado socialmente e não pode ser entendido como fato natural ou, ainda, como uma doença. Muito menos creditado às suas vítimas: os analfabetos, absolutos, funcionais, digitais, políticos ou, numa só palavra, analfabetos sociais. Conseguiremos chegar mais perto dos principais responsáveis quando respondermos as questões fundamentais: quem ganha com essa situação? Quem consegue dividendo e vantagens? A quem não interessa resolver tal problema? Será que os políticos profissionais, por exemplo, gostariam que as suas zonas de atuação, não raramente verdadeiros “currais eleitorais”, estivessem livres dos analfabetismos? Quais são as consequências políticas e sociais para as tantas microrregiões brasileiras? As respostas parecem óbvias o suficiente para não precisarem de maior esclarecimento.

Certamente, as novas descobertas da linguística, do letramento, da cibernética hão de contribuir de modo importante para as soluções do problema. Mas, como nos ensinou o filósofo e educador Paulo Freire (1921-1997), a alfabetização e a escolarização não são práticas neutras, não se alimentam exclusivamente das técnicas, por melhor que sejam. Para o educador e pesquisador do CNPq Afonso Celso Scocuglia, esses problemas são de ordem estruturais, históricos, marcados pela exclusão continuada e agora estendida até para os que frequentam regularmente a escola desqualificada. Temos vários exemplos para demonstrar o descaso na educação, principalmente no ensino público. Hoje vejo a escola pública como um arquivo morto.

Por conseguinte, se a história brasileira não registrou a solução da problemática dos analfabetismos, já que os agravantes atuais são evidentes, pelo menos nos fez aprender que as tentativas de soluções avançam nos momentos em que a sociedade civil se conscientizar e se organizar para pressionar o estado brasileiro e seus dirigentes para assumirem as suas responsabilidades intransferíveis. Enfim, parece que esse é o único caminho a ser concretizado. Fora isso só mesmo denunciar ao Ministério Publico essa lambança do governo, principalmente no estado de São Paulo.    

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