19 de setembro de 2015

QUE EDUCAÇÃO QUEREMOS PARA AS CRIANÇAS?

Para responder essa pergunta temos que considerar pelo menos uma dimensão social em uma sociedade extremamente desigual, os desejos e as necessidades dos pais em relação à educação de seus filhos são diferentes, dependendo muito de sua situação econômica e social. Mas a dimensão que deveria balizar a educação que se proporciona é a psicológica e ética. Por dimensão psicológica, entendo aquela que Olivier Reboul (1925-1992), em seu livro: “Filosofia da Educação”, aponta como sendo a primeira educação. Este período estende-se do nascimento aos quatro anos.

Nessa fase são os pais ou a família, os responsáveis pela educação da criança. Trata-se da educação que retira os excessos do jeito de viver das crianças como, por exemplo, a birra. Reboul chama-a de “educação dos sentimentos”. Tem a ver com tornar a criança suportável, a fazer amigos, a lapidar sua agressividade e aprender a viver com os outros iguais a ela e os outros adultos.

A dimensão ética é a forma de educação que nos mostra que somos diferentes dos outros animais. Nós, seres humanos, podemos inventar e escolher, pelo menos parte da nossa vida, como diz o filósofo espanhol Fernando Savater (1947). E podemos escolher acertar ou nos enganar. Esse saber viver ou arte de viver é a dimensão ética. Aqui entram os costumes, os caprichos, a liberdade, a amizade, etc.

Todos os pais desejam aos seus filhos uma boa escola. Por escola entendem uma instituição que lhes dará tudo: informações, saberes, conhecimento, comportamento. Mas, os pais querem saber que a escola impõe a rotina que ela acredita ser importante para adquirir conhecimento. A ordem e os costumes impõem essa rotina, mas ela vem de fora para dentro e mantém a sociedade tal como ela é.

Todavia, muitas coisas vem de dentro para fora. É aquilo que nós estabelecemos a partir de nós mesmos. É a capacidade de inventar a nossa própria vida e não viver a vida inventada pelos outros, como diz Savater. Quer dizer que algumas coisas somos nós que temos que dar. Não podemos exigir que a escola de uma educação integral. Nossas ações como pais ou como adultos dão mais lições que os livros. Desse modo, ser capaz de prestar atenção no que os filhos dizem e pensam é pré-requisito para que eles cultivem a capacidade de prestar atenção nos outros, de se relacionar bem com os outros. Querer viver é viver humanamente bem.

Em ultima analise, a educação que podemos proporcionar aos nossos filhos poderá ser aquela que mostra ao filho que cada um de nossos atos é que vai nos definir, vai nos inventar. Transformamo-nos pouco a pouco; mas não de qualquer modo. Nesse caminho, ignorar que outros sofrem, ignorar tantos conhecimentos maravilhosos, ignorar a invenção apenas põe-nos como pessoas mesquinhas no mundo. Porque não dizer infelizes. Podemos querer muito para os nossos filhos. Contudo não podemos apostar na vida sem a ética, sem a ideia de que mesmo as penas da vida valem à pena. Pois viver não é uma ciência exata. Educar também não. Viver e educar tem um que de arte, de invenção e reinvenção.

Portanto, viver e educar requer inteligência. Requer saber rir. Requer ânimo diante das falhas. Termino essa reflexão com um belo trecho do livro de Fernando Savater: “Ética Para Meu Filho”. “Tentei ensinar-lhe formas de andar, mas nem eu, nem ninguém temos o direito de carregá-lo nas costas. Uma vez que se trata de escolher, procure uma opção que lhe permita depois o maior número de outras opções, não faça uma escolha que o deixe encurralado de cara com a parede. Escolha o que o abra para os outros, para novas experiências, para as diversas alegrias. Evite o que o feche e o enterre. Quanto ao mais, boa sorte! E também aquilo que uma voz parecida com a minha gritou no seu sonho quando você era arrastado pelo torvelinho: confiança!”. Enfim, se a educação não pode tudo, não se pode nada sem ela.

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