20 de julho de 2015

ÉTICA E REALIZAÇÃO HUMANA

Atravessamos por um momento difícil da nossa história e necessitamos urgente do ressurgimento da ética, como necessidade histórica diante da crise social que assola, os mais diversos aspectos da sociedade como: a política, a educação, a saúde, a cultura e assim como também na religião. A ética, portanto, torna-se um instrumento simbólico de intervenção a fim de moldar uma sociedade mais voltada para o humano. O tema da ética visa orientar a sociedade para um agir mais racional em vista do ser humano. Todavia, a ética também pode ser útil para criar uma coesão na sociedade, uma unidade na diversidade, uma compreensão do humano dentro das distinções culturais, um entendimento melhor sobre a teia de relações que constroem o humano. A obrigação primeira do ser humano é ser e agir como humano. E isso não vem acontecendo nem entre as melhores famílias.

Para melhor fundamentar essa reflexão, vou recorrer ao filósofo grego Diógenes Laércio (413-323 a.C.), que certa vez caminhava pelas ruas de Atenas com uma lanterna acesa nas mãos em plena luz do dia. Pode-se considerar que era uma atitude, à primeira vista, excêntrica. Será mesmo? Qual o significado desta atitude no contexto cultural da Grécia Antiga? Para o filósofo mencionado, o objetivo era encontrar um ser humano honesto apenas isso. No entanto, a sede por ética desponta há tempo entre os seres humanos. Entre os gregos, no período ético, destacam-se nesta reflexão dois grupos de pensadores ou duas escolas diferentes: a escola estóica (estoicismo) e a escola epicuréia (epicurismo).

O estoicismo foi formalizado por Zenão de Cítio (333-263 a.C.), em Atenas no ano 300 a.C. O termo significa “pórtico pintado”, que era o local onde os membros da escola se reuniam. Para os estóicos, a filosofia, a lógica e a ética estavam relacionadas. A ética não existe na sociedade isolada do universo. Neste caso, é ético o que está de acordo com a natureza pressuposta pelos estóicos. Como consequência, desponta um certo grau de fatalismo, de determinismo ético: o ser humano deve aceitar os acontecimentos como predeterminados. Um dos pressupostos da ética consiste na busca da felicidade dentro da pólis. Mas, o que era ser feliz para os estóicos? A felicidade (eudaimonia do grego) consistia em assumir um comportamento fundamentado em três valores: a inteligência para conhecer o bem e o mal, a coragem para saber o que temer e o que não temer e a justiça para dar a cada um o que lhe é devido. A felicidade estóica se baseava na busca da tranquilidade, num estado de autocontrole, de austeridade, de ausência de perturbações, mesmo diante dos acontecimentos contrários. A ética estóica perpassou os tempos e teve grande influência no desenvolvimento do cristianismo, onde aparecem aspectos de determinismo, de valorização do autocontrole, de submissão e de austeridade.

O epicurismo foi fundado por Epicuro (341-270 a.C.), em Atenas no ano 306 a.C. Os membros desta escola se reuniam num jardim “Kepos”. Entretanto, defendiam como princípio ético fundamental para o ser humano a felicidade que seria obtida através da tranquilidade e da serenidade. Porém, há divergências com os estóicos em relação ao caminho para se chegar à felicidade. No epicurismo, valoriza-se a inteligência prática: o ser humano age de maneira ética quando deixa livre seus desejos e necessidades humanas naturais. Sendo assim, o prazer é algo natural e a realização dos desejos humanos é algo positivo. Os epicuristas também defendiam a moderação, o autocontrole, mas não a negação dos prazeres e desejos. Diante desta valorização do prazer defendida pelos epicuristas, surgiu uma interpretação distorcida de que o epicurista é alguém voltado para uma vida de prazer, um hedonista.

Portanto, a partir destas considerações, verifica-se que ambos, estóicos e epicuristas, tinham como princípio fundamental da ética, a felicidade. Este é o ponto de convergência entre estas duas escolas gregas. A felicidade é o princípio da vida dos seres humanos. Toda a conduta humana, como a moral deve conduzir os seres humanos à felicidade. Sobretudo, usar uma única coisa que é a racionalidade. Assim sendo, o objetivo da ética consiste em descortinar horizontes para a realização do próprio ser humano. Contudo, a grande finalidade da ética e da moral é a busca da harmonia, da felicidade e da união cósmica com o universo e com a divindade. Porque, dialogar é dividir amor e conviver com sabedoria. Seja ético. Ter paciência e saber ouvir o outro também é ser ético. 

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