22 de julho de 2015

EM BUSCA DE SENTIDO

Tornamo-nos mais humanos quando sabemos que vamos morrer, pois aí nos diferenciamos de outras espécies, pela consciência que temos da morte. Porém, como argumenta à filósofa e educadora Scarlett Marton (1951) da Universidade de São Paulo (USP): “nunca somos vacinados contra a morte. Quando uma pessoa próxima morre, precisamos enfrentar algo novo”. Se a morte nos faz refletir, tanto mais a morte através do suicídio nos traz interrogações profundas sobre o sentido de como levamos a nossa existência. Tanto é que o escritor, dramaturgo e filósofo francês Albert Camus (1913-1960) Premio Nobel de Literatura em 1957, afirmou que: “só existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio”.

No contexto contemporâneo, vive-se uma situação paradoxal: por um lado, a banalização da morte. Fala-se dela o tempo todo. Basta olhar ou abrir os jornais. São notícias de guerras, terremotos, acidentes e tragédias, homicídios, mortes no trânsito. Então, por que a morte ainda é vista como escândalo? E o suicídio, por que ainda é encarado como algo proibido e como um tabu? O suicídio é um questionamento inquietante aos que continuam vivendo: Qual a motivação? Que sentido tem? Que ensinamentos tiramos disso?

No jovem, certo espírito de contestação ou mesmo de afronta à sociedade, muitas vezes pela via das drogas, o suicídio aparece como um atalho ou morte prematura. O que estaria levando muitas pessoas à contestação suicida? Seria desespero diante de um mundo sem saídas? A pressão do dia a dia nas grandes cidades, o corre-corre, as cobranças. Um desprezo irresponsável por regras de convivência e civilidade? O que mais? Quando esvaziados os sentidos, as pessoas se lançam numa contramão desesperada, talvez como forma de dizer ao mundo que ainda há tempo para mudar o curso da história.

Pode ser que o grande medo não seja tanto o de perder a vida, como mostra o avanço do número de suicídios entre adolescentes e jovens, mas o medo de perder o sentido da vida ou mesmo de não ter um sentido para perder. A falta de perspectivas, o desemprego e a violência são alguns dos fatores apontados por especialistas que contribuem para elevados índices de suicídio no mundo contemporâneo. Também doenças como depressão e transtorno de bipolaridade tornam adolescentes mais vulneráveis ao suicídio. E o que dizer da moda “suicida”, em que a busca pela jovialidade e pelo manequim ideal cria cada vez mais vítimas? A cultura ocidental, materialista, tende a negar ou disfarçar o fenômeno da morte certa, com as ideias de beleza e juventude eterna, pelos quais existe uma grande pressão pelo sucesso a qualquer custo.

Muitos jovens, em seus atos suicidas, querem expressar alguma dor, como diz a música “Há Tempos” da banda Legião Urbana, na letra e voz de Renato Russo: “Disseste que se tua voz tivesse força igual à imensa dor que sentes, teu grito acordaria não só a tua casa, mas a vizinhança inteira”. Como argumenta a jornalista e pesquisadora Paula Fontenelle no seu livro: “Suicídio – O futuro interrompido”. Afirma que: “a maioria quer dar fim à dor, não necessariamente à vida. Por esse motivo, mais de 90% dão sinais de alerta na tentativa, às vezes inconsciente, de receber ajuda e voltar atrás na decisão”.

Portanto, o sentido da morte depende do sentido que damos à vida. Julgar se a vida vale ou não a pena ser vivida é responder à questão fundamental da filosofia. O suicídio suprime o problema muito mais do que o resolve, somente o amor não o suprime, porém, resolve mais ou menos enquanto estamos vivos, e nos mantém firme na esperança. Se a vida vale ou não a pena ser vivida, melhor dizendo, o prazer de ser vivida, depende primeiro da quantidade de amor de que somos capazes de doar. Pois o amor é o combustível da vida. Este sim precisa ser repensado. Contudo, são as doenças de fundo emocional que inibe os estímulos da vida e reprime a capacidade de amar. Negar o amor é negar a vida.    

Nenhum comentário:

Postar um comentário

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...