12 de julho de 2015

A CULTURA DO CONSUMISMO

Atualmente os centros comerciais tornaram-se as catedrais do consumo, onde as pessoas, de um modo geral, deixaram de pensar, onde a distância entre ricos e pobres, os que sabem e os que não sabem os que têm e os que não têm acentua-se cada vez mais. Trata-se de uma nova Idade Média, com uma pretensa minoria culta e uma grande massa ignorante. Mas todos frequentam o shopping, todos são consumidores. Por outro lado, será que controlamos nossa ansiedade de consumo? Diante dos bombardeios da mídia, quem decide? Liste o que há num shopping center: roupas, utensílios para casa, som e eletrodomésticos, perfumaria, equipamento de esporte, bancos, praça de alimentação fast food, livraria, supermercados, doces, cinemas, etc. Tudo contornado por uma decoração ímpar e bem iluminada, temperaturas ideais, segurança total e escadas que deslizam por andares. Todavia, encontramos tudo isso e muito mais nesses espaços. Esse exercício de imaginação não é para avaliar a nossa memória, mas, serve para mostrar que as catedrais do consumo já habitam o nosso inconsciente coletivo.

Entretanto, as pessoas buscam estes lugares porque lá estão as promessas de felicidade à sua espera. Também há uma certa obrigação civil de ser um bom consumidor, como ter lazer em shopping depois de uma semana árdua de trabalho, isto porque a ordem é imperativa: consumir é tudo de bom. O que gera uma estressante necessidade de possuir seja lá o que for. Na verdade, somos capturados pela mídia. As imagens do marketing estão em nosso imaginário social. Prometem a satisfação dos desejos desde que se coloque um preço a pagar. Começamos a viver menos nas proximidades dos outros e mais sob o olhar mudo dos objetos, que só vêm para nos reafirmar: “tenha mais, assim será mais”. Quanto mais sua vida se torna produto, mais se separa da vida. Há uma certa hipnose que faz com que a alienação do espectador frente ao objeto contemplado seja de: quanto mais olha, menos vive; quanto mais aceita o convite de reconhecimento ofertado nas imagens publicitárias, menos compreende sua própria existência e seu desejo.

Naturalizamos os excessos de um mundo artificial e levamos nossas crianças para passear no shopping center. Nunca a tirania das imagens e a submissão alienante ao império da mídia foram tão fortes quanto hoje. Há toda uma organização de um verdadeiro espetáculo que nos quer passivos, silenciosos e capturados. Não criando, mas reproduzindo pensamentos e estilos de vida apresentados como os únicos possíveis. Não críticos, mas sim alienados e conformados com os recortes de informações midiológicas que são escolhidos e mostrados como um pensamento globalizado do capital. Esse é o mundo em que vivemos. Em um documentário do roteirista e produtor de cinema Walter Moreira Salles (1962), ele entrevista um menino que trabalha como “aviãozinho” do tráfico para comprar um tênis e um boné de marca, porque, segundo ele, só assim vai ser gente. Que bela ética essa que criamos. Juntam-se o capital e o desejo de ter. A indústria do marketing e da propaganda trabalhando no império das ilusões. Que por sua vez atuam na lógica do desejo, porque os objetos deixam de estar em conexão com sua função real e necessária para se conectar com a imagem ilusória de realização. Voltamos a viver de fato na Caverna de Platão.

No entanto, associam bem-estar pessoal com qualidade de vida, a partir da aquisição de bens de uso e consumo. Conectam com o desejo de querer ter sempre mais. Sendo assim, torna-se claro que a ideologia do capitalismo é persuadir as pessoas a consumir muito além do que realmente precisam para manter a produção sempre ativa. Gosto muito de uma fala do filósofo francês Michel Foucault (1926-1984) que diz: “onde há poder, há resistência”. Portanto, sempre existem linhas de fuga que nos possibilitam fazer outras escolhas de existência. O poder se faz sentir nas relações de controle, que tentam homogeneizar nossas vontades, capturando-as para impedir que saibamos sobre nós mesmos. Se acordo insatisfeito, querendo mais de mim mesmo e do mundo, é nessa hora que sou capturado por propaganda que vai dizer o que devo ou não fazer. Será que minha vontade seria aquela da propaganda? Por acaso fiz uma pausa para pensar no meu desejo? Ou simplesmente engoli a primeira resposta que me deram? Um dos antídotos possíveis é se conhecer e aprender a pensar. Uma das funções da economia subjetiva do capitalismo é a infantilização, ou seja, que não pensemos para não resistirmos.

Portanto, todos nós somos afetados pela necessidade de consumir. No exemplo do menino do tráfico, ele como todos os meninos, também querem um tênis de marca. Mas para conseguir o que deseja, tem que ser aviãozinho. O escritor português Prêmio Nobel de Literatura, José Saramago (1922-2010), nos faz uma provocação no seu romance “A Caverna”, quando mostra que o único lugar seguro são os shoppings center, que curiosamente não têm janelas. Ora, um lugar sem janelas é uma caverna. Quando escreveu trechos da caverna em “A Republica”, Platão (427-347 a.C.) quis evidenciar que a realidade é inventada por nós, ou seja, se vivemos em uma caverna e vemos sombras projetadas do mundo exterior, essa é a nossa realidade. Só percebemos a amplitude do mundo e as várias realidades outras se sairmos da caverna. O paralelo com nossos dias fazem-se necessário. Nesse caso a caverna é o centro comercial. A caverna engole as pessoas e as tornam prisioneiras: os consumidores atraídos pelos produtos, os fornecedores pela chance de escoar a produção, as pessoas atraídas por melhores condições de vida. Noventa e nove por cento do que existe no shopping é puro fetiche, compra-se porque é chique, não porque precisamos.                 

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