30 de maio de 2015

QUANDO O AMOR SAI DE CENA

Quando o amor sai de cena, a vida perde o colorido, nada mais faz sentido, o prazer é transformado em angustia, a relação conjugal vira uma cadeia fria, até parece que ambos estão vivendo uma vida marcada de obrigações. Porque afinal de contas à idéia que se faz do casamento é para sempre, mesmo que não haja mais amor. As pessoas com o tempo não percebem mais essa relação, não percebe mais o outro, porque acabou o diálogo e o respeito, sobretudo, o amor. Como dizia o filósofo, crítico cultural e escritor alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), ao pensar sobre a possibilidade do casamento, cada um dos cônjuges deveria fazer a seguinte pergunta: “você crê que será capaz de conversar com prazer com esta pessoa até o fim da sua vida?” Porque tudo mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo, são aquelas construídas sobre a arte da boa conversa.

Parece que o amor ficou fora de moda e o sexo tornou-se mais atraente. É comum ver casais vivendo uma vida de fachada, de aparência. Todos conhecem a estória da “raposa e as uvas”, da fábula do poeta e fabulista francês Jean de La Fontoni (1627-1695). Pessoas vivendo uma situação nada confortável no casamento e dizendo que está uma maravilha a vida conjugal, quando na verdade, está na cara de ambos que estão infelizes. Estão racionalizando uma situação infernal de ruim. Ninguém é feliz vivendo assim. A estória do limão doce, chupando limão e dizendo que está uma delícia. Isto acontece com muita frequência na vida de todos nós que não pensamos diferente, seguimos a tradição dos nossos pais e vamos repetindo os mesmos erros deles. Esta indiferença sobre o amor contaminou os sentimentos e tem afrouxado muito os relacionamentos conjugais. Os tempos são outros. Por outro lado, uma vida sem sentido, sem graça, vazia, produz doenças, todos sabemos. As pessoas, principalmente depois de algum tempo de casadas, têm dificuldades para dizer, por exemplo: “agora eu não te amo mais”. Conheço histórias em que pessoas levaram anos para se convencer de que não estavam mais interessadas um no outro. Sentimentos de culpa cristalizados.

O ideal nesses casos, pelo menos seria, usar da franqueza e dizer: “Olha, acho que não estou mais interessado em você. O encantamento e o carinho estão diminuindo muito entre nós. Já estamos há algum tempo juntos, temos patrimônio, costumes, filhos, etc. Que tal esquecermos que somos marido e mulher, que temos que se amar a vida inteira. Talvez conseguíssemos estabelecer uma meia sociedade entre nós, um clima de amizade e respeito pela individualidade um do outro, que seria um fruto amadurecido do amor que existiu entre nós. Não quero que você fique privado de amor até o fim da vida. Assim como também, não vou me privar de amor. Temos pelo menos um bom pedaço de vida em comum, uma amizade razoável de boa qualidade. Vamos continuar nossa caminhada como amigos, mas, cada um seguindo o seu caminho sem mágoas e sem rancor”. É tão evidente que o amor vai e volta, mesmo quando se gosta muito de uma pessoa. Há outros interesses na vida diária de cada um. Esta situação tem afrouxado os laços matrimoniais. Mas, o que se observa é que as pessoas continuam aí sem se mexer. Talvez por força da tradição, da educação que recebeu dos pais, pela pressão familiar, querendo mostrar um casamento ideal que nunca existiu.

Quando a gente diz isto, todos ficam de cabelo em pé. Aflora todo um preconceito e os maus sentimentos vêm juntos. Preferem toda aquela novela da separação, dos filhos que vão sofrer, da sogra que não quer a separação porque a filha está muito bem casada, o drama do ciúme. Deveriam chegar a conclusões mais claras e óbvias. Por que, se deixei de amar, tenho que odiar ou perseguir o outro? Ou então me sentir culpado? Ninguém é culpado porque ama ou porque deixou de amar. Se cuidar bem do amor, às vezes ele dura um bom tempo. Se não cuida ele acaba mais ou menos depressa. As pessoas realmente se divertem com pouco. Por que não resolver as coisas com naturalidade, serenidade e humanamente? Ninguém pode garantir que amará a vida inteira. Quem pode fazer esta promessa? Acabou-se o interesse entre duas pessoas, nem por isso precisam se maltratar. É o que muitos casais começam a fazer. Quando chega neste ponto, pensa-se logo na existência de outra pessoa. Às vezes têm e às vezes não têm. Não precisa ter outra pessoa para deixar de amar. O amor pode acabar simplesmente.

Entretanto, o nosso amor é uma miséria. Amamos na proporção do tamanho da cabeça de um alfinete e achamos que é um grande amor. Um amor que só serve para provocar brigas e cobranças. Somos egoístas até no momento de amar. Esquecemos que o amor é doação, um entregar-se constante. As pessoas esqueceram do mais importantes. Quando estão morrendo numa situação que não têm sentido para elas, sua primeira obrigação é reconquistar a sua vida, isto é, seguir os interesses vivos que estão a sua volta, que as fazem sentir viva. Podem ser uma pessoa, um curso ou um trabalho, como realização profissional. Ela tem que experimentar, para proteger a sua vida e continuá-la.   

Portanto, precisamos de um tempo para refletir sobre a manutenção deste amor. Olhar a situação de fora e sentir se estamos no caminho certo. Nós somos muito mais caprichosos, irregulares e desonestos do que dizemos. Um dos grandes enigmas da vida real da humanidade, é que não somos flor que se cheira, que não somos fácil de lidar. Quando se fala dos seres humanos, é de uma santidade e honestidade que nunca vi em lugar nenhum. Nega-se a maldade e ela aparece por todos os lados. Quando vamos pensar diferente? Contudo, quando o amor sai de cena, só é possível compensar à situação a custa de muito diálogo e boa vontade. Havendo um pouco de admiração, simpatia e afeição já se têm um lar muito afável e acolhedor, que é um bom começo para se viver num clima de harmonia. É bom lembrar que o estado mais gostoso da vida é quando a gente se encanta com uma pessoa. E nós vivemos proibindo e negando isto. Até parece que todo mundo tem que ser escravo e viver infeliz, chorando pela vida toda. Se for infeliz onde vive, com certeza está fora de lugar. Vá ao encontro da sua felicidade. “Encontre a Paz Interior”.

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