4 de junho de 2015

PARA PENSAR FILOSOFICAMENTE

A filosofia sempre esteve presente no momento histórico em que os homens e mulheres começaram a fazer perguntas sobre a sua existência. A filosofia nasceu como uma atividade de esclarecimento e de autonomia de pensar por si, conhecer a verdade do mundo, exercitar a linguagem autêntica para firmar alianças de tolerâncias e proposições de reconhecimento de igualdades. É importante que entendamos o significado da própria palavra filosofia, pois ela é utilizada de formas muito diferentes. Algumas vezes o termo é usado como “filosofia de vida”, para explicar como uma pessoa conduz a sua vida. Também vemos a palavra relacionada ao trabalho, significando como a pessoa ou um grupo organiza o tempo, as decisões e o dia a dia de sua profissão.

Há ainda a concepção de “filosofia religiosa”, dentre outros usos. Aproveito aqui para uma explicação a parte, sobre o filósofo acreditar ou não na existência de Deus. A filosofia tem uma coisa que a religião não tem que é a necessidade de certo “ateísmo metodológico”, o que isto quer dizer? O filósofo tem que ser alguém que não pode ter crenças dentro da pesquisa filosófica, ainda que se tratasse de Deus, porque para a filosofia Deus não é “impossível” ele é “improvável”. Improvável significa que não posso provar e nem negar a existência de Deus. Porque Deus não é impossível para o filósofo afirmar a sua não existência. Para isto, o filósofo teria que provar que Deus não existe. Como negar o que não posso provar? De todos esses modos, a filosofia se relaciona com a premissa de se constituir num saber, num modo de realizar alguma coisa, por assim dizer, o pensamento que organiza e que da direção a essas atividades.

No entanto, temos também a filosofia que se aprende nas escolas, que faz parte do currículo escolar. Aqui já traz consigo um pressuposto de se reconhecer como um conhecimento que envolve a história da cultura, o que pensaram os filósofos em determinados contextos e em que sentido tais ensinamentos podem nos auxiliar a pensar a vida de hoje, através do debate sobre a ética, a moral, os valores etc. Desse modo, a filosofia pode ser compreendida como um saber que tem por interesse a formação da inteligência crítica das pessoas. Na história podemos buscar informações sobre sua trajetória, constatando que de início era compreendida como um conhecimento específico, no qual só os mais aptos, “os filósofos”, poderiam opinar e entender. Nessa época a filosofia significava um modo de entender o mundo, diferente do que até então predominava, o pensamento mítico, fantasioso.

A pergunta sobre o que é e para que serve a filosofia é uma das grandes questões que acompanham, desde o surgimento e até a atualidade. Houve um tempo em que a filosofia apareceu como oposição à ciência, diante do entendimento de que esta sempre se ocupava de questões práticas e a primeira seria o exercício livre do pensamento. Sabemos que a filosofia surgiu na Grécia Antiga, sua história já contém uma longa caminhada que vai modificando o conceito de reflexão de um pequeno grupo para o estímulo do pensamento crítico e autônomo para o maior número de pessoas, até ocupar as escolas, como um conteúdo de nossa formação.

Entretanto, pensar filosoficamente é a grande intenção desse jeito de conhecer e saber, fazer com que a busca das verdades de cada situação nos auxilie a melhor entender o mundo, as pessoas, a realidade. A filosofia então tem o sentido de nos fazer pensar com nossas próprias ideias, buscando a autonomia, sem nos deixar conduzir por outras pessoas, outros saberes ou poderes; e nos dias de hoje, pelas agências de alienação e engodo coletivo, como a identidade dominante da mídia ou qualquer coisa que conduza o nosso pensamento. É por isso que a filosofia nem sempre teve uma boa aceitação no país ou entre algumas pessoas mais conservadoras. Seu compromisso em estimular o pensamento crítico e dar a oportunidade de que cada um tire suas próprias conclusões sobre as situações de sua vida, da política, da sociedade, sobre as outras pessoas, pode incomodar aqueles que não têm interesse em deixar o pensamento livre e crítico ganhar espaços em nossa sociedade.

Penso que para viver melhor, a ideia mais importante é que todos possam exercitar essa forma de pensamento, para descobrir o que há por trás do que nos é repassado pelos meios de comunicação, pelo conhecimento que aprendemos como o único válido e que comecemos a questionar as formas de viver e pensar, buscando, o grande interesse da filosofia: uma vida melhor, em que os seres humanos possam sonhar e usufruir da felicidade.

Portanto, uma vida feliz se constrói com a vivência da igualdade, do pensamento livre, da criatividade, do diálogo, no combate às situações de desigualdade, pelo respeito ao ambiente, aos direitos conquistados por crianças, jovens, adultos, mulheres, pessoas com deficiências, negros, índios e marginalizados. Exercitar o pensamento de cada um por si mesmo é um dos principais compromissos daqueles que têm como interesse a vida plena, a justiça e a felicidade como valores fundamentais do que chamamos de emancipação humana.

Um comentário:

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...