29 de junho de 2015

A RELAÇÃO PROFESSOR E ALUNO

A escola é a grande viagem para a existência humana. É a ponte entre a família e a sociedade, que atualmente ambas estão divorciadas da educação dos jovens. Embora as famílias tenham poder sobre os filhos, mas, perdeu a autoridade sobre eles. Por outro lado, a escola tornou-se o maior problema do país no aspecto estrutural, diga-se de passagem, a mais anacrônica de todas. Lembrando que na escola existe uma relação de justiça com seus alunos, mas, na prática não é bem assim. Para que funcione, é preciso existir por parte do professor uma relação de amor para com a educação. Caso contrário põe em risco o princípio de justiça. A relação professor e aluno é pautada na verticalidade, isto é, uma relação vertical, de autoridade do mestre sobre o aluno. Toda autoridade é uma relação vertical. Em que está baseada essa autoridade? Está baseada na especialidade do profissional. Por exemplo, a relação médico e paciente é uma relação de autoridade do médico sobre seu paciente. Sendo assim, o professor também é um especialista da educação, pois trabalha com ensino-aprendizagem. O individuo se torna humano pela educação e pela cultura.

No entanto, hoje temos uma educação engessada, com uma proposta pedagógica simples, para um mundo complexo. Educação se faz através do encontro humano. Produzir um conhecimento prudente para uma escola descente, propor como reflexão pontual o momento histórico. As faculdades pode até formar bons profissionais, mais não sabem formar pessoas com espírito humanista. Como diz o filósofo e teólogo Leonardo Boff (1938): “ninguém vale pelo que sabe, mas, pelo que faz com aquilo que sabe”. Contudo, temos uma escola do século XIX, muito próximo da linha de produção, que vai moldando o ser humano para um mundo tecnicista. A escola é uma caixa de terror, um vigiando o outro, a convivência entre esses profissionais é péssima. Para entender a escola temos que entender a educação, que também está ruim. O professor é do século XX, que não cultiva o hábito da leitura e muito menos da escrita. Os alunos que estão chegando a essa escola é do século XXI, domina com facilidade a tecnologia vigente, a internet.

Entretanto, se for verdade o que escreveu Platão (427-347 a.C.), que tudo que está na alma, toca a alma do outro. Então, como pode um professor que não gosta de ler, passar o gosto da leitura para seus alunos? Como pode um professor que não gosta de escrever, passar o gosto da escrita para seus alunos? Como pode uma geração de professores que não pesquisa, formar alunos pesquisadores? Como pode uma geração de professores que não tem pensamento crítico, formar senso crítico no aluno? Como pode um professor que não é sensível, formar sensibilidade em seus alunos? Como argumenta o filósofo e educador Paulo Freire (1921-1997): “Só uma geração de professores leitores, produzem uma geração de alunos leitores. Só uma geração de professores escreventes, produz uma geração de alunos escreventes e no meio deles alguns escritores. E entre esses escritores um ou dois literatos”. Nossas escolas parece mais com um arquivo morto a espera de um milagre. A primeira mudança que caberia na escola, seria a sua humanização.

Como muito bem argumenta a filósofa, educadora e escritora mineira Adélia Prado (1935): “não quero faca e nem queijo, quero é fome”. Este silogismo é de um princípio pedagógico fantástico, porque põe em evidência a nossa educação. Se tiver a faca e o queijo, e não tiver a fome, não se come queijo. Porém, se quiser comer queijo e não tiver faca e nem queijo, damos um jeito e arrumamos o queijo. Com essa metáfora, conclui-se que a educação é a faca e o queijo que está sendo oferecido aos estudantes, portanto, cabe aos professores despertar nos alunos o apetite e gosto para o conhecimento. Todo professor consciente do seu papel, sabe que sua tarefa é orientar o aluno em seu aprendizado, tornando-o mais crítico, buscando sempre seu êxito e não seu fracasso. Sua relação com os alunos é uma relação profissional que deve potencializar o aprendizado amplo, isto é, de conteúdo moral, ético, filosófico e outros, que inevitavelmente permeiam as aulas ou como temas transversais, ou como assunto que transcendam os currículos. É importante que o professor transmita valores de forma explícita aos jovens estudantes. Tendo em vista, que nenhum professor passa pelos seus alunos sem deixar sua marca. Na verdade, ele é um formador de opinião e esse é o lado político da educação.

Quanto maior for à afinidade entre professor e aluno, melhor será a sua influência do processo ensino-aprendizagem, pois mais facilmente os alunos compreenderão o sentido de estudar o que está sendo apresentando pelo professor e terão a curiosidade de buscar novas informações, que possam complementar o seu conhecimento. Porém, todo professor autoritário não se importa em saber o que seus alunos pensam. Esse tipo de professor segue a linha pedagógica tradicional. Aquela que o professor ensina e o aluno deve aprender. Não há trocas nessa relação. Provocando com isso revolta nos alunos ou uma passividade completa, levando-os a não querer fazer nada além do proposto. Trata-se daquele professor que passa muitas atividades, das quais ele se ausenta, para ocupar a turma, afim de não ser incomodado e manter a sala de aula em silêncio. Como afirma Paulo Freire: “que o bom professor é o que consegue, enquanto fala trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é um desafio e não uma cantiga de ninar. Os alunos ficam atentos e acompanham as idas e vindas de seus pensamentos, que os surpreendem causando espanto frente ao novo”.

Portanto, o diálogo ainda é a arma mais importante para o professor criar uma boa relação com seus alunos. Através do diálogo que mostramos aquele respeito que nossos alunos tanto precisam dar e, principalmente, receber. Acredito que esse espaço não seja dado pela maioria das famílias em seus lares, por isso os alunos não sabem negociar regras e limites. Por conseguinte, estamos vivendo a ética do óbvio, do semear, disseminar e plantar o futuro. Questionamos qual mundo vamos deixar para os nossos filhos e não pensamos nos filhos que vamos deixar para esse mundo. Contudo, quando tomarmos consciência de que o nosso tempo aqui é limitado, aí vamos nos concentrar no que é mais importante para cada um. Vamos buscar dentro de nós aquilo que mais nos interessa. Tendo em vista, que a vida traz pessoas queridas e momentos de felicidade, que um dia será tomado de volta. Não encontramos explicações porque essas coisas acontecem conosco, mas com o tempo nos conformamos, na esperança de que ainda haveremos de entender o verdadeiro sentido da vida. Talvez esses jovens de hoje precisarão ficar idosos para compreenderem que a vida não tem sentido algum, se não damos um significado existencial a ela. Hoje sinto no meu ímpeto, que permeia uma vontade amorosa e um desejo profundo de melhorar esse mundo em que vivemos. Morreria feliz se um dia os jovens fizessem isto por mim. 

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