26 de junho de 2015

A VIOLÊNCIA CONTRA A CRIANÇA

Falar de violência contra crianças e adolescentes não é tarefa fácil. Esse tipo de violência traz questões sociais e culturais muito fortes, como a utilização do castigo como instrumento pedagógico, da hierarquia familiar de dominação do mais forte. As agressões ocorrem na intimidade das residências da família, sendo difícil de detectá-las, pois apesar dos laços familiares poderem envolver relações de violência, também, contêm relações de carinho, amor e dependência. São certamente, situações extremamente delicadas, devendo ser enfrentadas com sensibilidade e seriedade.

A escola oferece um ambiente propício para a avaliação emocional das crianças e adolescentes por ser um espaço social relativamente fechado, intermediário entre a “família e a sociedade”. É na escola que a desempenho dos alunos pode ser avaliada e onde eles podem ser comparados estatisticamente com seus pares, com seu grupo etário e social. Dentro da sala de aula há situações psíquicas significativas, nas quais os educadores podem atuar tanto beneficamente como negativamente. O aluno pode trazer consigo um conjunto de situações endógenas ou exógenas para escola e apresentar as consequências emocionais de sua vivência social e familiar. Como muito bem disse o psiquiatra e educador Içami Tiba: “nós nascemos duas vezes, sendo que no primeiro nascimento trazemos as cargas hereditárias genéticas chamadas cromossomos. E no segundo nascimento trazemos as cargas hereditárias familiares chamadas como somos”.

De modo geral, há momentos mais estressantes na vida de qualquer criança, que reagem diferentemente diante das adversidades e necessidades adaptativas, são diferentes na maneira de lidar com as tensões da vida. É exatamente nessas fases de provação afetiva e emocional que vêm à tona as características da personalidade de cada um, as fragilidades e dificuldades adaptativas. Segundo afirmam os especialistas que as brincadeiras de crianças de quatro a sete anos, vítimas de violência física ou psicológica, revelam traumas deixados por essas agressões e pela falta de carinho dos pais.

O comportamento agressivo ou violento nas escolas é hoje o fenômeno social mais complexo e difícil de compreender, por afetar a sociedade como um todo, atingindo diretamente as crianças de todas as idades, em todas as escolas do país, nós sabemos que é um fenômeno resultante de inúmeros fatores externos como internos à escola, caracterizados pelos tipos de interações sociais, familiares e sócio-educacionais. A violência e agressividade entre os alunos, como afirma a educadora e pesquisadora Cléo Fante, pode ser desencadeada de forma repetida contra uma mesma vítima ao longo do tempo e dentro de um desequilíbrio de poder, conhecido como “bullying”, e é um fato que dificilmente pode passar despercebido a um profissional da educação, por tratar-se de um fenômeno social de grande relevância, que sutilmente vem se disseminando entre os alunos, de forma quase epidêmica.

A palavra bullying é derivada do verbo “inglês bully”, que significa usar a superioridade física para intimidar alguém, referindo-se ao adjetivo valentão, tirano. A terminologia bullying tem sido adotada em vários países como designação para explicar todo tipo de comportamento agressivo, cruel, intencional e repetitivo inerente às relações interpessoais. As vítimas são os indivíduos considerados mais fracos e frágeis dessa relação, transformados em objeto de diversão e prazer por meio de brincadeiras maldosas e intimidadoras. Estudos indicam que as simples “brincadeiras de mau-gosto” de antigamente, hoje denominadas bullying. Causam desde simples problemas de aprendizagem até sérios transtornos de comportamento, responsáveis por índices de suicídios e homicídios entre estudantes.

Segundo a psicopedagoga e coordenadora na rede pública, professora Geane de Jesus Silva afirma que: “a maioria das vítimas não tem coragem suficiente para denunciar, por medo de uma possível represália. Isso contribui com o desconhecimento e a indiferença sobre o assunto por parte dos profissionais ligados à educação”. Como argumenta o psiquiatra especialista em criança e adolescente David Léo Levisky no seu livro: Adolescência e Violência – Consequência da Realidade Brasileira: “quando a violência é banalizada ou não é identificada como sintoma de patologia social, corre-se o risco de transformá-la num valor cultural que pode ser assimilado pela criança e pelo jovem como forma de ser, um modo de auto-afirmação”.

Portanto, é nos primeiros anos escolares que podem surgir os traumas que se originam na violência sofrida tanto em casa como na escola. A educadora e pesquisadora Cléo Fante enfatiza a necessidade de resgatar a saúde emocional da criança o mais cedo possível. Faz parte do seu projeto “Educar para a Paz”, já aplicado em algumas escolas e altamente recomendado em razão dos excelentes e animadores resultados. Ao que tudo indica, parece que existe um sentimento de conformismo que é, de não levar a sério as leis em defesa da criança e do adolescente. E quando a violência infantil é denunciada, quase sempre há uma morosidade em fazer cumpri-las. Demonstrando um descaso por parte das autoridades que acabam subestimando aqueles que realmente querem acreditar na justiça.

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