20 de maio de 2015

DISCUTIR A VIDA À LUZ DA FILOSOFIA

Só escrevo por uma razão muito simples. Escrevo para compreender alguma coisa do mundo e da vida. Escrevo como se tivesse uma necessidade de explicar porque a nossa sociedade se encontra tão enferma. Talvez por ser educador, não posso fazer nada que venha a envergonhar a criança que já fui um dia. As palavras contidas nos meus escritos estão sempre ali à espera de uma voz que as ressuscitem, que as despertem. As palavras estão nos textos para ser acordadas e melhor utilizadas. É a minha consciência que determina o meu ser social. Sou movido por uma força sobrenatural, que me arrasta para um abismo de compaixão por aqueles, assim como eu também tem sentimentos. Existem pessoas andando por aí sem rumo, falando de morte, desespero, dor e sofrimento. Portanto, somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos. Sem memória não existimos. Sem responsabilidade talvez não mereçamos existir. Porém, dentro de nós há uma coisa que não tem nome e essa coisa é o que somos.

No entanto, escrevi um livro de crônicas filosóficas, já tenho outro pronto sobre o amor, pois acredito que só o amor faz as pessoas evoluírem espiritualmente. A capacidade de sentir amor faz a pessoa melhorar como ser humano. E estou escrevendo o terceiro livro que é um romance filosófico: “O Homem sem Identidade”. Tenho como premissa maior, levar os meus leitores a um pensar diferente. Um pensar mais otimista e libertador. No entanto, a minha relação com os leitores são de estima literária. Mas, também tenho razão de sobra para pensar, que pode ser uma relação de estima pessoal. Gosto de gente e gosto de olhar nos olhos das pessoas. Isto implica de certa forma uma enorme responsabilidade de nunca decepcioná-los. Quando encontro alguém que leu o meu livro ou continua lendo o meu Blog, ao olhar para essa pessoa, sinto uma emoção que não pode ser traduzida em palavras. Neste momento digo a mim mesmo. Faça alguma coisa que sirva para alguma coisa, que seja útil para alguém. É por isso que escrevo.

A gênese da filosofia é antes de tudo discutir a vida. É através da leitura que vamos encontrar o prazer na arte de pensar diferente. Um pensar á luz da filosofia. A filosofia que estuda a significação mais profunda da existência humana e aborda a problemática do conhecimento humano em geral. No entanto, a literatura filosófica tem como ponto de partida a realidade. O que é realidade? Numa sociedade de consumo como a nossa, pensa-se cada vez menos, pois a voz do consumismo é a mídia, em particular a televisiva, que com frequência nos convida a não pensar. Vivemos uma sociedade enferma, marcada pela indiferença de alguns políticos sociopatas. Penso que falta filosofia para nossa sociedade atual. Falta-nos mais reflexão, trabalhar mais o pensamento crítico. Porque sem ideias não vamos à parte alguma, não aprendemos, não crescemos como pessoa humana e muito menos produziremos um projeto de vida feliz. Vivemos inseguros e ameaçados pelo mal estar da civilização moderna. Criamos e nutrimos esses sociopatas. Contudo, não passamos de um estereótipo de formigas, escravizados e manipulados por uma ideologia de gafanhotos políticos – com todo o respeito que tenho pelos gafanhotos - (ver filme “Vida de Inseto”).

Segundo o filósofo grego Platão (427-347), considerado um dos pilares do pensamento ocidental. A sua maior contribuição na filosofia nos foi apresentado no texto “O Mito da Caverna”. Ele argumentava que uma grande parcela da humanidade se encontrava prisioneira da caverna. Isto foi dito a mais de 23 séculos. Platão criou essa alegoria da caverna, para explicar a evolução do processo do conhecimento, que mostra pessoas presas, acorrentadas olhando em frente para uma parede e vendo sombras e acreditando que isto seja a realidade. Hoje entendo o que Platão queria nos ensinar. Nunca vivemos tanto na caverna como estamos vivendo hoje. As próprias imagens que nos mostram a realidade são apresentadas de tal maneira, que substituem a própria realidade. Vivemos num mundo de imagem, audiovisual, com as pessoas aprisionadas e alienadas como na caverna. Temos a nítida ilusão que isto seja à realidade.

Entretanto, a mídia contribui e muito para a construção desta caverna, aprisionando e ofuscando a visão do povo. Porém, o espetáculo que o mundo nos oferece é de sofrimento, desigualdade e exclusão social. Sobretudo, sem nenhuma justificativa, sem nenhum sentido, mais com explicação. Podemos até explicar, mas, não justifica. Vivemos numa sociedade do capital, explorando e banalizando o erotismo e matando o amor romântico. A lógica da sociedade do capital é vender o sexo, utilizando da sensualidade como forma de sedução e, contudo, transformar o amor em mercadoria e as pessoas em lixo descartável. Uma sociedade enferma, vivendo numa total escassez de esperança.

No entanto, este tipo de sociedade despreza o amor fraterno inculcando na cabeça dos jovens ideias individualistas. Com grande apelo consumista e a negação das questões morais, sociais e ecológicas, parece que permanecemos numa espécie de ressaca ética. Ética para quem? É bom lembrar, que ética é um conjunto de valores e princípios que nós usamos para decidir as três grandes questões da vida que são: “quero, devo e posso”. Todos nós temos um princípio ético que é não pegar o que não nos pertence e, o nosso comportamento moral que vai determinar se pego ou não aquilo que não é meu. A moral nossa de cada dia está sofrendo de glaucoma. No entanto, o escritor José Saramago (1922-2010) no seu livro: “O Ensaio Sobre a Cegueira”, retrata bem esta questão da cegueira. Será que é preciso cegar todos para que enxerguemos o mal que estamos fazendo um ao outro. Estamos todos cegos, cegos das nossas leis, cegos da razão, cegos da sensibilidade, cegos do nosso egoísmo, cegos da nossa crueldade e violência. Todos estão enclausurados na caverna da indiferença, da insensibilidade e da incapacidade de ver e enxergar o seu semelhante.

Andamos pelas ruas parecendo cadáveres ambulantes, meio embotado, mergulhados num sonambulismo incomensurável. Basicamente vivemos uma vida automatizada sem a menor consciência de quem somos. Com a velocidade da era da informática e do mundo virtual, a ciência e a técnica se constituíram na glória e na miséria humana do presente século. Pensamento totalizado, ou seja, somos levados a um pensamento único e uniforme, que é o da globalização econômica, que substitui o pensar crítico. Na verdade, crescemos muito em tecnologia nos últimos anos e atrofiamos espiritualmente. Vivemos a era da mecanização dos homens e a espiritualização das máquinas. Atualmente é a máquina que dita às regras do jogo e determina o pensamento do homem. Por outro lado, a nossa educação está engessada. As escolas na sua maioria nos oferecem propostas simples para um mundo complexo, o politicamente correto. Nossas crianças estão ficando mais tempo em frente do computador, o que significa, sobretudo, colonizar os pobres inocentes.

Há uma intolerância na sociedade, acompanhado de um cinismo e indiferença, frente ao momento pelo qual estamos passando. Estamos sofrendo uma lenta mudança no modo de viver, na entanto, deveríamos despertar alguma reação ou medidas preventivas. Mas, aceitamos as condições de vida decadente com uma serenidade franciscana, esperando que a solução venha do céu. O escritor suíço Oliver Cler (1961), escreveu uma fábula contando a estória da rã que não sabia que estava sendo cozida. Na verdade, não é bem uma anedota, porque põem em evidência as funestas consequências da não consciência das mudanças, sociais e ecológicas, que poderá afetar a nossa saúde, as relações afetivas e consequentemente trará danos maiores para todo o planeta. O texto de Oliver Cler, nos alerta para os cuidados, quando uma mudança acontece de modo lento e passivo, pois escapa da nossa consciência sem que desperte alguma reação. Estamos nos acostumando a tudo e o mais grave, achando isto normal e continuamos a viver como se não houvesse amanhã, completamente alienados e indiferentes ao momento mecanicista.

Falta-nos consciência do existir e significado de uma vivência digna. Como argumenta a escritora e educadora Adélia Prado (1935): “não quero faca e nem queijo, quero é fome”. Este silogismo é de um princípio pedagógico fantástico, porque põe em evidência a nossa educação. O leitor pode estar se perguntando o que a educação tem a ver com essa frase. Pois, tem tudo a ver. Se tiver faca e queijo, e não tiver fome, ninguém come. Agora, se quiser comer queijo e não tiver faca e nem queijo, damos um jeito e arrumamos o queijo. Contudo, conclui-se que a educação é faca e o queijo que está sendo oferecido. Aproveitando a metáfora, cabe ao professor despertar no aluno o apetite. No entanto, o escritor Prêmio Nobel de Literatura José Saramago, nos coloca diante de um enigma: “Há venenos tão lento que quando vem a fazer efeito já nem nos lembramos de sua origem”. Nesta mesma linha de raciocínio, cito outro grande escritor francês renascentista do século XVI François Rabelais (1494-1553), escreveu esta frase: “Conheço muitos que não puderam quando deviam, porque não quiseram quando podiam”. Tem coisas na vida que é melhor começar cedo, antes que seja tarde.

Portanto, encerro esta reflexão à luz da filosofia, com uma mensagem de otimismo e esperança, proferida por um pastor protestante e ativista político estadunidense. Tornou-se um dos mais importantes líderes mundial do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos e no mundo, com a campanha da não violência e de amor ao próximo. Por esse seu trabalho em prol da paz, no dia 14 de outubro de 1964, ele recebeu o Prêmio Nobel da Paz, pelo combate à desigualdade racial através da não violência. Por capricho do destino, ele morreu assassinado faltando alguns meses para completar dois anos do prêmio máximo pela paz, exatamente, no dia 04 de abril de 1968 nos Estados Unidos. Estou falando de Martin Luther King, que deixou essa frase lapidar gravada a fogo e a ferro, no coração de todos os brancos e negros estadunidense: “Não somos o que deveríamos ser; não somos o que queríamos ser; não somos o que iremos ser. Mas, graças a Deus; não somos o que éramos”.       

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