2 de maio de 2018

VIVEMOS DA OPINIÃO ALHEIA

Muito bem nos lembrou o filósofo francês Michel Foucault (1926-1984), no seu livro: “As Palavras e as Coisas”: “O homem é uma invenção recente e já fadado a desaparecer”. Encaro isso quase como uma profecia. Existir por si só já é algo misterioso. Afinal, quem somos? Qual o sentido da vida para nós? O que significa dizer sou livre? E até que ponto posso conhecer a minha realidade? Eis a questão! Nossa existência está fragilizada. Pois essas indagações, entre tantas outras, incidem sobre a compreensão que possamos ter da vida, assim como das nossas relações com os outros. A nossa visão de mundo está afetado, se pararmos para pensar em desvendar tais indagações. Pois, só faz perguntas quem questiona a pretensa obviedade das coisas. Para tanto, precisamos saber que não compreendemos os mistérios da vida.

Dentre outras razões, o filósofo é amigo da sabedoria: “Quanto mais eu sei, mais eu sei que nada sei”. O filósofo sabe que a cada encontro, de uma nova ideia surge um novo ponto de partida, por estar incompleta. Temos muito que saber e aprender sobre ela. De modo que a filosofia, desde as suas origens, na Grécia Antiga, requer uma mutação do olhar e de nossas relações com a vida e com o conhecimento. Nesse caso, será preciso exercitar certo estranhamento diante da realidade, desde as coisas mais simples ou aparentemente sabidas. Há aqui uma atitude, onde o pensar é desafiador a ir além de si mesmo. O ponto de partida é a perplexidade e admiração frente a essa realidade, sendo assim, a filosofia torna-se um convite ao diálogo. Tendo em vista, que a gênese da filosofia é antes de tudo discutir a vida.

Entretanto, dialogar envolve um aprendizado de escutar o outro e, dada essa condição, a cooperação em uma construção conjunta do conhecimento. É bom que se diga, no diálogo não disputamos ideias, mas, em solidariedade investigativa, acompanhamos o raciocínio do nosso interlocutor, testando hipóteses, observando contradições, construindo novas formas de abordar um tema, conhecendo o nosso próprio processo de conhecer. Mais que isso, dialogar é ouvir também o silêncio das vivências que impregnam as ideias e as interrogações do outro, para que possamos partilhar um caminho a seguir. Ao raciocinar sobre essas vivências, fica patente a forma como cada um de nós se relaciona com a sua existência e com o seu crescimento. Entretanto, assim surge um convite a pensar no que não foi pensado, e ir ao encontro dos nossos próprios limites e da nossa condição de superação.

Portanto, um convite em direção ao alargamento de nossos horizontes, põe em jogo a nossa relação com o mundo, com o meu próximo, comigo mesmo e com o conhecimento. Porém, o caminho é duplo, um trabalho interior interagindo com as relações educativas que mantemos com os demais. De modo que, a jornada de nossas vidas nos faz simultaneamente sós e acompanhados, quando conjugamos a aventura de ser “Eu” com as outras pessoas e também de sermos “Nós” na gradativa descoberta e invenção do sentido de nossa condição humana. Tendo em vista, que ao propor a busca do sentido da vida, deveremos tocar de algum modo, em seus mistérios. Só assim poderá tornar a vida ainda mais interessante e fantástica. Nesta relação de reciprocidade se vai o medo e reforça a nossa esperança. Pois, é do amor que brota a esperança.

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