7 de janeiro de 2017

EU SOU ASSIM MESMO E PARA QUEM EU SOU?

A pessoa que ficar na afirmativa: “eu sou assim mesmo”, sempre vai achar uma justificativa para escapar do seu egoísmo. Está explícito nesta frase, toda a sua arrogância e prepotência. Tipo: “quem quiser que me ame como eu sou”. Essa pessoa está fechada para o amor. Ao contrário da pergunta para quem eu sou? Com efeito, começamos a enxergar a possibilidade de amar. Ficar na afirmativa eu sou assim mesmo, nunca vamos conseguir amar ninguém. O máximo que vamos conseguir é se amar no outro, isto é, usar o outro para me amar. Por que amamos uma determinada pessoa e não a outra? É porque aquela pessoa me faz feliz. Onde está o centro? Veja, aquela pessoa me faz feliz, me faz realizada, me compreende, está sempre a minha disposição nas horas que preciso. Então, quem é o centro?  

Isto não é amor, e sim egoísmo, é usar uma pessoa para satisfazer-me. Isto é apenas gostar do outro. De modo que, a diferença entre amar e gostar de uma pessoa está na percepção que tenho dela. Gostar é vê-la como um objeto de uso pessoal, como um sapato, uma roupa, que quando não servir mais jogo fora. Estamos coisificando o outro, aqui não há relacionamento interpessoal. Eu simplesmente me basto. Porque o gostar está fora de si, jamais vamos amar um sapato ou uma roupa. São objetos para meu uso pessoal. Então, não é assim que a sociedade faz conosco? Somos o tempo todo usados e manipulados por falsas ideologias, além de pessoas maldosas ao nosso lado.

Não queremos ficar sozinhos e aí buscamos alguém para preencher esse vazio, mas, também não queremos compromisso. Com efeito, quero alguém para gostar em quanto me servir. Nesse sentindo, é comum na família um usar o outro. Uma família que não supera o: “eu sou assim mesmo”, “para quem eu sou” não conseguem se amar. Um casal que não chegar à experiência de para quem nós somos não se realizará no amor pleno. No entanto, qual a maior fonte de tristeza e doenças para o ser humano? É lamentável constatar que ainda hoje com todos os meios de comunicação, a maior fonte de tristeza e doenças está na família. É na família o lugar onde menos se conversa e menos se respeita. Dizem que a família é a “célula mater” da sociedade. Então, como explicar as razões de tanta violência em nossa sociedade? As famílias se amam eventualmente e se trai sistematicamente.

Por isso ela tornou-se a maior fonte de desgraça e doenças do mundo moderno. Todos vêm de uma família. Uma soma espantosa de casais que estão contaminados por um vírus mortífero, começando pela falta de amor entre ambos, até chegar às doenças mais graves de ordem psicossomática. O tédio da vida sem graça e sem estimulo. O casal que deveria ser o santuário de amor e vida, agora virou o túmulo da morte. Morreram um para o outro e ainda não desconfiaram. Vivem como múmias ambulantes. Para constatar faça uma enquete com a seguinte pergunta: “quais foram às pessoas que mais te machucaram?” São aquelas que estão próxima e diz que te ama. Não há algo de errado nisso? Como posso amar e machucar ao mesmo tempo?

A começar por pessoas muito próximas e íntimas de nós como: “pai, mãe, marido, esposa, filhos, irmãos, sócios, namorados” e por aí vai. Como diz o cantor e compositor Caetano Veloso (1942): “de perto ninguém é normal”. Convive muito tempo com alguém, logo descobrirá suas manias e defeitos. Se ficarmos no campo do eu sou assim mesmo, qualquer coisa que o outro fizer vai nos ofender. Agora se jogarmos essa pergunta para os nossos relacionamentos, para quem nós somos, teremos outra postura. No entanto, não podemos deixar que nada machuque esta verdade absoluta, que é o amor que sentimos. Só assim é possível amar, ao contrario do: eu sou assim mesmo, nunca vamos atingir a satisfação plena desse amor. Amo o que o outro é para mim, e não a pessoa que ele é. O meu juízo de valor neste caso está equivocado.

Entretanto, o amor mais lindo do mundo vai se transformando em desgraça. Por que Caim matou Abel? Porque ele não perguntou para quem nós somos. Seu egoísmo não deixou enxergar Deus no seu irmão. Sentiu-se ofendido por Abel, logo o matou. Amor egoísta é capaz de matar o outro por rancor e ódio. Ofendeu a mim? Então, começo acumular magoa, acumular ressentimentos, tristeza, porque a pessoa ofendeu-me. Enquanto ficarmos nessa, não saímos dessa. A pessoa não vai ser feliz, não vai conseguir amar de verdade. Vai tornar-se uma pessoa doente e queixosa de difícil relacionamento. Sempre reclamando, não está feliz com nada. Converse com uma pessoa com depressão, logo percebe a causa, vida sem graça e sem sentido. Usa uma mascara para disfarçar. Põe um sorriso de fotografia no rosto e continua a vida, mastigando a coisa meio azeda e meio amarga. Racionaliza os conflitos.

Portanto, para o cristão sem Deus é impossível amar. O evangelista do amor São João diz: “caríssimos irmãos, amemos uns aos outros porque o amor vem de Deus, todo aquele que ama é nascido de Deus e o conhece. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor". Ora, sem Deus não existe amor. Amar é dar Deus para o outro. Amar é estar juntos nos braços da divindade. Então, por que vou brigar com quem eu amo se ele também é de Deus? Contudo, aquela pessoa que você ama se não der Deus a ela e vice e versa, esse amor vai acabar. Não tem coisa mais dolorida no mundo que o amor que acabou. Nada machuca mais, nada fere mais. Sendo que um inimigo pode nos fazer muito mal, mas só um amigo pode nos destruir, porque ele nos conhece. Só ele pode destruir a imagem que temos de nós. Infelizmente vivemos de imagem, por isso os outros tem poder sobre nós. Contudo, pai e mãe querem dar um futuro garantido para seus filhos? Então, comece a dar pela metade os bens materiais que vem dando e comece a dar em dobro o tempo e o amor que não vem dando. Estará formando e educando pessoas para o mundo, “para quem eu sou”. Só assim teremos seres humanos, genuínos, autênticos, plenos de amor e bondade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...