14 de janeiro de 2017

VOLTANDO A ENSINAR COM A MESMA ALEGRIA

Sempre achei que o propósito dos professores era ensinar a felicidade. Mas, não conheço nenhum aluno que concorde com isto. Pelo simples momento que atravessa a nossa educação, fica difícil acreditar nessa tal felicidade. Se os alunos já tivessem aprendido as lições da política, me acusariam de porta voz da classe dominante. Pois, como todos sabem, mas ninguém tem coragem de dizer, que toda escola ou universidade tem uma classe dominante e uma classe dominada: a primeira, formada por professores e gestores, é quem detém o monopólio do saber, e a segunda, formada pelos alunos, que detém o monopólio da ignorância, e que deve submeter o seu comportamento e o seu pensamento aos seus superiores, se desejar passar de ano. Basta contemplar os olhos amedrontados das crianças e os seus rostos cheios de ansiedade para compreender que a escolha lhe traz sofrimento. Se fizermos uma pesquisa entre os alunos sobre as suas experiências de alegria na escola ou na universidade, eles terão muito que falar sobre as amizades e companheirismo entre eles, e serão poucas as referências à alegria de estudar, compreender e aprender.

A classe dominante argumentará que o testemunho dos alunos não deve ser levado em consideração. Eles não sabem o que dizem. Quem sabe são os professores e os gestores. Acontece que os alunos não estão sozinhos neste julgamento. Não me espanto, portanto, que o aluno tenha aprendido tão pouco na escola e muito mais fora dela. É de fato, difícil amar as disciplinas representadas por rostos e vozes que não querem ser amados. Concordo com o escritor e dramaturgo Paul Goodman (1911-1972) na sua afirmação de que a maioria dos estudantes nos colégios e universidades não deseja estar lá. Estão lá porque são obrigados. Poderá haver sofrimento maior para uma criança ou um adolescente que ser forçado a mover-se numa floresta de informações que ele não consegue compreender, e que nenhuma relação parece ter com sua vida? Nota-se que sua inteligência foi intimada pelos professores e, por isto, ficou paralisada.

Nenhum profissional da educação pensou em avaliar a alegria dos estudantes. Porque a alegria é uma condição interior, uma experiência de riqueza e de liberdade de pensamentos. Como dizia o filósofo e educador Rubem Alves (1933-2014): “a educação, fascinada pelo conhecimento do mundo, esqueceu-se de que sua vocação é despertar o potencial único que jaz adormecido em cada estudante”. Daí o paradoxo, quanto maior o conhecimento, menor a sabedoria. O poeta e dramaturgo inglês Prêmio Nobel de Literatura, Thomas Stearns Eliot (1888-1965), fazia esta terrível pergunta, que deveria ser motivo de meditação para todos os professores: “onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento?”

Portanto, educar tem uma coisa chamada vivência compartilhada. A criança é um ser que aprende a linguagem, a leitura e a escrita como mediação para sua humanização. O ofício de ensinar não é para aventureiros. O professor que traz consigo a alegria de ensinar é capaz de dizer aos seus alunos: “posso fazer de vocês melhor do que eu, pois, não tive professor tão bom quanto sou para vocês”. Contudo, nós professores somos pastores da alegria, e que a nossa responsabilidade primeira é definida por um rosto que nos faz um pedido: “por favor, me ajude a ser feliz”.

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