17 de abril de 2016

É NA ALMA QUE O AMOR MORA

Ao falar de amor, a ideia que vem a nossa mente é que vamos falar de coisas do coração. De certo modo, um pouco é isso mesmo. Mas, não é no coração a morada do amor, e sim na alma. O coração bate solto dentro do peito. Mas, a alma é uma rocha branca onde estão crivados os sinais indecifráveis da nossa existência. Afinal, o que é a alma? É o que resta depois de tudo o que fizemos e dissemos. No momento em que alguém dizer uma coisa, que nunca ouvimos, mas que reconhecemos como algo pessoal. Em que mergulhamos sem querer, como se estivéssemos a visitar uma verdade que desconfiávamos existir, de onde desconfiamos ter vindo, mas aonde nunca tínhamos conseguido voltar. Só sabemos que o coração ama, mas, é na alma que o amor mora.

As almas gêmeas quase nunca se encontram, mas, quando se encontram, abraçam-se. A alma é de tal maneira que é aquilo, exatamente, de que não se pode falar. A não ser que se encontre uma alma gêmea. Gêmea não é igual. É parecida. Não é um espelho. É uma janela. O desejo de encontrar uma alma gêmea não é o desejo de reafirmarmos a unidade da nossa existência através de outro que é igual a nós. Muitos duvidam que tenham uma alma. A alma gêmea é a prova de que não estamos sozinhos. Assim como também a prova de que a alma existe. Basta o amor fazer eco, para uma alma começar um curto-circuito com os fusíveis do corpo, coração e razão.

De modo, que o estado normal de duas almas gêmeas é o silêncio, não é preciso falar, basta um olhar. Não é a paz dos amantes e nem a cumplicidade muda. Duas almas envolvidas não precisa de amor e nem de amizade para se entender. As almas acham-se. Não tem passado. Não se esforçaram. Simplesmente estão. Esse estar é a maior paz do mundo. Como é que um ninho pode ser ninho de outro ninho? Duas almas gêmeas podem ser. No entanto, como que se reconhece a alma gêmea? No abraço. O coração para de bater. A existência é interrompida. No abraço dos amantes, há sensação, do corpo, do tempo e do coração. No abraço de duas almas gêmeas, quando se amam, o abraço parece o fim. A pessoa sente-se, ao mesmo tempo, protegida e protetora.

Entretanto, a paz é inteira neste momento. Nenhum outro gesto, nenhuma outra palavra é precisa para completá-la. Pode passar a vida toda, não importa. As almas gêmeas se falam mesmo na distância dos corpos. Quando duas almas gêmeas se abraçam, sente-se o alívio imenso de não ter que viver. Não há necessidade, nem desejo e muito menos pensamento. A sensação é de sermos uma alma no ar que reencontrou a sua casa, que voltou finalmente ao seu lugar, como se o outro corpo fosse o nosso que perdemos desde quando nascemos. De modo, que quando nos apaixonamos, o amor nos levanta pela alma e põe-nos a cabeça a voar, tonta de tão feliz e feliz de tão tonta. Não importa onde se está ou o que se está a fazer. O que importa é estar ao lado do seu amor. O amor nunca fica resolvido nem se alcança. Cada pormenor é dramático. De cada um tudo depende. Não é qualquer gesto que pode ser romântico ou trágico. Todos os gestos são. É assim o amor. 

Portanto, se o amor for grande, a espera não será eterna, os problemas não serão dilemas, e a distância será vencida. Se a compreensão insistir, as brigas enfraquecerão, os fatos farão nos rir e os diálogos marcarão este amor. Se o respeito prevalecer, os caminhos serão doces e suaves, os beijos profundos e cheios de amor, assim como os abraços calorosos e confortantes. Porém, se a confiança existir, a dúvida se extinguirá, as perguntas serão respondidas e, as palavras poderão ser ditas. Talvez não seja um amor eterno. E não é um amor doentio, nem um amor ideal. Mas um amor verdadeiro. Para aquele que vence as barreiras impostas pela vida e pelas ocasiões. Para aquele que não teme a escolha. E faz a opção de simplesmente ser intensamente vivido. Para alguns mortais, a alma gêmea é o palácio do amor.  

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