10 de abril de 2016

DA PROSA AO POEMA

Para fundamentar essa prosa e transformá-la posteriormente em poema, recorro-me ao filósofo alemão e crítico cultural Friedrich Nietzsche (1844-1900), que diz: “qualquer pessoa que ao pensar na possibilidade de casamento ou de morar juntos, cada um deveria fazer a seguinte pergunta: você acredita que será capaz de conversar com prazer com esta pessoa até o fim dos seus dias?” A propósito, o casamento além de transitório, ele não foi feito para a felicidade humana e sim para a organização social das famílias. Na questão sexo, a situação é ainda mais complicada, sobretudo, pelo seu prazo de validade, que dura em média de um ano a um ano e meio, como afirma a psicanalista e escritora Regina Navarro Lins (1948), autora do livro: “A Cama na Varanda”. Segundo ela o casamento é o lugar onde menos se faz sexo. Todavia, a preocupação de Nietzsche vai além, pois, uma relação intima é recorrente de uma boa conversa. Sendo o amor uma amizade constituída.

Nesta perspectiva, vamos examinar de perto uma das coisas mais linda que a natureza criou que é o encontro amoroso. Esse contato vivo de intimidade profunda, de total embriaguez de espírito. O fato de estar encantado por alguém que nos prendeu primeiro pelo olhar e depois pela conversa agradável é um dos momentos que transcende. A boa prosa é o fermento para a preservação dos encontros afetivos. Quantas qualidades boas se manifestam nesses encontros a começar pelo carinho, admiração e a ternura. Pois, uma das coisas que mais gosto de fazer na vida é conversar e conversar com a pessoa amada, é caminhar de mãos dadas pelo paraíso ao encontro da divindade. Não é sempre que temos companhias tão ilustre como da pessoa que amamos. É como se o amor estivesse de braços dados com a alma. Nesse sentido, a pessoa que amo torna-se moradora cativa dos meus pensamentos. Por exemplo, enquanto estou aqui escrevendo, você está aí lendo o que acabei de escrever. Estamos conectados um ao outro. Você é fonte inesgotável da minha inspiração, que se materializa nos meus escritos, como a representante máxima do meu coração.

No entanto, a prosa torna-se aproximação física do que já existe na forma espiritual. São atribuições que trago desde criança. Sobretudo, o gosto pela prosa que herdei da minha saudosa mãezinha. Mas, foi através desse amor que afinou a nossa prosa. Agora posso dizer que é uma longa conversa para a vida toda, com um toque refinado de amor, que ganhou ritmo e harmonia dessa prosa em poema. Neste sentido, a tese de Nietzsche reforça a importância do diálogo nas relações afetivas, afirmando que trilhar por esse caminho é andar lado a lado até o fim dos nossos dias, brindado por esse amor. Passei quatro anos e meio pensando num verso que traduzisse a alma desse sentimento. No entanto, esse amor está dentro de nós inquieto e vivo, como uma flor presa ao galho da sua árvore. Mas, isto que brota do meu coração, está prestes a virar poesia nos seus lábios e inundar a nossa alma, numa correnteza de emoção.

Da prosa ao poema a gente compreende que pode entristecer-se com o outro por vários motivos ou nenhum motivo aparente, a tristeza pode ser por nós mesmos ou pelas dores do mundo, pode advir de uma palavra ou de um gesto, mas que ela sempre aparece e devemos nos aprontar para recebê-la, porque existe uma alegria inesperada na tristeza, que vem do fato de ainda conseguirmos senti-la. Se pelo caminho como já aconteceu, encontrares uma alma que te queira bem, aceita em silêncio o suave ardor da sua benquerença. Mas, não lhe peça coisa alguma, não exijas e não reclames nada do ente querido. Receba com amor o que com amor lhe é dado, porém, quanto mais querida te for essa alma, tanto mais lhe serve, sem nada esperar. Pois duas almas que se tocam não impõe dever e nem obrigação. Se não for assim, colocará em risco o amor, começando pela agonia dos corpos até a separação das almas. Só num clima de absoluta espontaneidade poderá sobreviver esta plantinha tão delicada que é o nosso amor.

Entretanto, ainda que seus caminhos os separem conduzindo aos confins do universo, talvez a mais extrema distância do calor corpóreo dessa plantinha. Se entre essa alma e a tua existir afinidade espiritual, não há distância, não há no universo espaço bastante grande que de você possa alhear essa alma. Mas, se não vigorar afinidade espiritual entre ambos, poderá essa alma viver contigo sob o mesmo teto e contigo sentar-se à mesma mesa, não será tua, nem haverá entre vós verdadeira união e felicidade. Para uma pessoa apaixonada viver na paz, a proximidade espiritual é tudo. A distância material não é nada diante de uma grande afinidade amorosa. É isto que denota uma grande história de amor. Reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar autor da própria história.

Portanto, pior que a convicção do não e a incerteza do talvez, seja a desilusão de não viver um grande amor. O que mais nos incomoda e nos entristece é saber que tudo poderia ter sido e não foi. Basta pensar nas oportunidades que escapam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de protelar. Sobra covardia e falta coragem até para ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. A resposta nós sabemos, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos cumprimentos. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. Para aquilo que não podemos mudar resta-nos somente a paciência. Porém, para os erros há o perdão e para o fracasso novas oportunidades, para um amor impossível existe o tempo, nosso mestre. Pois só o tempo é capaz de entender um grande amor.   

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