5 de abril de 2016

A ARTE DE ESCREVER

Ao ler o livro: “A Arte de Escrever”, do filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), é preciso levar em conta o contexto em que os ensaios foram escritos, mais precisamente em 1851. Muitas das críticas ainda são presentes até hoje no universo literário, enquanto outras não servem tanto para os leitores brasileiros, visto que o índice de leitura em nosso país e a cultura literária é menor do que na Alemanha. É preciso ler Schopenhauer com critério de profundidade para não confundir o seu pensamento, sobretudo, quando ele afirma que o excesso de leitura e aprendizagem é prejudicial ao próprio pensamento, assim como a escrita e o ensino, ambos podem atrapalhar o saber e a compreensão de um pensamento. Entendendo o contexto dessa afirmativa, observamos que na Alemanha a educação sempre foi prioridade, além de ser melhor do que no Brasil.

Em outras palavras, devido aos interesses da época, por obras de filosofia, literatura clássica e de pensadores, esse conselho de Schopenhauer, pode ser mal interpretado pelos leitores, por passar a ideia de ler menos, enquanto um dos principais problemas no nosso país é o alto índice de pessoas incapazes de ler e interpretar textos corretamente. Todavia, seus textos fazem sucessos entre os autores e interessados no conhecimento transmitido pelo filósofo, porém, como ele próprio ressalta ao longo do livro, cabe a cada um reservar um tempo livre, para pensar e desenvolver suas próprias conclusões. Para Schopenhauer, o excesso de leitura atrapalha pelo simples fato de pensar o que o autor pensou e não o que pensamos de fato sobre o mundo. É razão para que nos julguemos vivendo um tipo de vida incomum. A atmosfera de nossa vida de pensamentos está povoada de ideias de filósofos, que acumulamos ao longo da vida, sem ter a menor consciência disto.

Todavia, corremos o risco de virar um conteudista, sobretudo, por não criar nossos próprios pensamentos. O livro aborda ainda a diferença entre quem buscou o conhecimento através da literatura e quem aprendeu com o mundo. Tendo em vista, que a espécie humana da muita importância à instrução e a verdade como absoluta. Nesse sentido, as aparências também podem nos enganar. Existem professores na sua maioria que ensinam para ganhar dinheiro e não se esforçam pela sabedoria, mas pelo critério que ganham dando a impressão de possuí-la. Sendo assim, os alunos não aprendem para ganhar conhecimento e se instruir, mas, para ganhar ares de importantes.

O livro aborda ainda, alguns aspectos da visão de Schopenhauer sobre a linguagem, por exemplo: “como a imperfeição das traduções, a literatura de consumo, problemas com o estilo de escrita e a importância de desenvolver seu próprio pensamento”. Tentando solucionar a questão da educação, o filósofo alemão, sugeri que antes de cursar a graduação escolhida na universidade, os alunos deveriam ser obrigados a estudar filosofia no mínimo por um ano. Schopenhauer argumenta que: “só é possível pensar com profundidade sobre o que se sabe, depois de aprender algo sobre o mundo. Mas, também só se sabe aquilo sobre o que se pensou com profundidade”. Vale lembrar que o filósofo prussiano Immanuel Kant (1724-1804), mostrou ao mundo que o fundamento do conhecimento humano reside no próprio homem e não nas coisas que ele julga conhecer. Esse foi o ponto de partida para Schopenhauer construir a sua filosofia.   

O filósofo alemão Arthur Schopenhauer, conclui seu raciocínio classificando os escritores em três modalidades: Aqueles que escrevem sem pensar e sem planejar. Escrevem a partir da memória, das reminiscências, ou mesmo diretamente dos livros dos outros, em função do assunto (pensamento e experiências). Esta classe é a mais numerosa. Em segundo lugar, vêm aqueles que pensam enquanto escrevem. Ou seja, pensam escrevendo. São muito vulgares porque escrevem por escrever ou para informar sobre algo (por dinheiro). Em terceiro lugar, temos aqueles que pensaram antes de começar a escrever. Escrevem simplesmente porque pensaram e planejaram seus ensaios. Sendo esse último o mais raro e o mais valioso dos escritores. São poucos os escritores que pensam seriamente antes de começar a escrever. A maioria pensa simplesmente em acumular o maior número possível de livros publicados, sobre qualquer assunto. Necessitam do estímulo e ideias produzidas por outras pessoas para conseguirem pensar. São temas imediatos, de modo que ficam constantemente sob a influência e, consequentemente, nunca alcançaram a verdadeira originalidade dos seus escritos.

Portanto, para Schopenhauer, só vale a pena ler obra daquele que escreve diretamente a partir da sua própria cabeça. Ficou claro que as revistas literárias que valorizam o mercado editorial em vez da qualidade literária são criticadas pelo filósofo, bem como os críticos anônimos, ocupação que deveria ser considerada proibida para ele. Enfim, entre os conselhos de como escrever e produzir textos, deixado por Schopenhauer estão: “sempre evitar a prolixidade; ter estilo próprio; aprender com os erros de outros autores; aprender a usar metáforas; ter algo a dizer; planejar o texto antes de escrevê-lo”. Só posso dizer que a leitura desse livro “A Arte de Escrever”, em muito vai ajudar, aqueles que dele fizerem uso. Contudo, aprendi muito sobre a arte da escrita e o estilo literário a ser seguido. Neste livro o filósofo alemão sutilmente faz uma denuncia, mostrando um dos mais recorrentes subterfúgios de escritores e pensadores, que é rebuscar o texto para fazê-lo aparentar ter estilo e conteúdo. Ele aborda as limitações das traduções, dando como exemplo a dificuldade de se traduzir poemas e a importância de aprender mais sobre os diversos elementos que compõem a escrita.

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