30 de março de 2016

POR QUE AMO A LITERATURA?

Se me perguntar hoje por que amo a literatura? A resposta que me vem espontaneamente à cabeça: “porque ela me ajuda a viver”. Não é mais o caso de pedir a ela, como ocorria na adolescência, que me preservasse das feridas que eu poderia sofrer nos encontros com as pessoas reais, em lugar de excluir as experiências vividas, ela me faz descobrir mundos que se colocam em continuidade com essas experiências e me permite melhor compreendê-las. Não creio ser o único a vê-la assim. Mais densa e mais eloquente que a vida cotidiana, mas não radicalmente diferente. A literatura amplia o nosso universo, incita-nos a imaginar outras maneiras de concebê-lo e organizá-lo. Somos todos feitos do que os outros seres humanos nos dão: “primeiro nossos pais, depois aqueles que nos cercam; a literatura abre ao infinito essa possibilidade de interação com os outros e, por isso, nos enriquece infinitamente”.

Para o sujeito poético, literatura é como um ato de liberdade, pois é como, sair pelo mundo em busca de aventura, de experiências. No entanto, suas expectativas são contrariadas em muito, entre novas perspectivas que abrem seu horizonte de conhecimento. E isto lhe ajuda a viver na plenitude e harmonia com seus dois mundos. O mundo de dentro e o de fora. Nosso desejo de manter contato com a literatura e por meio dela poder sonhar com mundos possíveis e até mesmo mundos impossíveis, é muito mais do que uma vontade, é uma necessidade que não se restringe a algumas pessoas, mas é inerente a todo ser humano. É como uma carta de amor escrita em verso e prosa. Um prazer incomensurável para quem escreve e para quem recebe.

Por conseguinte, a literatura aparece claramente como uma manifestação universal de todos os homens em todos os tempos. Não há povo e não há homem que possa viver sem ela, isto é, sem a possibilidade de entrar em contato com alguma espécie de fábula. Assim como todos sonham todas as noites, ninguém é capaz de passar um dia sem alguma entrega ao universo literário. O sonho assegura durante o sono a presença indispensável deste universo, independentemente da nossa vontade. Vale lembrar, que sempre é um erro querer transferir para a literatura a tolerância que, na sociedade é preciso ter com as pessoas estúpidas e descerebradas que se encontram por todos os lados. Em geral, a cordialidade proveniente da sociedade é um elemento estranho na literatura, com frequência um elemento danoso, porque exige que se chame o ruim de bom, contrariando diretamente tanto os objetivos da ciência quanto o das artes. A sociedade não respeita o trabalho literário.

Portanto, diante dessa constatação defendo a ideia que o acesso à literatura não deve ser um privilegio garantido a apenas alguns, mas um direito de todos. A exemplo dos demais direitos humanos, a literatura deve ser considerada incompreensível, ou seja, por isso mesmo essencial ao homem, visto que talvez não haja equilíbrio social sem a literatura e uma vez que ela confirma o homem na sua humanidade, inclusive porque atua em grande parte no subconsciente e no inconsciente humano. Contudo, quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível. Sobretudo, por ser a literatura uma ponte que liga o amor ao conhecimento.

Um comentário:

  1. Totalmente de acordo, Eduardo, a arte é redenção, salvação e construção. Gostei muito do seu blog, super parabéns!

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