21 de dezembro de 2015

LINGUAGEM E PODER

As pessoas se fazem conhecer, fisicamente, pelo corpo. Mas a mente, os sentimentos, os pensamentos, as manifestações do gostar ou não gostar de algo ou de alguém, são expressas através da linguagem. Embora o corpo mostre muito do que sentimos pela fisionomia e gestos involuntários. Então eu mostro para o mundo, desnudo-me enquanto ser, através da linguagem. Sendo a linguagem muito importante para nós humanos, como um instrumento de interação. Posso fazer com que ela transmita coisas muito positivas ou muito negativas. Com a linguagem posso levantar a moral das pessoas, trocar informações, crescer e construir juntos; ou também posso acabar com uma pessoa, principalmente se detenho o conhecimento.

Os professores, principalmente das classes populares, têm um compromisso muito grande de conseguir fazer com que aconteça esse ritual de passagem da vertente popular para vertente padrão. Porque o aluno só vai atingir a cidadania se ele tiver o domínio da linguagem. Ele vai pensar mais complexamente, tendo em vista que essa é uma maneira de ascender na vida social e no trabalho. É importante que o aluno passe por esse ritual, sem medo da linguagem, mas com a consciência da necessidade de adquirir a linguagem mais próxima do padrão formal e assim considerando que a linguagem é poder. Lembrando-se da importância de trabalhar a linguagem nas classes populares como forma de inclusão e dando a essas pessoas o direito a voz.

Não existe linguagem neutra. Toda linguagem tem o objetivo de convencer alguém de alguma coisa, até mesmo à linguagem amorosa. Quando é dito algo para alguém a linguagem tem uma intencionalidade. Por isso mesmo que ela adquire um peso. Quando desprezo a linguagem de uma pessoa, estou desprezando esta pessoa. Levando em conta a concepção de que não existe o certo e o errado, em termos de linguagem. Mas existe o expressar diferente. Por exemplo, a criança da periferia tem muito mais dificuldades com isso na escola e não é porque ela seja menos inteligente. A dificuldade existe porque ela, além de se alfabetizar, tem que aprender outra língua, diferente do que estava habituada.

Quero puxar aqui outro lado da questão, discutido num ensaio que estou escrevendo para educação, que é o drama da palavra. A relação entre a lógica da palavra e a inteligência. As pessoas vivem eternamente discutindo as relações sociais e afetivas, no pressuposto de que é com palavras que a gente se entende. E assim vão se desentendendo cada vez mais. Não existe nada linear. Quando se fala: pensamento linear está falando de causa e efeito, ou seja, uma causa produzindo um efeito em uma só linha de influência. Essa verdade linear é para muitos retardatários, a essência da ciência e da lógica. Tendo em vista, que a culpa desse atraso é da linguagem, sendo esta essencialmente linear. Forma-se nas pessoas a noção de que as coisas e os fatos também se sucedem linearmente. Uma coisa depois da outra, uma palavra depois da outra e em ordem rigorosa, ou a frase não terá sentido. Daí o vício universal, quem é o culpado ou quem devia? As duas maldições da humanidade. Esclarecendo com uma pergunta deveras inteligente: quantos são os culpados pela existência de um culpado? Quantos estão envolvidos no dever tido como de um só? Como argumentava o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900): "não existem fatos, apenas interpretações". 

Concluo com uma afirmativa do físico alemão Albert Einstein (1879-1955), nada é linear, nem a natureza, nem a visão científica, muito menos as relações amorosas. Que vive entre altos e baixos. A realidade é complexa, organizada em rede, tudo influindo sobre tudo e tudo sendo influído por tudo. Nove vezes em dez, para nove de cada dez pessoa, pensar e até entender ou compreender é falar, seja consigo mesmo, seja com alguém ou escrevendo em linha. Coincidência infeliz porque as palavras não são as coisas, nem são os fatos, nem a sucessão das palavras tem que ver com a sucessão dos fatos. Nem a sequência das palavras na frase segue a ordem do acontecido. Pois as palavras vêm sempre depois dos fatos. Contudo, só as palavras repetem e os fatos jamais. Enfim, por trás das palavras está à coisa, o pano de fundo, o significado do significante. Nesta teia da vida, tudo que vai acaba voltando. A lei do eterno retorno. 

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