16 de dezembro de 2015

ÉTICA PARA UMA EDUCAÇÃO ECOLÓGICA

Estamos conscientes que a nossa “aldeia global” é uma soma espantosa de injustiças, opressões, explorações, violência e ameaças monstruosas de destruição do planeta. No entanto, as enchentes e tempestades ratificam a vergonha e o horror em que vive a humanidade. Nesta reflexão temos como foco a análise temporal do desenvolvimento da sociedade ocidental, lembrando que essa atual crise ambiental é produto histórico de um modelo de desenvolvimento econômico, social e cultural. Esta crise veio sendo apoiada e constituída por valores e paradigmas que a transformaram no que ela é hoje. Assim a realidade atual foi reciprocamente construída e reforçada por valores relativistas. No entanto, essa crise ambiental não é simples de ser analisada, ela é complexa e afeta nossa saúde, nosso modo de vida, nossas relações sociais, a economia, tecnologia e política, daí a necessidade de ser analisada por diferentes e outros seguimentos da sociedade, ou seja, de uma maneira interdisciplinar, onde cada um faça a sua parte.

O autor do livro: “Ética e Educação Ambiental”, o filósofo e educador Mauro Grün, analisa e reconstrói esse processo histórico e identifica alguns valores e paradigmas em que se apoiou a construção da atual sociedade e ainda continua a apoiando. O autor identifica que a ética antropocêntrica surgida a partir do renascimento, como sendo uma das principais causas da degradação ambiental, esta ética centrada no ser humano, está diretamente associada ao paradigma mecanicista, o qual inaugura a visão de que a natureza é uma máquina.

Esta mudança de modelo para uma visão que deixa de lado Deus como centro de tudo e coloca neste papel o ser humano e transforma o orgânico e natural em algo mecânico. O ser humano desde então se coloca em posição central no universo e a natureza de maneira secundária. Neste momento é que ocorre cisão entre natureza e cultura, uma separação que levaria o futuro da humanidade a um antropocentrismo radical e apoiado fortemente pela razão. O livro retrata a profunda dor de um ser humano que é perder a coisa mais importante para vida de um filósofo, que é a razão.

A ciência moderna teve também um papel fundamental na difusão da lógica mecanicista da natureza, através do próprio método científico utilizado nas pesquisas, onde a natureza passa a ser não mais que, um objeto passivo de estudo dos cientistas. Percebemos que o ser humano se retira da natureza para que possa estudá-la cientificamente. Ao se retirar o ser humano se põe num lugar de descobridor e dominador da natureza. Ele não convive mais com a natureza, somente a explora. Vivemos uma ruptura de valores. A ciência e sua metodologia objetificante, os valores individualistas; pragmáticos e racionais; a cisão cartesiana entre ser humano e natureza constitui uma barreira invisível para o entendimento da crise ambiental complexa e multifacetada e também para o desenvolvimento de uma educação ambiental realmente efetiva, nas palavras do filósofo Mauro Grün que argumenta: “uma impossibilidade radical de uma educação ambiental no cartesianismo”.

Portanto, uma das possíveis saídas para que seja realizada uma educação consistente, é que haja a superação da dicotomia ser humano verso natureza. É necessário que seja superada a visão da natureza como sendo uma fotografia de uma paisagem natural na parede onde nós, não nos reconhecemos e nem nos vemos. Por uma visão de natureza, em pleno desenvolvimento e movimento, cheio de cores, sons, perspectivas, problemas, onde não somos atores em condições de atuar num cenário não menos importante, e ao mesmo tempo em que atuamos, podemos assim mudar o desenrolar da história a qualquer momento. É isso que a natureza espera de nós. “Que tenhamos plena consciência dos seus efeitos.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...