10 de janeiro de 2013

O SIGNIFICADO DA FÉ


A fé é uma palavra de origem latina que significa fides, e quer dizer: fidelidade, confiança, credibilidade. A fé é um sentimento de total fidelidade por alguma coisa ou por alguém. Somente a fé pode nos mover na direção da esperança. A esperança é um elemento intrínseco da estrutura da vida, faz parte da dinâmica do espírito humano. Por conseguinte, a fé convive com a dúvida e elimina a possível certeza que alguém possa vir a ter. Assim como crer não é a mesma coisa que ter fé. Crer é algo incerto e vago. Por exemplo, quando digo, creio que vai chover hoje, não estou afirmando. Crer em Deus, não é a mesma coisa que ter fé. Quem tem fé ou fidelidade para com Deus, estabelece perfeita sintonia de pensamento com esse Eu divino. É na verdade, um salto no abismo, isto sim é ter fé.

Todas as pessoas que tem certeza são intolerantes. Estão sempre certas sobre seus pensamentos. Por que iria ouvir ideias diferentes de outras pessoas? As pessoas que têm certeza não são abertas as novas ideias. Não são abertas ao diálogo e não estabelecem relações duradouras por acharem que estão sempre certas, no seu conceito e ideal de vida.

Por outro lado, nos foi ensinado no catecismo dominical, que o mundo criado por Deus tem muito mais coisas boas do que ruins. Nós achamos os desastres da vida desconcertantes não apenas porque são dolorosos, mas também porque são excepcionais. A maioria das pessoas se sente bem disposta para ir a luta diariamente. Com o avanço da medicina muitas das doenças hoje são curaveis. Diariamente os aviões decolam, pousam em segurança. A maior parte das vezes que enviamos nossas crianças para brincar, elas retornam para casa sãs e salvas.

Os acidentes, os roubos, o tumor que não pode ser operado, com raras as exceções, nos despedaçam frente a vida. Quando se é golpeado por algum desses fatos é muito difícil mantermos a calma. Quando se está próximo de um objeto muito grande, tudo que se pode ver é o objeto em si. Somente quando nos afastamos do problema é que podemos perceber dentro contexto que os monstros criados pelo nosso universo simbólico, não é tão assustador assim.

Quando somos desnorteados por alguma tragédia, só podemos ver e sentir a tragédia. Quem tem um ente querido morto, vítima da criminalidade, vai desejar a pena de morte a todos os bandidos e delinquentes. Apenas com o tempo e a distância veremos a tragédia no contexto da vida inteira e do mundo inteiro.

Na tradição judaica, a oração especial conhecida como Kaddish não é sobre a morte, mas sobre a vida. Ela louva a Deus por ter criado um mundo basicamente bom, em que se pode viver. Recitando aquela oração, a pessoa de luto é lembrada de tudo o que é bom e digno de ser vivido. Para o rabino Harold S. Kushner (1935), a oração Kaddish é uma afirmação de vida e esperança.

Que diferença faz a fé em nossa vida? Para que serve Deus em nossa vida se Ele nem cura e nem mata? Parece que Deus não interfere no mundo físico dos vivos. Mas, Deus faz coisas muito nobres, inspirando pessoas a se ajudarem, principalmente aquelas que foram feridas pela vida e a protegê-las do perigo quando se sentirem as sós, abandonadas ou julgadas pelo seus opressores.

Deus faz com que algumas pessoas queiram tornar-se educadores, engenheiros, médicos e enfermeiros, aplicando-se noite e dia, com sacrifício e intensidade que nenhum dinheiro pode compensar, à tarefa de sustentar a vida e aliviar a dor. Fazendo com que as pessoas se inclinem às pesquisas, focalizando sua inteligência e energia sobre as causas e as possíveis curas de algumas das tragédias imposta pela vida.

Quando eu era criança, no início do verão era tempo mais agradável em Rubião Junior, distrito de Botucatu, cidade no interior do Estado de São Paulo, onde nasci e vivi toda a minha infancia e uma parte da minha juventude. Era também uma época de apreensão para as famílias com crianças pequenas pelo receio de surtos de poliomielite. Pessoas dispostas e interessadas usaram incansavelmente a inteligência estudando muito, dedicando-se seu tempo integral a pesquisa dessa epidemia e logo descobriram a cura e esse temor foi eliminado.

Através da história humana ocorreram pestes e epidemias que varreram cidades inteiras. Os casais sabiam que tinham de ter muitos filhos para que algum deles sobrevivesse até a idade adulta. A inteligência humana chegou a uma compreensão maior das leis naturais no que diz respeito ao sanitarismo, aos germes, à imunização, aos antibióticos, conseguindo eliminar muitas daquelas doenças. E até hoje a humanidade agradece.

Deus, que não causa e nem elimina as tragédias, ajuda inspirando as pessoas a ajudarem-se. Como o rabino ortodoxo Harold S. Kushner, certa vez observou: “os seres humanos são a linguagem de Deus. Deus demonstra sua oposição ao câncer e aos defeitos de nascença, não eliminando-os ou fazendo-os acontecer apenas às pessoas ruins, mas convocando amigos e vizinhos para aliviar o fardo e preencher o vazio”.

Portanto, para quem perguntar por que ter fé ou confiar em Deus, eu diria que Deus não pode evitar as calamidades da natureza física, mas pode dar-nos inteligência, sabedoria, coragem e perseverança para superá-las. Onde mais iriamos conseguir essas qualidades que antes não tínhamos? Contudo, concluímos que Deus não pode fazer tudo, mas faz coisas muito importantes para o nosso espírito. Tudo depende da nossa fé. É a partir dessa fé que inventamos um mundo mais seguro e mais humano para se viver.     

Um comentário:

  1. Vendo desse modo, a fé é realmente algo muito profundo, gostei da explicação que você da sobre a crença e a fé, e sobre Deus!

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