28 de janeiro de 2013

O QUE É A VERDADE?

Quando perguntamos o que é a verdade, está implícito que seja tudo aquilo que posso comprovar ou verificar. Isto é, a verdade é a representação fiel de alguma coisa existente na natureza. É a qualidade pela qual as coisas se apresentam como são. Para o filósofo grego Aristóteles, a verdade é a harmonia total ou parcial, entre o meu pensamento subjetivo e a realidade objetiva, existe uma completa identificação do sujeito com o objeto.

Segundo a filósofa Marilena Chauí, a idéia de verdade foi construída ao logo dos séculos, com base em três concepções diferentes, vindas da língua grega, do latim e do hebraico. A palavra verdade do grego alétheia, quer dizer: “o não esquecido, não escondido, não dissimulado”. Todavia, a verdade é o que vemos numa contemplação ou o que se mostra aos nossos olhos. Verdade em latim, veritas quer dizer: “precisão ao rigor e à exatidão de um relato, no qual se diz com detalhes pormenores e fidelidade o que realmente aconteceu”. Em hebraico, verdade quer dizer emunah, que significa: “confiança” está ligado à pessoa que cumpre o que promete e que é fiel a palavra dada ao pacto feito, que não traem a confiança. Por conseguinte, palavras como averiguar e verificar indica buscar a verdade; veredicto é pronunciar um julgamento verdadeiro.

Por outro lado, pergunta-se se a verdade tem valor objetivo e autônomo, ou se não passa de uma opinião subjetiva e heterônoma. A verdade, dizem os relativistas, não é uma norma fixa, espécie de monopólio, pelo qual eu deva orientar o meu espírito e a minha ética, mas é, antes de tudo, como um boneco ou fantoche que eu mesmo fabrico e manipulo como bem entendo, segundo as conveniências do momento. Se minha verdade for desfavorável aos meus interesses individuais, modifico-a até que se amolde aos meus gostos pessoais, aos interesses do meu grupo, da minha pátria ou da minha igreja.

Neste último caso, a verdade deixa de ser livre e soberana, para se tornar escrava e servidora dos meus interesses. Deixa de ser uma verdade libertadora, pois ela mesma não é livre. O conhecimento é uma relação entre o sujeito que conhece e o objeto conhecido. O conhecimento para ser verdadeiro, tem que corresponder ao objeto existente na realidade exterior, neste caso o conteúdo do conhecimento é verdadeiro, não depende de nossa consciência, de nossa vontade ou preferência. Por conseguinte, está implícito que estamos diante de duas categorias de verdade.

Tendo como verdade objetiva, as leis naturais descobertas pelo homem, que não depende de nós, elas simplesmente existem, que não dependem da nossa vontade, são as chamadas ciências naturais como: Astronomia, Física, Química, Biologia, Antropologia, Sociologia, Psicologia, etc. Por outro lado, estão as verdades convencionais, relativas e subjetivas. Criadas pelo homem para regular a convivência humana em sociedade. As chamadas verdades axiológicas ou normativas, que são as leis jurídicas, éticas e religiosas. Embora sejam também ditadas por determinadas condições objetivas da nossa existência social, mas essas leis normativas podem ser revogadas pelos homens, pois foram feitas por eles, assim como: Direito, Política, Ética, Religião, Regras de Trânsitos, etc. São verdades subjetivas, relativas, que posso adulterar de acordo com os meus interesses.  

No entanto, o que existe na realidade, no mundo dos fatos, não pode ser verdadeiro ou falso. Simplesmente existe. Verdadeiro ou falso só podem ser os nossos conhecimentos, nossas percepções, nossas opiniões, nossos conceitos ou juízos a respeito do objeto. Para muitos filósofos céticos e idealistas, afirma que a verdade não tem caráter objetivo, que a verdade é relativa, múltipla, o que é verdade para uma pessoa, pode não ser para outra, isto é, cada sujeito tem a sua verdade.

Para o filósofo existencialista Jean-Paul Sartre (1905-1980), a palavra verdade ao longo do tempo, perdeu todo o seu sentido. Cada um coloca arbitrariamente as normas do verdadeiro e do falso, por uma decisão não menos arbitrária de escolher normas totalmente diferentes. Acontece que o raciocínio desses filósofos é errôneo. Eles confundem os sentidos diferentes dos conceitos de objetivos e subjetivos.

Todavia, para essas pessoas, os objetos e suas propriedades só existem dentro do sujeito que conhece, isto é, tem caráter subjetivo. Por outro lado, consideram a verdade como subjetiva, uma opinião toda pessoal que não tem correspondência adequada no mundo objetivo, exterior. Eles acham que a verdade é uma construção subjetiva que depende da nossa consciência, de nossa vontade, desejo e gosto.

O escritor francês Saint-Exupery, relata no seu livro “O Pequeno Príncipe”, o personagem principal é um subjetivista típico. Tudo que ele quer ou sonha, pensa que é real. A realidade e a fantasia se confundem não há distinção entre o real e o irreal, entre o verdadeiro e o falso. Quando o Pequeno Príncipe pediu ao rei que “ordenasse ao Sol que se ponha”, o rei muito sensatamente replicou: “É preciso exigir de cada um, o que cada um pode dar. A autoridade repousa sobre a razão. Se ordenares ao teu povo que ele se lance ao mar, certamente esse povo fará uma revolução.”

Entretanto, o conteúdo da verdade não depende da nossa mente e nem da nossa vontade. Sendo um reflexo fiel da realidade, a verdade só pode ser uma só. Por conseguinte, estão redondamente enganados aqueles que afirmam que cada um tem a sua verdade, que existem tantas verdades quantos sujeitos e que não existem verdades objetivas, validas para todos. Há um grande equivoco em torno da verdade. O fato do daltônico sentir erradamente como verde a cor vermelha, isso não significa que seja assim na realidade, significa apenas que os sentidos dessa pessoa não refletem corretamente as ondas luminosas. O fato de termos a impressão de que a Terra é plana e imóvel e que o Sol gira em torno dela não significa que seja assim na realidade. Alias, durante muito tempo a humanidade toda pensava assim. A afirmação estabelecida pela ciência, de que a Terra é redonda e que ela gira em torno do seu próprio eixo e em torno do Sol é uma verdade objetiva, que não depende de nossa opinião ou vontade subjetiva. Contudo, quantas pessoas foram queimadas em praças publicas na época da Inquisição por causa dessa afirmação verdadeira.

Podemos citar outros tantos exemplos para constatar a verdade objetiva. Assim, como o fogo queima a mão, de que certas substâncias são venenosas e não são invenções do homem. É preciso ser muito infantil para não acreditar na objetividade dessas verdades estabelecidas pela mente humana no decorrer de sua longa experiência. Alias é o que fazem as crianças enquanto não põem a mão no fogo não se convencem disso.    

Por outro lado, a aceitação de uma verdade absoluta, como acontece na religião, tem consequências graves. Todavia, existe uma adesão a uma verdade relativa, mais complexa ainda. Esse conflito em torno da verdade cavou um abismo invisível entre esses dois grupos em que se divide a humanidade em todos os tempos. Portanto, todos os bens e todos os males, no plano da moral e da ética, derivam da aceitação prática desta ou daquela filosofia sobre o caráter e a função da verdade.
Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. Nesta frase lapidar contém uma profunda filosofia de vida, que pode amenizar esse conflito entre os povos. Ninguém tem a verdade, mas, todos buscam a verdade. Como argumenta o filósofo e escritor turco, de origem armênia Jacob Bazariam, no seu livro “O Problema da Verdade”: “sem o sujeito cognoscente não há verdades. Mas isso não significa que a verdade seja subjetiva, pois o conteúdo dessa verdade não depende de nós, de nossa vontade. O que nós podemos é estudar os objetos e fenômenos e descobrir as verdades e as leis naturais pelas quais elas se regem, refletindo corretamente na nossa mente aquilo que existe na realidade objetiva”. Para o pensador indiano Mahatma Gandhi (1869-1948): “A verdade é dura como diamante e delicada como a flor de pessegueiro”.

Portanto, está mais que claro, que o conteúdo da verdade não depende de nós ou de nossa vontade, porque a verdade não é subjetiva. Nós não podemos criar, fabricar, inventar verdades e leis naturais. Elas estão ai para serem descobertas. O que nós podemos é estudar com profundidade os objetos e fenômenos e através deles descobrir a verdade e as leis naturais que estão implícitas. Mesmo o amor que sentimos um pelo outro, só pode sobreviver alicerçado na verdade. A grande verdade está em “amai-vos uns aos outros”. Todo mundo como irmão, uma vida de fraternidade, ligados pelo amor divino, substituindo o egoísmo estúpido e estreito de hoje, pelo respeito e o amor inteligente e altruístico ao meu semelhante.  Como disse Mahatma Gandhi: “Tudo o que vive é o teu próximo”.      

Um comentário:

  1. Gostei muito do seu blog, uma leitura excelente..
    eu sou muito fã de leitura e como dizia René Descartes "A leitura de todos os bons livros é uma conversação com as mais honestas pessoas dos séculos passados".

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