4 de agosto de 2012

AMOR UMA QUESTÃO DE SOBREVIVÊNCIA


O amor no mundo contemporâneo tornou-se artigo de luxo. Quantas pessoas são capazes de viver um amor verdadeiro e de boa qualidade? Atualmente, o amor está cada vez mais escasso. E por que o amor está cada vez mais distante das pessoas de bem? Será o amor uma ameaça para os nossos instintos mais primitivos ou para a sociedade?

Entretanto, falamos do amor de Jesus Cristo a mais de dois mil anos, e nem de longe damos conta, que ele morreu por nos ensinar o amor e por nos amar demais. A sociedade organizada em pirâmide torna a todos inimigos um do outro. Somos competidores e cruéis ao mesmo tempo, não nos importando com o nosso próximo e curiosamente nem conosco mesmo.

Certa vez perguntei aos meus alunos se poderiam me dizer se estavam satisfeitos com o corpo que tinham e com a vida que estavam vivendo. O meu assombro é que nesse grupo de pessoas belas e sensíveis 80% ou mais disseram que estavam insatisfeitas com o seu corpo e que gostariam de ser outra pessoa e morar em outra cidade ou pais. E que a vida que estavam vivendo naquele momento não tinha a menor graça. Acho lamentável constatar isso entre os jovens.

Podemos não ter o corpo que gostaríamos de ter ou a altura, mas você é o melhor que você tem. E quando reconhecer isso estará progredindo. Não conheço nenhuma escola que ensine o respeito por si mesmo. Sempre que olhava para os meus alunos, tinha uma sensação de que a primeira ponte que temos que construir é a ponte para dentro de nós mesmos.

Acho simpática essa idéia da ponte. Minha primeira aula de catecismo foi introduzida por um padre. Lembro-me até hoje dessa aula de catequese onde o padre dizia o seguinte: “Deus saiu da eternidade e entrou no tempo e na história, se fez homem na pessoa de Jesus, viveu entre nós e pregou o amor e a paz entre os homens. Mostrou que o primeiro amor da minha vida sou eu, só assim posso amar incondicionalmente o meu próximo, a partir do amor que tenho por mim.” Tarefa difícil, mas não impossível, amar o outro como a ti mesmo. Vamos além, dizia ele: “Vou para o Pai preparar-vos uma morada, pois na casa do meu Pai há muitas moradas”. Fiquei encantado com essa ideia de ponte entre o mundo material e o mundo espiritual. Penso que as relações humanas duradouras são marcadas por essa ponte. Uma ponte que exalte nossa humanidade, que exalte nossa imperfeição, nossa solidão e acima de tudo nossas carências afetivas e de proximidades com o outro.

Há um local distante, chamado Chayah, no centro da Tailândia, perto da fronteira da Malásia. No meio de um vasto lençol de água há uma ilha e nela um mosteiro budista. Todavia, não há água potável nessa ilha e esta tem que ser levada do continente por barco e guardada numa grande cisterna.

Certa vez caminhando pela ilha, o mestre budista conta a seguinte história para seu discípulo: “Você trabalha o dia todo e volta louco de sede, querendo beber um pouco dessa água preciosa, que você sabe que não pode desperdiçar. Abre a cisterna, estende a mão com sua conchinha e vê uma formiga dentro da cisterna. Você fica furioso! Exclama: Que atrevida, estar na minha cisterna, sob a minha arvore, na minha sombra, na minha ilha e com a minha água! Nesse processo de fúria você esmaga a formiga. É um indicador que você está ligado a matéria. Ao contrário, você pensa antes de esmagar a formiga e diz: O dia está muito quente e este é o único lugar mais fresco da ilha. Temos água o suficiente que dá para todos nós e depois a formiga não está estragando a minha água. Então, calmamente você pega a água em volta da formiga e bebe. Você está desligado da matéria. Estabeleceu uma ponte para o espiritual. Também pode ser chamado de não ligado a matéria”.

Entretanto, penso que no momento em que se abre a cisterna e vê a formiga, a pessoa que estabeleceu essa ponte entre o material e o espiritual não vai pensar no bom, no mau, no certo ou no errado. Imediatamente num gesto de generosidade além da água, vai dar um torrãozinho de açúcar à formiga. O gesto mais sublime da humanidade, amor e compaixão. Temos que começar a reconhecer que o outro é a única pessoa que pode dar o torrãozinho de açúcar de que preciso e que posso fazer o mesmo pelo meu próximo. Se não construirmos essa ponte, esse sentimento tão nobre está fadado a desaparecer mais ou menos depressa. Somos tão menos, quanto um sem o outro.

Portanto, tudo começa acontecer dentro de cada um de nós, com essa grande ponte que nos leva a todos e assim formamos uma corrente solidaria e salvamos o amor. Se eu crescer cada vez mais, poderei lhe dar mais de mim. Hoje estudo e aprendo para lhe ensinar mais. Procuro a sabedoria para poder encorajar a sua verdade. A cada dia torno-me mais ciente e sensível para poder melhor aceitar a sua sensibilidade e ciência. Luto diariamente para compreender a minha humanidade, para poder compreender o outro, quando me revelar que também é humano. Vivo num assombro continuado perante a vida, para permitir que o outro também exalte a sua vida. Enfim, saia do você e entre no nós. É o modo mais belo se ver e ajudar os outros a se verem.                

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