8 de junho de 2011

A IDEOLOGIA DO CASAMENTO PERFEITO

Vivemos falando do casamento como o maior encontro da vida, quando, na verdade, todo mundo está cansado de saber que depois de algum tempo dentro do casamento as pessoas passam a aturar um ao outro. É como se fosse uma panela de pressão pronta para explodir a qualquer momento. A nossa sociedade influencia as relações matrimoniais a ponto de torná-las, em muitos casos, insuficientes para manter uma estrutura firme e íntegra, já que infelizmente ela foi pautada na ideologia do casamento perfeito.O casamento não foi feito para a felicidade humana, mas sim para haver uma  organização social. Casa-se na ilusão do amor eterno, de amar a vida inteira a mesma pessoa. Onde existe esse casal? Se o verdadeiro amor só constrói e tem como premissa a criação de laços que poderiam ser eternos, por que a maioria dos casamentos se destrói com o tempo? A maior parte dos casamentos, depois de algum tempo, passa por um desgaste tão grande que não resiste.
Penso que não existe sentimento pior quando no casamento, depois de algum tempo, as pessoas não conseguirem se livrar dele. Quando estamos na companhia de casais que se odeiam, a fisionomia deles, nesta situação, fica de uma feiúra moral que apavora. O clima entorno dos dois infelizes é literalmente irrespirável, sobretudo, por acreditarem  que ambos têm razão. Como é difícil sair para jantar com um casal neste clima, chega ser constrangedor.
O rancor matrimonial, acima de tudo, amarra a pessoa, imobiliza como se o indivíduo tivesse caído numa teia de aranha, Quanto mais você se mexe, mais se amargura e mais raiva sente. Sentimentos que faz o casal brigar e o outro chorar. Além da ansiedade que instaura, nessa mistura nasce o rancor que é o pior dos sentimentos humanos. Mesmo o ódio que produz um assassino ou o policial que lança mão da tortura, ainda assim parecem ser sentimentos mais claros do que aquele que alimenta a união dos infelizes cônjuges. A pessoa parece que quer preservar, no casamento ou em família, esses sentimentos tão velados, esse processo dura anos, porque há uma predisposição dos envolvidos. Bem examinadas as queixas e acusações de um e de outro, o mais indicado seria a separação, antes que o rancor tome conta de todos da família,  ou que um deles acabe por matar também fisicamente um ao outro. Mas não pode, o que os outros vão pensar? E os filhos, como ficariam?
Quando vamos começar a dizer a verdade sobre o casamento e a família? Dizem que a família é a “célula mater” da sociedade. Então, como explicar as razões de tanta violência em nossa sociedade? Todos nós viemos de uma família. Sabe-se que a harmonia ou o caos em família é o resultado das relações que seus membros mantêm entre si. No entanto, alguma coisa está errada com o casamento e posteriormente com essa nova família.
O bom casamento é aquele que os dois comungam os mesmos valores, pois o casal tem muito o que fazer na rotina do seu dia a dia, aí quando os dois se encontram fica interessante o diálogo. Na verdade, os laços matrimoniais têm mais vantagens materiais do que valores amorosos. Penso que o principal fator de briga no casamento é a indiferença recíproca. Uma das coisas mais preciosas num relacionamento pessoal é a admiração que se tem pelo outro, de atitudes, de pensamentos, do jeito de ser e tratar. O outro torna-se a nossa “referência afetiva”, mantêm viva a sensualidade e a excitação. A indiferença chega a ser uma espécie de desprezo é o contrário do respeito. É olhar para o outro como se fosse um asqueroso. Como diz Caetano Veloso numa de suas canções: “De perto ninguém é normal”. Todos nós temos defeitos que só mostramos no casamento, quando passamos a viver em família. Com as pessoas de fora somos educados e gentis.
No casamento, as pessoas vivem por muito tempo juntas, dormem, levantam. Final de semana, estão juntas. Logo começam a ver coisas desagradáveis e muito ruins uma na outra. Mesmos os pequenos hábitos, de dormir sem tomar banho, os cuidados com objetos pessoais, ou querer ficar só vendo televisão aos finais de semana, etc. São essas coisas que vão irritando as pessoas. Hábitos difíceis de serem mudados, porque ambos ficam indiferentes a esses comportamentos, meio que hipnotizados.
No casamento existem muitas falhas, principalmente em se tratando de educação dos filhos. Pais que dão liberdade total ou são autoritários ao extremo. Quando a grande imagem de pai ou de marido, começa a se desmanchar, porque ele não é um bom marido ou um bom pai. E aqui vale para as esposas também. Em vez dos membros da família terem admiração pelo ser humano que é, apesar das falhas que todos temos, pois ninguém é perfeito. Não! Começa o desprezo, as piores brigas, deprimentes, humilhantes. E todos em família têm que aguentar isso. Porque afinal de contas, estão todos presos, nesse clima ruim e não podem fazer nada, nem falar mal do casamento. Se um dos cônjuges pensa em separação, uma santa alma diz: “não faça isto, se é ruim com ele, pior sem ele”. E os filhos? Não existe pior veneno para os filhos, do que esse ódio recíproco dos adultos.
Portanto, uma vida sem amor ou sem uma “referência afetiva” pelo menos, é como viver num deserto sem água para beber e sem ar puro para respirar. É como viver uma vida de obrigações. E vida de obrigações ninguém aguenta. São essas obrigações que produzem a maioria das doenças graves. O que se espera do casamento é uma coisa completamente absurda. As pessoas aguentam anos após anos essa situação insuportável, vivendo uma vida de sacrifício para não magoarem a outra. São verdadeiros camelos atravessando um deserto. Enfim, paz na terra aos homens casados cada um com a sua esposa, porém, todos cobiçando a mulher do próximo e todos se vigiando e se controlando para impedir o encontro que todos desejam.   

Um comentário:

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