24 de junho de 2011

EDUCAÇÃO : IMITAÇÃO E PRÁTICA

Se a educação é de fato imitação como defendem os especialistas e só o exemplo ensina, é bom determo-nos um pouco sobre esse paradoxo e nos perguntar: “será que temos mesmo o que ensinar a nossos filhos? Será que é bom tentar transmitir a eles os nossos assim chamados sagrados valores tradicionais, todos eles coniventes e cúmplices de todas as negociatas e crueldades do mundo, por força das quais, hoje, aumenta progressivamente a violência e o número de pessoas cada vez mais pobres?” As escolas e as famílias não terão nada a ver com esses fatos que, gradativamente, por força dos meios de comunicação, estão se tornando conhecidos por um número cada vez maior de pessoas, inclusive crianças e jovens? Não será a descrença e a rebeldia dos jovens contra os nossos velhos costumes e a educação que aí está? Essa descrença e desrespeito dos jovens serão justificadas?
O que nós, adultos, estamos fazendo com o planeta e que mundo deixaremos para eles?
Talvez a solução não esteja mais em educarmos nossos filhos, isto é, tentarmos  passar a eles o que acreditamos que seja nossa experiência de vida, nossos medos, nossas ansiedades, nossos valores e  tradições.
Quanto menos tentarmos ensinar a eles, tanto melhor, pois poderemos continuar a amá-los, e não caíremos na tentação de  querer ensinar como é a realidade, o que é certo e o que é errado, é temerário. Primeiro, porque eles pouco nos ouvem, seja em casa, seja na escola. Estão aprendendo a fazer conosco o que até hoje fizemos com eles, ignoramos.
Em nenhum Ministério de Educação do mundo existem crianças para dizer o que elas gostariam de aprender. Até porque ninguém está interessado em ouvir a criança ou o jovem, o que de fato pensam ou sentem.
Por outro lado, o que sucedeu com a humanidade, o que nós, adultos, fizemos ou não, impedimos ou aceitamos passivamente? Não é nada animador, nem digno de despertar orgulho ou esperanças em nós, que nos consideramos conscientes, responsáveis, bem informados, conhecedores da realidade. Somos normais ou normopatas?
Entretanto, todos os sistemas educacionais do mundo baseiam-se na noção implícita de que nós, adultos, temos muito o que ensinar de bom, sábio e digno a nossos filhos. É preciso aprender a ver, porque o que se vê é muito diferente do que se fala. Passam sempre as mentiras estabelecidas. Por exemplo: ensinar ecologia, é ensinar às crianças como cuidar dos bichinhos que estão desaparecendo, coitadinhos! Mas nada se diz sobre a espécie mais ameaçada de extinção que somos nós. Basta olhar um pouco para esse mundo que vivemos. Não está claro para as crianças que a culpa é nossa, pois somos cooperativos em tudo  no bem e no mal, querendo ou sem querer, sabendo ou sem saber. Até sem querer saber!
Segundo os biólogos, até hoje existiram no planeta cem milhões de espécies vivas, das quais 99 milhões se extinguiram. Podemos estar certos de que as crianças estão reagindo a tudo isso, mesmo sem consciência clara a respeito. E sua reação de rebeldia ou medo inconsciente é mais do que justificada, talvez seja ela até salvadora da espécie!
Diante desses fatos em vez de continuar falando da autoridade e da sabedoria dos pais, educadores, dos programas e dos Ministérios de Educação, seria melhor, na relação entre adultos e crianças, começarmos a pensar em trocas de experiência em vez de tentarmos ensinar a nossos filhos o que é certo e o que é errado, vamos dizer a eles, muitas vezes, não sei e o que você acha? Sempre tentamos nos convencer de que elos pessoais verdadeiros só se estabelecem e se aprofundam quando conseguimos dar atenção inteira um ao outro, isto é, de ouvido e palavras, de olhares similares e atentos. Devemos evitar prejulgamentos de superioridade preconceituosa, atitudes e maneiras autoritárias, não devemos deixar passar a imagem de que sabemos tudo. Elas só servem para provocar respostas de falsa submissão ou de rebeldia, de repulsa e protesto, em vez de aceitação.
Segundo Glenn Doman, pesquisador e escritor que publicou um livro: “Como Multiplicar a Inteligência do seu Bebê”, todas as crianças nascem potencialmente com a inteligência de Leonardo da Vinci. A questão é que a educação as torna dependentes, submissas, pouco vivas e pouco inteligentes. Os textos eruditos sobre pedagogia dizem: “Educar consiste em criar condições para que a criança desenvolva ao máximo todas as suas potencialidades”. São sempre palavras bonitas, repetidas sem reflexão e feitas para enganar, mesmo que a pessoa não tenha essa intenção.
Portanto, os estudos sobre a educação infantil são claros e insistentes neste ponto, nada de competição. Jamais devemos criar ambientes competitivos, de comparação ou fazer teste para ver quem é melhor. Estes apenas comprometem a sensação de confiança e fé da criança no adulto, estimulando, de um lado, a insegurança e a dúvida sobre as próprias aptidões e, de outro, a competitividade, esquecendo de si no esforço de superar o oponente. O que as crianças mais desejam é aprender. É o que mais precisam, para aumentar suas chances de sobrevivência. A natureza nos fez gênios e a educação que recebemos nos torna medíocres.   

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