12 de junho de 2011

EM BUSCA DA FIDELIDADE

Apesar da complacência em torno da infidelidade masculina, ainda permanece a condenação da concretização das fantasias eróticas. Penso que é oportuno trazer essa discussão no momento em que o fundamentalismo está ganhando força e espaço no Congresso, nas cidades, países e, principalmente, nas religiões,comumente uma parcela considerável de Parlamentares são pastores. Homens e mulheres estão confinados num pensamento obtuso. Para muitas mulheres, a questão da fidelidade ainda é um tabu. Se o tabu da virgindade já foi superado nas civilizações ocidentais, a problemática que envolve a fidelidade ainda não foi superada.
O ponto de partida para esse ensaio é a relação de Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, casal revolucionário que escandalizou a sociedade parisiense, ao estabelecer o casamento aberto, sem contrato, sem amarras e cada um morando em sua casa, tendo como único fundamento a “fidelidade de espírito na total transparência e liberdade de corpos”. No entanto, o livro de Beauvoir, “O Segundo Sexo” é considerado o fundador do feminismo, que sustenta até hoje qualquer discussão mais séria sobre a condição feminina. Na verdade, o livro é uma homenagem a todas as mulheres. Tendo em vista, que elas representam metade da humanidade, mesmo assim é triste confirmar que milhões delas não têm direito a voto, não podem decidir com quem se casar e passam da tutela do pai para a do marido.
Existem hoje no mundo 135 milhões de mulheres que tiveram seus órgãos sexuais mutilados numa cirurgia chamada excisão, também conhecida como circuncisão feminina. O objetivo dessa pequena cirurgia é claro: controlar o desejo e o prazer da mulher. A mutilação desse órgão, disfarçada de rito religioso em muitos países, é feita muitas vezes com instrumentos não esterilizados e sem anestesia. A Organização Mundial da Saúde confirma a morte de milhares de meninas, todos os anos, vítimas de hemorragias e gangrenas nas suas partes íntimas.
No mundo moderno, toda a nossa vida está submetida ao crivo da razão, mesmo a afetiva e amorosa. Tentamos viver no controle absoluto sobre sentimentos como ciúme e posse.
Foi em 1937, que Simone de Beauvoir escreveu uma carta para Jean-Paul Sartre, contando sobre um romance que manteve por três anos. Ela tinha 29 anos, e era uma desconhecida professora de filosofia. O seu par romântico Jacques-Laurent Bost, tinha 21 anos e era ex-aluno e amigo de Sartre. Ambos viajaram para passar dez dias caminhando nas montanhas da Savoie, no leste da França. Numa dessas noites em que estavam juntos, viveram seus primeiros momentos de excitação e fizeram sexo. Era o início de um importante caso de amor e amizade que por muitos anos permaneceu em segredo para proteger Olga, mulher de Bost, a única personagem dos dois casais que não tomou conhecimento dessa história.
Na carta a Sartre, publicada no livro “Lettres à Sartre”, Simone conta ao companheiro sua primeira noite com Bost. Entretanto, alguns anos mais tarde, mais precisamente em 1949, Simone de Beauvoir dedicou o seu livro “O Segundo Sexo”, a Jacques-Laurent Bost. Dada a relação aberta que tinha com a filha adotiva, Sylvie Le Bon de Beauvoir, confessou seu romance e ainda disse que Bost fora o homem menos machista que conheceu. Isso deve explicar o fato de Simone ter dedicado a ele esse ensaio, que tornou-se referência para o feminismo.
A liberdade total de duas individualidades era a premissa da relação de Sartre e Beauvoir, lealdade e amizade, a condição para que ambos fossem livres e concretamente iguais. As pessoas buscam a felicidade quando se casam. A maioria das mulheres são Julietas à procura de um Romeu, como argumenta a jornalista e pesquisadora Leneide Duarte-Plon. Românticas, ainda idealizam o casamento e nele, quase sempre, a fidelidade está implícita. Já a absoluta liberdade dos cônjuges é um pacto que precisa ser firmado, porque nem mesmo nas sociedades ocidentais mais avançadas homens e mulheres se percebem como iguais, com os mesmos direitos.
Portanto, por tratar-se de um tema extenso, não vai ser possível esgotar numa única reflexão o problema aqui levantado, vou precisar de mais algumas reflexões em torno desse tema. O que aumenta o meu desejo de continuar pesquisando esse assunto indefinidamente.          

Um comentário:

  1. Olá,
    Achei oportuno seu texto, principalmente quando vejo tantos homens "casados" se colocando num site de relacionamentos ( moram com a companheira e tenho uma relação aberta ).
    Não vi nenhuma mulher se colocando assim.
    A nossa sociedade é muito maxista ( homens podem tudo ) mas não acredito que nenhum homem brasileiro teria a postura de Sartre.
    Li "O segundo Sexo ' de S.Beauvoir, mas confesso que gostei muito mais do livro " Quano o Espiritual domina " ambos li no meu tempo de faculdade e revolucionária.
    Vi que você gostou do filme " O carteiro e o Poeta' que documenta momentos da vida de Pablo Neruda. Um de meus poetas preferidos. Livros como " 20 poemas de Amor e uma canção desesperada" e a Antologia Poética de Neruda são ícones de inspiração.
    Estou aguardando-o em meu e-mail, apenas para dialogarmos sobre filosofia.
    Sueli
    e-mail: licadian@gmail.com

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