23 de maio de 2011

EXCITAÇÃO NÃO É DESEJO

Por mais que nossa sociedade proclame a importância do desejo sexual, temos uma tendência a considerar excitação e desejo a mesma coisa. Na verdade, não se trata do mesmo fenômeno. O desejo pressupõe algo externo, ou seja, o que eu quero e que me impulsiona na busca desse objeto para a minha satisfação. A excitação, ao contrário, é um sentimento de preservação daquilo que possuo. É manter acesa a chama do erotismo o tempo máximo possível, por medo da crise da rotina que persegue as relações. Sobretudo, porque a transferência do amor e da ternura são situações mais fáceis de acontecer com as mulheres e bem mais difíceis de serem concretizadas com os homens.
Na nossa cultura. se privilegia o desejo e pouco se fala da excitação. Não damos conta do quanto é relevante separar essas duas coisas. Valorizamos muito o desejo que sempre pressupõe um objeto externo não possuído e quando o possuo, deixo de desejá-lo. Se a pessoa já se satisfaz porque pensa que esse desejo já foi realizado, logo passa a buscar outros desejos. Como o desejo se alimenta de certa insatisfação que combina muito bem com toda a indústria consumista, a sexualidade torna-se o alvo maior do capitalismo selvagem.
As mulheres de hoje, não são para amar e, sim, para olhar e se deliciar. Como dizia no meu tempo, “é muita areia para qualquer caminhão”. São tão olímpicas que alguns homens e, em particular, os machões, brocham, não por desinteresse, mas por impossibilidade técnica. É como se elas dissessem: “Eu sou melhor que você, eu sou perfeita, eu sou malhada; você não passa de um gordo solitário, trancado na sua medíocre vida sexual”.
Antigamente, a mulher gostosa sabia seduzir e praticava a arte da sensualidade. Hoje, diante de uma Sharon Stone, o machão que fica horas diante da internet se deliciando com as peladas da  webcam, torna-se um pobre excluído. Além de rica, é gostosa para o delírio de proletários sexuais, que jamais terão dinheiro para conhecê-la. No geral, essas mulheres robóticas, provocam um tesão de classe. Parecem dizer: “Quanto mais uso o meu corpo, mais livre me torno. O meu ideal é ser desejada como um bom produto”. A meu ver e de muita gente boa, isso não leva a lugar nenhum a não ser, a uma profunda frustração, porque depois de saciado esse desejo só nos resta o tédio, uma vida miserável. Todo dinheiro que antes se gastava com psicoterapia, hoje se gasta com a modelação do corpo nas academias.
O desejo tem características extremamente aristocráticas, porque privilegia do ponto de vista das relações interpessoais, aquelas que são mais desejadas. No caso das mulheres, as mais belas, as mais olímpicas, as “ melancias” da vida. No caso dos homens, os mais ricos, os inteligentes e os “desleais”, pois para quem não sabe, os cafajestes fazem um sucesso medonho com as mulheres. As mulheres adoram homens safados e cafajestes, esses são alvos prediletos da maioria das mulheres. Até em campanhas publicitárias eles aparecem fazendo o tipo cafajeste.
O sexo casual também faz parte dessa visão aristocrática, sempre é importante entender que ele privilegia umas poucas minorias e desfavorece a grande maioria. Por exemplo, aquelas pessoas mais sinceras, as mais tímidas, as que falam a verdade, as que não são tão boas de conversa fiada, as que não frequentam vida noturna e as que não atendem as exigências do mercado de consumo sempre são marginalizadas.
O sexo como excitação depende menos do desejo visual masculino, por isso acaba homogeneizando mais as relações e, por causa disso, gera nas mulheres um desejo de ser desejada. Por isso elas buscam certos adornos que, supostamente, acham que servem para aumentar os desejos visuais masculinos. Mas nesse ponto também esbarram num outro viés complicado, porque leva para o caminho do consumismo exagerado e às vezes de uma forma desenfreada. Então, como atrair os homens?
Nota-se que o elemento tátil é o que define mais que tudo o clima de excitação, porque ele se abastece através de trocas gostosas e prazenteiras, tal como uma boa conversa, trocas de carícia com algum parceiro que lhe é interessante naquele momento e, assim, segue-se o momento prazeroso com as carícias verbais que praticamente não dependem de novidades. Por outro lado, o desejo é pura novidade e tão pouco combina com as relações sentimentais. Tanto o homem como a mulher se tiver uma relação de qualidade, não precisa mais do desejo. Ninguém deseja o que possui. A mulher ou o homem deixa de ser objeto do desejo mútuo para ser objeto de excitação um do outro, portanto para se concretizar a excitação haverá as trocas gostosas de carícias, o estabelecimento da intimidade e o esquentar das relações que são estreitadas a partir da aceitação das carícias e da mútua reciprocidade.      

Um comentário:

  1. entendi agora o que é objeto de desejo e objeto de excitação....gostei e vou aplicar

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