21 de março de 2022

QUEBRA DO ELO AMOROSO ASSOCIADO À HUMILHAÇÃO

Experimentamos uma sensação dolorosa de humilhação quando a pessoa que está nos interessando não dá sinais de ter achado tanta graça em nós quanto nós nela; ou então não se mostra tão disponível por estar vivenciando algum outro vínculo amoroso. Mais grave ainda é a sensação de rejeição, quebra do elo amoroso associado à humilhação – ofensa grave à vaidade – quando se é abandonado e “trocado” por outra pessoa. Surge, em boa parte das criaturas, o desejo de reaver aquela relação a qualquer custo. As pessoas gostam de dizer que estão lutando para reaver o parceiro amado. Porém, penso que se trata de algo bastante diferente: o resgate do vínculo corresponderia a uma espécie de vitória sobre eventuais rivais e, em certo sentido, o fim da sensação de humilhação.

Quando se luta para reconquistar o parceiro, o amor aparece como o sentimento que estaria dando dignidade a condutas moralmente duvidosas. Quem ama cuida do amado, quer o melhor para ele e não o obriga a fazer ou agir de uma forma contrária à sua vontade. Quem ama de verdade não acha que esse sentimento justifica todo e qualquer ato.

Não acha que é válido lutar por amor, entendendo-se por “lutar” o esforço de fazer prevalecer a própria vontade de manter o vínculo quando não é essa a disposição daquele que supostamente é o amado. A única luta válida por amor é aquela ligada ao empenho de preservar o relacionamento através de cuidados, paparicos e todo o tipo de dedicação possível ao amado; e tudo isso na vigência do namoro – e com a devida anuência do namorado.

Portanto, não deixa de ser curioso observar que pessoas orgulhosas, que gostam tanto de falar bem de si mesmas, são as que mais se humilham com o intuito de reaver um elo sentimental perdido. Por vaidade, buscando a vitória final, se colocam como pedintes, mostrando fraquezas que adoram esconder, demonstrando afetos que nunca se manifestaram e arrependimentos que nunca tiveram. Aqueles mais rigorosos moralmente vão até um certo ponto em seus pedidos de reconsideração da decisão de abandono do parceiro; porém, não se humilham com o intuito de tentar neutralizar seus desconfortos. Sabem que não é legítimo lutar por amor; ou lutar para reaver o parceiro em nome do amor que sentem.

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