28 de agosto de 2021

DE POSSE DA CONSCIÊNCIA O HOMEM DESCOBRIU O AMOR

A vida do homem não pode ser vivida pela repetição do modelo da sua espécie, ele tem que vivê-la. O homem é o único animal que pode sentir-se aborrecido, que pode sentir-se expulso do paraíso. O homem é o único animal que considera a sua existência um problema que tem de ser resolvido e do qual não pode escapar. Não pode voltar ao estado pré-humano de harmonia com a natureza; tem que prosseguir no aprimoramento da sua razão até tornar-se o senhor da natureza e de si mesmo.

Presume-se que o homem que viveu no Jardim do Éden, em completa harmonia com a natureza, mas sem autoconsciência, inicia agora a sua história pelo primeiro ato de liberdade, pela desobediência ao comando do Criador. E concomitantemente, adquiriu a consciência de si mesmo, da sua separação, do seu desamparo; ao ser expulso do paraíso. Contudo, o pecado original é um ato de liberdade e o ganho da consciência plena.

Ao ganhar a consciência o homem descobriu o amor. Aprendeu que o amor não é apenas um sentimento forte, e sim uma decisão, um juízo e ao mesmo tempo, uma promessa. Se o amor fosse apenas um sentimento, não haveria base para a promessa de amar um ao outro para sempre. Um sentimento apenas, ele vem e pode ir. No amor também pode acontecer. Depende da nossa receptividade. Como posso julgar se ele vai ficar para sempre, se meu ato não envolver juízo e decisão?

Segundo o filósofo e psicanalista Erich Fromm (1900-1980) ao iniciar seu livro “A Arte de Amar”, afirma que para sermos sujeitos capazes de exercer essa arte, devemos aprender a teoria e a prática do amor. O amor é uma arte? Então requer conhecimento e esforço. Em muitos casos o ideal amoroso é desmistificado. Se não houver a consciência do estado de separação do homem e o exercício da liberdade para a prática do poder de amar, dando ao outro a expressão e manifestação de que se o amor não é vivo nele, em sua alegria, compreensão, interesse, conhecimento, sem sacrificar a própria vida, o pseudo amor se desfaz com os primeiros antagonismos. O amor que habita em mim é o que vai lhe devolver a harmonia do paraíso.

Entretanto, o amor é desvendado como resposta para o problema da existência humana. Só há certeza com relação ao passado; com relação ao futuro, a única certeza que existe é a da morte. A consciência do estado de separação faz com que o homem busque a união para superar a solidão, a culpa e a ansiedade. A necessidade de se unir é observada nos mais remotos mitos como, por exemplo: a história de Adão e Eva.

Portanto, Adão e Eva ao deixar o paraíso descobriram o amor e de posse desse conhecimento, sentiram que amar também é estar no paraíso, só que agora com consciência. No ato de união, o amor dá resposta à minha busca. De doar-me e penetrar a alma do outro, nesse encontro descubro o ser humano que sou no outro e sinto a minha humanidade. Cabe agora a cada um o dever de estar atento à solidão do outro. Contudo, ser capaz de amar é ter a coragem de assumir riscos e empreender a única maneira saudável de responder aos problemas da existência humana.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...