8 de novembro de 2018

VELHICE NÃO É SINAL DE ESTUPIDEZ

Assim como a juventude não é sinal de produtividade, a velhice não é sinal de estupidez. O meu medo não é das atividades profissionais que se encerram com o passar dos anos, mas, da vida que continua. Que o medo não seja da indiferença, mas da própria vida em si. Há um equilíbrio e uma contradição em cada idade. Há uma dor em cada idade. Mas é o momento de dar uma resposta dura, que talvez os anos de trabalho tenham impedido que eu dissesse com clareza: “quem sou eu?” Agora sem a fantasia e sem a personagem. A vida é um caminho longo, onde você é mestre e aluno. Algumas vezes você ensina e todos os dias você aprende. Por outro lado, envelhecer é tornar-se invisível, já não sou mais o centro das atenções, logo, sou apenas eu e minha circunstância. A solidão é o lugar onde estou comigo mesmo. A fama e a atenção é o lugar onde estou com os outros. Diz um ditado popular: “conversa de velho ninguém escuta”. Será que não mesmo?

Não sei mais se tenho medo da velhice ou tenho medo de mim mesmo. A diferença entre inferno e purgatório na tradição católica, é que o inferno é para sempre e o purgatório é passageiro. Os budistas tem razão, desejar incessantemente algo, tem um defeito. Impede que eu veja a beleza do lugar onde estou. Na certa vou ser infeliz. Incessantemente vou ver o pior de cada situação. Não quero ser estupido, só quero ser feliz. Envelhecer é para mim, ficar observando as árvores, os rios e os pássaros, voando de galho em galho. Gosto de apreciar o meu contato com a natureza. Afinar a sensibilidade, apreciar com a alma e ver com o coração. É levar os olhos para passear pela natureza, é a estratégia bibliográfica, parar e fixar o olhar em tudo que encanta a alma. Envelhecer é saber desejar o que posso, e aproveitar o que consigo. Dizer a cada época, não existe nada no meu tempo que não seja agora. Como diz Santo Agostinho (354-430) no seu ensaio as Confissões: “Só existe o presente, o passado é uma memória e o futuro é inexistente”. Só existe o hoje, este é o meu tempo. “Nunca fui nada, apenas sou”.

Portanto, quero estar na companhia de pessoas que façam a viagem até o fim, e não daquelas que nos acompanham por conveniência. Quero pessoas que nos acompanham nesta jornada, que tenha objetivos e descubra no prazer de envelhecer uma alegria que nunca teve antes, porque o nosso tempo é agora. Quero ter garantia que minha vida continua sendo minha e gerida por mim, instrumentalizada por mim, tecida com os fios aleatórios do amor. Apesar da minha pouca idade (67 anos), pai de três filhos, sendo a caçula adolescente (13 anos) e a eterna juventude que carrego, por conta desse entusiasmo descobri no exercício físico o prazer da corrida e na música, a leveza da dança. Aqui está o verdadeiro segredo da longevidade. Mente sã em corpo são. Posso dizer que estou em paz com o meu espírito e com aqueles que me estimam e apreciam o que eu escrevo. O que mais posso querer da vida? Como dizia Madre Tereza de Calcutá (1910-1997): “Quem julga as pessoas não tem tempo para amá-las”.

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