6 de novembro de 2016

EDUCAÇÃO PARA ALÉM DO CAPITAL

Para o filósofo e educador húngaro Istvám Mészáros (1930), nos da uma rica lição sobre o papel da educação. Ele discorre sobre a educação e o quanto ela pode contribuir na mudança social, bem como na manutenção da sociedade. Com a sabedoria de seus longos anos de estudo, citando de Paracelso a Fidel Castro, entre outros, mas principalmente recorrendo aos argumentos de Karl Marx (1818-1883) e o filósofo italiano Antonio Gramsci (1891-1937), que defende a ideia de que para resgatar o sentido estruturante da educação e de sua relação com o trabalho, as suas possibilidades criativas e emancipatórias, é preciso colocar fim à separação entre “Homo faber” e “Homo sapiens”. De modo que, Mészáros, propõe dois eixos principais: o primeiro relaciona-se ao que alcançam as reformas educacionais e o segundo diz respeito ao imperativo de romper com a sociedade presidida pela lógica do capital e de estabelecer estratégias de transição para outra sociedade onde a educação para além do capital adquire significativa importância. Contudo, relativiza o papel que a educação tem no processo de mudança social. Procura demonstrar que a educação, por si só, não é capaz de transformar a sociedade rumo à emancipação social.

Mészáros considera que a escola reforça a internalização do modo de sistema social capitalista, contribuindo para impedir a transformação do entendimento dominante. O filósofo húngaro demonstra desprezo pela educação formal, cuja finalidade é a reprodução do capital. Neste sentido, a educação das escolas somente pode se tornar significativa na constituição de outra sociedade, caso seja associada à educação em sentido amplo, isto é, educar para a vida. Dessa maneira, a educação em “lato” sentido é enfatizada para o alcance de outra sociedade onde a lógica do capital tenha sido superada. A educação formal, contudo, não é dispensável, desde que se associe à educação para a vida toda, pois sem um progressivo e consciente intercâmbio com os processos de educação abrangentes como a nossa própria vida, a educação formal não pode realizar as suas muito necessárias aspirações emancipadoras. Mészáros chama a atenção para a necessidade de que sejam elaborados planos estratégicos para uma educação que vá além do capital, pois essa sociedade qualitativamente diferente e a educação livre dos propósitos do capital caminham juntas: “uma não é possível sem a outra”. A educação no sentido amplo é considerada imprescindível ao propósito de superação da sociedade.

Portanto, para esse fim, a universalização da educação e a universalização do trabalho são peças fundamentais, sem as quais não pode haver solução para a autoalienação do trabalho. Tal realização pressupõe necessariamente a igualdade verdadeira, substancial e não apenas formal de todos os seres humanos. Apenas na perspectivas de ir além do capital essa universalização e igualdade podem ser vistas, porque a educação para além do capital almeja uma ordem social qualitativamente diferente. O nosso dilema histórico definido pela crise estrutural do capital global, época onde se evidencia uma condição histórica de transição, define-se também um espaço histórico e social aberto à ruptura com a lógica do capital e à elaboração de planos estratégicos na direção de uma educação para além do capital. Nesse ambiente, a tarefa educacional é uma tarefa de transformação social, ampla e emancipadora. A educação deve ser articulada e redefinida no seu inter-relacionamento com as condições cambiantes e as necessidades da transformação social emancipadora e progressiva em curso. Contudo, para Mészáros a universalização da educação só poderá ocorrer com a universalização do trabalho, pois tais dimensões têm caráter indissociável. 

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