24 de agosto de 2016

ESCAPAR DA LOUCURA É VENCER O ISOLAMENTO

Ao tomarmos conhecimento de nós como seres capazes de consciência crítica, liberdade e justiça, compreendemos as diferenças com o restante da natureza. Com o despertar dessa consciência, experimentamos a dor da solidão que vai nos acompanhar pelo resto da vida. Seguramente em algum momento ela irá se manifestar. Ser único, ter que tomar decisões e responder pela vida, são fatos que provocam um sentimento doloroso de abandono e desamparo, que só será superado na relação interpessoal. Para o filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), o amor é parte de um prazer negativo, porque ele funciona como um remédio para sensações desagradáveis de desamparo. Ou seja, é um prazer que deriva com o fim da dor do desamparo. Por isso o amor é uma relação interpessoal, preciso do outro para senti-lo. Ele é paz e prazer negativo. Ao contrário do sexo que não preciso do outro para senti-lo, por isso ele é pessoal, excitação e prazer positivo. Porque não depende da existência de um desconforto ou sensação ruim para que eu sinta prazer.

Segundo o psicanalista, filósofo e sociólogo alemão Erich Fromm (1900-1980), argumenta em seu livro: “Psicanálise da Sociedade Contemporânea”, sobre esse estado cruel de abandono e desamparo que os seres humanos vivem. O homem é dotado de razão, é a vida consciente de si mesmo, tem consciência de seu semelhante, sobretudo, do seu passado e das possibilidades de seu futuro. Fromm compreendia que essa consciência de si mesmo como entidade separada, essa consciência do seu próprio e curto período de vida, do fato de haver nascido sem ser por vontade própria e de ter que morrer contra sua vontade, de morrer antes daqueles que ama, ou estes antes dele, a consciência de sua solidão e separação, de sua impotência antes as forças da natureza e da sociedade, tudo isso faz de sua existência apartada e desunida uma prisão insuportável. O homem ficaria louco se não pudesse libertar-se de tal prisão e alcançar os outros humanos, unir-se de uma forma ou de outra com eles, com o mundo exterior, como complemento e extensão da sua existência.

Portanto, dessa necessidade de união nasce o amor. De modo que, o amor é o meio procurado e desenvolvido pelo ser humano para escapar da loucura e do isolamento. O amor é fundamental para o ser humano e principalmente para a saúde da sociedade diluída de sentimentos. Sem amor o ser humano torna-se árido, incapaz de encantar-se com a vida e de envolver-se com o outro. Não se sensibiliza com o abandono dos velhos, com a morte das crianças vitima da crueldade dos adultos, a miséria de um povo, com a poluição dos rios e a destruição do planeta, o roubo da cidadania e a morte dos nossos ideais. Contudo, sem amor não há encontro, não há respeito pelas diferenças de raça, etnias, cor e religião. A única saída que nos resta é a escuridão do individualismo, com pessoas cada vez mais incapazes de relações duradouras e profundas. Como dizia o grande escritor brasileiro Guimarães Rosa (1908-1967): “Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura”.       

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