10 de agosto de 2016

ANGÚSTIA, O MAL DO SÉCULO

Dizia o mestre Buda aos seus seguidores (Sidarta Gautama – 563-483 a.C.), que o caminho mais direto para encontrar a paz interior ou a iluminação, é estar presente a própria respiração. O conselho é tão simples que é difícil de levar a sério. A respiração é o nosso automatismo mais antigo. A primeira coisa que a gente fez quando nasceu foi respirar. A respiração é a única função vegetativa que está sujeita ao controle da vontade. No tórax o processo vital ocorre de forma eminente. No reino dos símbolos, o sangue é a vida e o ar é o espírito. No peito, o espírito e a vida se confundem são os dois em movimentos e harmonia. Desde Platão costuma se dizer que o peito é o lugar das emoções e do mistério. A angústia é a oposição entre o espírito e a vida. Spiritus, do latim = que sopra. Alma, do hebraico = sopro, hálito.

O leitor deve estar se perguntando, o que a respiração tem a ver com angústia. Pois, tem tudo a ver e vamos entender qual a relação estreita que existe entre um e outro. Somos o tempo todo vigiados por uma multidão, com o advento da internet então, aí que a nossa vida escancarou-se, ficamos mais vulneráveis, a todo tipo de sorte. Qualquer lugar que você vá, sempre vai ter alguém de olho. Sempre vai ter alguém interessado no que o outro está fazendo. O quadro: “O Mês da Vindima” (1959), do pintor surrealista belga René Magritte (1898-1967), esse quadro retrata uma multidão de homens anônimos com chapéu coco, obstruindo hermeticamente a vista para fora da janela, dando uma impressão assustadora, como se todos estivessem te vigiando.

O todo poderoso é aquela pessoa que quer dominar tudo e controlar a todos, essa pessoa vive como se carregasse uma jaula duríssima de ferro no peito. O poderoso vive como se não pudesse ter sentimentos e ao mesmo tempo ele não pode ter prazer, porque teria que depender do outro. Imagina o tamanho da humilhação para o poderoso. Até parece que quem tem poder não pode ter prazer. Para o psiquiatra José Ângelo Gaiarsa (1920-2010), em família a gente nega demais os maus sentimentos, é como se ninguém se odiasse em família e muito menos se desrespeitassem. No entanto, é o que a gente mais vê acontecer entre os membros de uma família.

A negação de maus sentimentos gera uma completa falta de comunicação entre as pessoas é como se cada um estivesse fechado em si mesmo. A família que não se comunica é como se estivesse encaixotada, num caixão de defunto, sem vida praticamente. Quando se desperta um desejo em nós, imediatamente se instala um violento conflito entre o mundo de dentro e o de fora. Um desejo não realizado uma vez ou em mil vezes que aparece, vai desenvolvendo e formando aquilo que os antigos chamavam de “coração empedernido”, ou seja, coração empedrado. O que na verdade, representa a opressão torácica de todos nós. A opressão é o que sentimos no lugar de todos os desejos reprimidos e negados. Em vez de gerar alegria, contato e realização, gera tristeza, angústia e depressão. E a consequência final é o pavor do século XXI que é o infarto do miocárdio. Depois de matar todos os sentimentos o coração não sente que tem mais função, ele morre também.

Portanto, qualquer agitação interior, seja raiva, medo, susto ou stress, perturba a respiração. O nosso corpo começa a se preparar para responder a essas ameaças e perigos externos. Estamos continuamente agitados, mesmo sem dar muito conta disso e a respiração fica agitada também. De forma que, se consigo harmonizar a respiração, tudo isso se atenua por uma razão muito simples. A respiração é urgentemente necessária o tempo inteiro. Se ela ficar parada ou atrapalhada, piora a agitação do coração e aumenta a perturbação mental. Contudo, não importa a forma como respiro, o importante é estar presente a respiração, saber que estou respirando. Aqui vai um conselho para os professores que trabalham com crianças principalmente. Ao percebê-los muito agitados na aula, põe todos para respirar. Durante dois minutos apenas, já é notável a calma que toma conta do ambiente. Começou a agitar respira, certamente começaremos a espalhar uma onda de mais paz no mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...