24 de janeiro de 2016

FORMAS REFINADAS DE VIOLÊNCIA

A violência está em todos os segmentos sociais e se apresenta das formas mais diversas, não só na agressão física, como também, tornou-se comum falar mal de pessoas que supostamente dizemos querer bem, somos intolerantes com aqueles que nos olham com admiração, negamos o direito de defesa à pessoa que sofre de acusações espúria e maledicente. Na maioria das vezes esse tipo de violência é maior que a mostrada pelos meios de comunicação. Surpreendentemente, ela começa no seio da família, a nossa primeira convivência social, ela vem sorrateiramente de forma velada e devagarzinho vai machucando e anestesiando ao mesmo tempo em que fere. A família que teoricamente seria nosso primeiro objeto de amor, se a gente não cuidar rapidamente dela, mais algumas décadas seguramente será extinta. É perceptível que as famílias se amam eventualmente e se traem sistematicamente. Fala-se de um amor em família que quase nunca se vê na pratica.

Posso assegurar que a história da criança e da família caminha lado a lado na questão da violência. Para muitos ainda hoje, bater é sinônimo de educar. As grandes guerras e as perseguições no mundo foram feitas em nome de Deus e da Pátria. Não são as igrejas e nem os bons costumes que perseguem as pessoas. São pessoas perseguindo pessoas. A qualquer momento alguém poderá ser denunciado ou chantageado, assim como acusar e ser acusado. Conheço pessoas que foram vitimas de abusos físicos e psíquicos na infância e hoje se sente indiferente a tudo e a todos. São incapazes de estabelecer relações de amor sem ferir o outro. São pessoas egoístas e manipuladoras. Diz-se sofrer muito por não saber dar e receber amor e se sente impotente diante da vida. Não confiam em ninguém, no fundo não confiam nelas mesmas.

Vivemos cercados de inimigos, porque as pessoas se vigiam muito, se controlam muito, fazem fofocas umas das outras. Todo mundo vive jogando os maus sentimentos e o próprio veneno encima do outro. Sempre é o outro que não presta que faz corrupção, outro que é o indecente, o mau caráter, o traidor, é o outro que não me ama. As pessoas de modo geral, não percebem o que estão vendo, pois se preocupam demais, com aquilo que não estão vendo. A história da humanidade é um martírio e uma tortura para muitos. Até na arte é mostrado o sofrimento humano. Uma grande porcentagem das músicas românticas refere-se ao amor como sofrência, sobretudo, à infidelidade, e a todas as dificuldades que os costumes sociais impõem ao amor.

Por outro lado, temos uma geração de classes e hierarquias sociais em permanente relação de medo e raiva umas frente às outras. Estou convencido que por trás desse suposto amor há um ódio espantoso dominando o mundo, basta dar uma olhada na história. A começar pelos circos romanos que foram o retrato desse ódio e poder, onde centenas de pessoas se matavam ou eram mortas, para a diversão do público. Pessoas divertindo-se, vendo gente matar gente, de todos os jeitos. Hoje nós dizemos que horror! E esquecemos que os nossos políticos fazem hoje, exatamente a mesma coisa que faziam os circos romanos. Pessoas morrendo de todos os jeitos na arena da vida, onde a plateia são os governantes corruptos que administram este circo chamado Brasil.

Portanto, vivemos procurando sempre um culpado para explicar a nossa crueldade. Isto acontece muito nas relações afetivas e amorosas. No entanto, foi assim que nasceu o bode expiatório, a mais nefasta criação simbólica da violência humana. Jesus Cristo foi o bode expiatório nas mãos da humanidade. Ainda hoje se prega o amor nas comunidades religiosas, mas na prática permeia o egoísmo e a falta desse amor e respeito ao próximo. Contudo, são estas formas refinadas de violência que estiveram e estão presente no nosso mundo. Todos vigiando a todos. Todos ameaçando a todos. Logo, vive cada um caçando a todos. E vivem todos caçando a cada um. Enfim, um dos enigmas da humanidade é que a vida real das pessoas não é flor que se cheira. Basta ler os noticiários para constatar o que estou dizendo. 

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