No livro: “Ensaio Sobre a Cegueira” o autor nos leva
a uma viagem imaginária fazendo pensar na possibilidade de que todos estão
cegos. José Saramago (1922-2010), nos da uma imagem aterradora e comovente de
tempos sombrios fazendo a seguinte pergunta: “E se todos nós fossemos cegos?” Não só somos cegos, como estamos
realmente cegos. Cegos das nossas próprias leis, cegos da razão, cegos da
sensibilidade, cegos de tudo aquilo que nos leva a ser egoístas, cegos da nossa
violência, contudo, nos afastamos da nossa verdadeira essência humana, gerando
desigualdade social, discórdias e tirania entre as pessoas. Este é o espetáculo
que o mundo nos oferece hoje. Um mundo de sofrimento e de enorme exclusão
social. Sem justificativa e o pior com explicação. Podemos explicar tudo o que
se passa, mas, não justifica. Além da nossa cegueira, voltamos à caverna de
Platão onde só vemos sombras.
Na parábola de Platão
(427-347 a.C.) sobre o “Mito da Caverna”, nos mostra um retrato forte de como a filosofia funciona na
vida cotidiana das pessoas. O papel da filosofia hoje é devolver ao ser humano
a consciência que há muito tempo ele deixou de lado. Como nos faz lembrar o
escritor José Saramago, da responsabilidade de ter olhos quando os outros os
perderam. Temos aqui uma imagem preocupante com os rumos que vão tomar a
sociedade do século XXI, impondo-se uma realidade sombria e um futuro
catastrófico. Cruzamos o limiar de nossa sanidade mental, aonde chegou num
ponto que nos obriga a parar. Precisamos urgente recuperar a lucidez, resgatar
os afetos diante da pressão do tempo e do que se perdeu. Hoje vivemos uma coisa
que não tem nome, essa coisa é o que somos.
Nunca vivemos tanto na
Caverna de Platão como hoje. Estamos realmente mergulhados e aprisionados na
caverna das ilusões e da indiferença. Porque as próprias imagens que nos
mostram a realidade, de tal maneira que substitui a própria realidade. Nós
estamos num mundo de imagens, num mundo audiovisual. Efetivamente, estamos a
repetir a imagem das pessoas aprisionadas na caverna, olhando em frente e vendo
sombras e acreditando que essas sombras são a realidade. Foi preciso que
passasse todos esses séculos para que a Caverna de Platão, finalmente voltasse
a aparecer neste momento na história da humanidade e vai continuar presente
cada vez mais neste mundo, chamado de globalização econômica. Somos engolidos e
arrastados por um pensamento único. Platão acha que a maioria das pessoas
cresce e fica satisfeita com a visão que adquiriram das coisas e não gostam
quando as forçam a pensar sobre elas. Mas, um dia alguém as faz pensar e a
olhar para o outro lado.
Entretanto, tudo se discute neste mundo, menos uma única coisa, a
democracia. E a democracia está aí como se fosse uma espécie de santa no altar,
de quem esperamos um milagre. Mas que está aí como uma referência e ninguém
percebeu que a democracia que vivemos é uma democracia sequestrada,
condicionada e amputada. Porque o poder das pessoas, limita-se na esfera
política de tirar um governo que não gosta e colocar outro que presumivelmente
venha a gostar. Todavia, as decisões políticas são tomadas numa outra esfera,
fora do alcance do povo. Nenhuma política é democrática e como podemos
continuar a falar em democracia se aqueles que governam o mundo, não são
legitimamente democráticos? Então, onde está a democracia?
Na verdade, as pessoas não conversam mais, nem nas redes sociais.
Ninguém está a fim de ouvir o outro. Isto as distância da convivência democrática
com o seu semelhante, enfraquecendo e deformando na sua originalidade humana.
Cada um conta o seu problema e não escuta o outro. Nós vivemos do pensamento
dos outros, a começar pela política, economia, mídia e a educação que não
ensina. De certo modo, vivemos presos às ideologias vigentes a certos
preconceitos. Estão todos falando sozinhos de suas coisas, meio que informando
o outro sobre o que fez ou vai fazer. Parecem tomados por uma cegueira crônica.
Não vemos o que vemos, vemos o que somos. Essa deficiência de leitura é que
alimenta a ignorância planetária e coloca o ser humano de volta a Caverna de
Platão. Porque, os verdadeiros analfabetos são aqueles que aprenderam a ler e
não leem.
Portanto, a única saída para uma nova sociedade, será através da
educação e pela busca constante do conhecimento. Só o pensamento é capaz de
provocar mudanças significativas no interior da caverna. Como aconteceu no
filme “Vida de Inseto” de Walt Disney
1998, bastou uma formiguinha “pensar
diferente”, para causar uma revolução no interior do formigueiro.
Contudo, há um número cada vez maior de cavernas por nós edificadas, por falta
de lucidez em que nos fechamos num mundo de sombras, acreditando que isso possa
ser a realidade. Para muitos permanecer no interior da caverna seja cômodo,
confortável e seguro. Como diz um proverbio latino: “se és feliz com a ignorância é loucura tornar-se sábio”.
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