3 de abril de 2015

VOLTAMOS À CAVERNA DE PLATÃO

No livro: “Ensaio Sobre a Cegueira” o autor nos leva a uma viagem imaginária fazendo pensar na possibilidade de que todos estão cegos. José Saramago (1922-2010), nos da uma imagem aterradora e comovente de tempos sombrios fazendo a seguinte pergunta: “E se todos nós fossemos cegos?” Não só somos cegos, como estamos realmente cegos. Cegos das nossas próprias leis, cegos da razão, cegos da sensibilidade, cegos de tudo aquilo que nos leva a ser egoístas, cegos da nossa violência, contudo, nos afastamos da nossa verdadeira essência humana, gerando desigualdade social, discórdias e tirania entre as pessoas. Este é o espetáculo que o mundo nos oferece hoje. Um mundo de sofrimento e de enorme exclusão social. Sem justificativa e o pior com explicação. Podemos explicar tudo o que se passa, mas, não justifica. Além da nossa cegueira, voltamos à caverna de Platão onde só vemos sombras.

Na parábola de Platão (427-347 a.C.) sobre o “Mito da Caverna”, nos mostra um retrato forte de como a filosofia funciona na vida cotidiana das pessoas. O papel da filosofia hoje é devolver ao ser humano a consciência que há muito tempo ele deixou de lado. Como nos faz lembrar o escritor José Saramago, da responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam. Temos aqui uma imagem preocupante com os rumos que vão tomar a sociedade do século XXI, impondo-se uma realidade sombria e um futuro catastrófico. Cruzamos o limiar de nossa sanidade mental, aonde chegou num ponto que nos obriga a parar. Precisamos urgente recuperar a lucidez, resgatar os afetos diante da pressão do tempo e do que se perdeu. Hoje vivemos uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos.

Nunca vivemos tanto na Caverna de Platão como hoje. Estamos realmente mergulhados e aprisionados na caverna das ilusões e da indiferença. Porque as próprias imagens que nos mostram a realidade, de tal maneira que substitui a própria realidade. Nós estamos num mundo de imagens, num mundo audiovisual. Efetivamente, estamos a repetir a imagem das pessoas aprisionadas na caverna, olhando em frente e vendo sombras e acreditando que essas sombras são a realidade. Foi preciso que passasse todos esses séculos para que a Caverna de Platão, finalmente voltasse a aparecer neste momento na história da humanidade e vai continuar presente cada vez mais neste mundo, chamado de globalização econômica. Somos engolidos e arrastados por um pensamento único. Platão acha que a maioria das pessoas cresce e fica satisfeita com a visão que adquiriram das coisas e não gostam quando as forçam a pensar sobre elas. Mas, um dia alguém as faz pensar e a olhar para o outro lado.

Entretanto, tudo se discute neste mundo, menos uma única coisa, a democracia. E a democracia está aí como se fosse uma espécie de santa no altar, de quem esperamos um milagre. Mas que está aí como uma referência e ninguém percebeu que a democracia que vivemos é uma democracia sequestrada, condicionada e amputada. Porque o poder das pessoas, limita-se na esfera política de tirar um governo que não gosta e colocar outro que presumivelmente venha a gostar. Todavia, as decisões políticas são tomadas numa outra esfera, fora do alcance do povo. Nenhuma política é democrática e como podemos continuar a falar em democracia se aqueles que governam o mundo, não são legitimamente democráticos? Então, onde está a democracia?

Na verdade, as pessoas não conversam mais, nem nas redes sociais. Ninguém está a fim de ouvir o outro. Isto as distância da convivência democrática com o seu semelhante, enfraquecendo e deformando na sua originalidade humana. Cada um conta o seu problema e não escuta o outro. Nós vivemos do pensamento dos outros, a começar pela política, economia, mídia e a educação que não ensina. De certo modo, vivemos presos às ideologias vigentes a certos preconceitos. Estão todos falando sozinhos de suas coisas, meio que informando o outro sobre o que fez ou vai fazer. Parecem tomados por uma cegueira crônica. Não vemos o que vemos, vemos o que somos. Essa deficiência de leitura é que alimenta a ignorância planetária e coloca o ser humano de volta a Caverna de Platão. Porque, os verdadeiros analfabetos são aqueles que aprenderam a ler e não leem.

Portanto, a única saída para uma nova sociedade, será através da educação e pela busca constante do conhecimento. Só o pensamento é capaz de provocar mudanças significativas no interior da caverna. Como aconteceu no filme “Vida de Inseto” de Walt Disney 1998, bastou uma formiguinha “pensar diferente”, para causar uma revolução no interior do formigueiro. Contudo, há um número cada vez maior de cavernas por nós edificadas, por falta de lucidez em que nos fechamos num mundo de sombras, acreditando que isso possa ser a realidade. Para muitos permanecer no interior da caverna seja cômodo, confortável e seguro. Como diz um proverbio latino: “se és feliz com a ignorância é loucura tornar-se sábio”.

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